Notícias

Em um dia que misturou euforia tecnológica e decepção financeira, a casa italiana ergueu o véu sobre sua primeira Ferrari totalmente elétrica, batizada de Elettrica, durante o Capital Markets Day realizado ontem na sede histórica de Maranello, Itália. O anúncio, que marca o ingresso definitivo da marca do Cavallino Rampante no mundo dos veículos zero emissões, revela um supercarro com quatro motores elétricos - um em cada roda - entregando mais de 1.000 cv de potência, aceleração de 0 a 100 km/h em menos de 2.5 segundos e velocidade máxima de 310 km/h. Com entregas previstas para o final de 2026, o Elettrica não é apenas uma transição forçada pela era verde: é uma declaração de que a emoção de dirigir uma Ferrari transcende o ronco de um motor a combustão.

O evento, liderado pelo CEO Benedetto Vigna, veio em meio a uma atualização estratégica para 2030 que deixou os investidores com o pé atrás. A montadora revisou para baixo suas metas de vendas de EVs, prevendo que apenas 20% de sua linha de esportivos será elétrica até lá - contra 40% para motores a combustão interna e 40% híbridos. As ações da Ferrari despencaram mais de 15% na Bolsa de Milão, fechando o dia em queda de 16.1%, o pior desempenho desde sua listagem em 2016. “Estamos comprometidos com a inovação, mas sem pressa: a Elettrica é para os puristas que exigem performance autêntica”, afirmou Vigna, destacando que o modelo será um dos seis lançamentos de 2025, incluindo o 12Cilindri Spider e variantes limitadas da F296.

Tecnologia de Ponta: Quatro Motores e Suspensão Revolucionária

O coração da Elettrica é um powertrain 100% desenvolvido in-house: quatro motores elétricos independentes, posicionados nas rodas, que não só eliminam perdas de transmissão, mas permitem vetorização de torque precisa para curvas afiadas e drifts controlados. Com mais de 1.000 cv no total, o sistema promete uma entrega de potência instantânea, sem o delay de uma caixa de câmbio tradicional. A bateria, ainda não detalhada em capacidade exata, garante autonomia mínima de 530 km (pelo ciclo WLTP), com recarga rápida projetada para sessões de pista sem comprometer o prazer de pilotagem.

No chassi, a Ferrari inovou com um subframe traseiro inédito - uma solução para isolar vibrações da bateria, já que o silêncio elétrico não mascara ruídos como um V12 faria. A suspensão ativa de terceira geração, co-desenvolvida com a Multimatic, usa atuadores hidráulicos controlados eletronicamente, ajustados 100 vezes por segundo via um motor elétrico central. No eixo traseiro, atuadores independentes substituem links de toe, permitindo esterçamento de até 2.15 graus para estabilidade em alta velocidade. “É uma Ferrari: leve, ágil e visceral, mesmo sem escapamento”, comentou um engenheiro da marca, prevendo que o modelo supere os 1.2 g de frenagem em testes de emergência, rivalizando com o Purosangue.

Visualmente, espiões fotográficos sugerem um design que borra as linhas entre GT e SUV compacto - possivelmente um crossover de quatro portas, com faróis inspirados no Roma e proporções mais práticas para atrair uma nova geração de clientes. O interior, ainda sob sigilo, deve incorporar “assinaturas sonoras” sintéticas para evocar o legado emocional da marca, como ruídos de exaustão simulados para “agitarem as emoções”, segundo Vigna. Produzido no novo e-Building inaugurado em 2023, o Elettrica será exclusivo: listas de espera já formadas, com preços estimados acima de 500 mil euros.

Estratégia Conservadora: EVs como Complemento, Não Substituição

O lançamento ocorre em um contexto de mercado volátil para elétricos de luxo, onde rivais como Rimac e Porsche Taycan enfrentam críticas por ‘falta de alma’. A Ferrari, com 90 mil clientes ativos - um salto de 20% desde 2022 -, aposta na diversificação: faturamento projetado de 7.1 bilhões de euros em 2025 (alta de 1.4% ante estimativas anteriores) e 9 bilhões de euros em 2030, com EBITDA de 3.6 bilhões de euros. Mas analistas da JPMorgan veem otimismo: “A Elettrica atrairá colecionadores jovens, enquanto híbridos como o SF90 mantêm os puristas fiéis.

“Apesar da queda nas ações, o anúncio reforça o compromisso da Ferrari com a eletrificação gradual - um ‘laboratório sobre rodas’ que pavimenta o caminho para futuros EVs, incluindo o E-Cells Lab para avanços em baterias. Em um setor pressionado por regulamentações europeias, a Elettrica prova que Maranello não sacrifica o DNA italiano: performance bruta, design atemporal e o thrill de uma vitória em Monza, agora em silêncio elétrico. Resta saber se os fãs aceitarão o silêncio como o novo rugido - ou se ele ecoará como o mais alto de todos.