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O Cayenne deveria ser tão satisfatório na estrada como todo Porsche e, além disso, igualmente eficaz fora dela. Entre 2006 e 2008, no Rally Transsyberia, uma fatigante competição de longa distância, ficou definitivamente demonstrada sua capacidade para suportar o castigo nas condições mais duras.

Tudo começou em 2006, na terceira edição do Rally Transsyberia, com uma dupla de Cayenne S. O engenheiro da Porsche Jürgen Kern e seu copiloto russo, assim como outra equipe privada germano-espanhola, foram os primeiros entre 28 equipes depois de uma dura prova de mais de 10.000 quilômetros de Berlin, passando por Moscou, Novosibirsk, Mongólia, Irkutsk e o lago Baikal. Para essa competição, Kern, que havia trabalhado no desenvolvimento do primeiro Cayenne, e seus colegas, realizaram pequenos ajustes nas duas unidades de série. Tinham opcionais de fábrica, como a suspensão pneumática e um conjunto de elementos que incluía barras estabilizadoras e diferencial com bloqueio. Acrescentaram robustos pneus todo-terreno, um revestimento completo da parte inferior, um filtro de ar tipo snorkel com a entrada ao nível do teto, um guincho e quatro faróis auxiliares.

A eficácia dos dois Cayenne S quase de série nas provas de navegação por terrenos desconhecidos, nas condições extremas fora de estrada e na água do deserto de Gobi, assim como nos trechos cronometrados em pistas de terra na Mongólia, enviou uma mensagem clara à direção da Porsche. Como resultado, o fabricante de Zuffenhausen ampliou seu programa de competição para clientes, ao incluir uma série limitada exclusiva de 26 unidades Cayenne S Transsyberia. Este esportivo crossover foi desenvolvido a partir do Cayenne S e foi otimizado especificamente para a participação em rallys de longa distância. As equipes privadas iam utilizá-lo para enfrentar o Transsyberia de 2007, de 6.200 quilômetros, de Moscou através da Rússia até Ulan Bator, na Mongólia.

“Todas as equipes funcionavam de forma independente, com o serviço de manutenção organizado pela Porsche”, lembra Jürgen Kern, cujas responsabilidades incluíam ocupar-se daqueles que não alcançavam a linha de chegada. “Um dos carros aterrissou sem controle após um salto de 20 metros e capotou várias vezes. A força do impacto arrancou o motor e o separou da transmissão”. O condutor e o passageiro saíram ilesos graças à robusta carroceria do Cayenne de série e seus reforçados pilares A e B de aço de alta resistência, além da jaula de segurança com a qual estava equipado o Transsyberia e que era firmemente aparafusada no habitáculo.

Profundidade de 75 centímetros para superfícies alagadas

Além das barras de segurança, os 26 Cayenne de rally tinham powertrains mais curtos para melhorar a aceleração. Também foram adicionados reforços na parte inferior da carroceria e um bloqueio do diferencial, que estava disponível opcionalmente para os veículos de produção como parte do pacote off-road. A carroceria e as portas eram vedadas para evitar a entrada de água até o nível das janelas laterais, o que permitia circular a uma profundidade de cerca de 75 centímetros no ajuste High Level II da suspensão pneumática. A entrada de ar para o motor era realizada através de um snorkel situado no teto. Os trapézios dianteiros reforçados aumentavam 34 milímetros a largura das bitolas. As rodas de 18 polegadas eram calçadas com pneus especiais de todo-terreno 255/55 R18T, homologados para uma velocidade máxima reduzida a 190 km/h. No entanto, devido a seus desenvolvimentos mais curtos, o Cayenne S Transsyberia não chegava a essa velocidade.

O Cayenne de rally se beneficiou da primeira atualização do modelo de base. O motor aspirado de 4.8 litros, sem mudanças para a competição, tinha agora 385 cv de potência em lugar de 340 cv, e o torque máximo havia aumentado de 420 para 500 Nm. O motor V8 revisado inclusive consumia menos combustível. Também foi implementado no chassi o Porsche Dynamic Chassis Control (PDCC). Esta tecnologia antirolagem não só facilitava que o grande SUV fizesse curvas com maior segurança e aderência à estrada, mas também aumentava a capacidade para transitar sobre terrenos acidentados. Com sua perfeita base técnica e seus eficientes complementos, o Cayenne voltou a triunfar no Rally Transsyberia 2007 e superou amplamente a concorrência: três Porsche subiram no pódio. No total, os Cayenne ocuparam 7 dos 10 primeiros lugares.

Após este sucesso, as qualidades de todo-terreno do Cayenne foram tão evidentes como sua confiabilidade e sua qualidade: “Os veículos sobreviveram bem ao rally, inclusive a maioria deles foram utilizados para disputar o Transsyberia uma segunda vez”, comenta Jürgen Kern. Em 2008, 19 equipes voltaram a participar com os mesmos veículos. “Não fabricamos nenhum carro novo para isso e nem sequer alteramos o chassi”, lembra Kern. A única inovação foi um pneu todo-terreno ainda mais robusto para as longas pistas de terra que havia na Rússia e Mongólia. O triunfo do ano anterior foi superado desta vez após mais de 7.000 quilômetros completados entre Moscou e Ulan Bator: dos 10 primeiros, apenas o sétimo classificado não foi um Cayenne S Transsyberia. Isso demonstrou de una vez por todas o potencial dentro e fora da estrada do Cayenne.

Versão especial para uso diário

Em 2009, a Porsche celebrou o sucesso do Cayenne S Transsyberia com uma edição especial homologada para estrada. Era equipada com o motor aspirado do Cayenne GTS lançado em 2007, cujo V8 alcançava 405 cv. A edição especial também era equipada com o powertrain do GTS, reduzido em cerca de 15%. Com a transmissão manual de 6 velocidades, a edição especial Transsyberia acelerava de 0 a 100 km/h em menos de 6.1 segundos, meio segundo mais rápido que o Cayenne S normal. Para esta edição limitada foi implementada de série a suspensão pneumática, junto com o Porsche Active Suspension Management (PASM), o que lhe proporcionava uma altura livre ao solo de 271 milímetros no nível High Level II, mas só até uma velocidade de 60 km/h, ao contrário da versão de rally.

Visualmente, a edição especial se parecia muito aos carros de competição, sobretudo por suas características cores. Além das conhecidas combinações preto/laranja e prata Crystal metalizado/laranja, também estavam disponíveis as versões preto/cinza Meteor metalizado e cinza Meteor metalizado/prata Crystal. Os detalhes na cor de contraste completavam o caráter exclusivo da edição especial Transsyberia, tanto no exterior como no interior. Embora não fosse uma série tão escassa como os 26 veículos de rally para clientes, só foram construídas 285 unidades.