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O Honda S600 foi um dos marcos mais brilhantes da engenharia japonesa dos anos 1960. Um esportivo diminuto, mas de alma gigante, que mostrou ao mundo que a Honda podia competir com os europeus no quesito emoção ao volante.

No início da década de 1960, o Japão vivia um renascimento industrial sem precedentes. A nação reconstruída após a guerra agora mirava o futuro com ousadia, e nenhuma empresa simbolizava melhor esse espírito do que a Honda Motor Company. Fundada em 1948 por Soichiro Honda e Takeo Fujisawa, a marca havia se tornado sinônimo de inovação e performance no mundo das motocicletas - mas seu fundador sonhava mais alto. Ele queria provar que o Japão podia construir carros esportivos capazes de emocionar tanto quanto os europeus.

Após os experimentais S360 e S500, em 1964 a Honda apresentou o modelo que consolidaria sua entrada definitiva no universo automotivo: o Honda S600, um esportivo leve, elegante e tecnicamente surpreendente. Disponível nas versões Roadster e Coupé, o S600 foi o primeiro carro da marca produzido em larga escala e o primeiro a ser exportado oficialmente, abrindo caminho para o prestígio global do fabricante japonês.

Visualmente, o S600 encantava pela harmonia de suas proporções. O Roadster tinha linhas suaves e equilibradas, capota de lona e aparência leve - quase artesanal. Já o Coupé, com sua carroceria fechada e traseira levemente inclinada, evocava os pequenos GTs europeus da época, como os MG e Austin-Healey. O conjunto era compacto, com pouco mais de 3.3 metros de comprimento, mas carregava em cada detalhe o cuidado e a precisão típicos da engenharia japonesa nascente.

Sob o capô vivia o coração do S600: um motor de 4 cilindros em linha e 606 cm³, com duplo comando de válvulas no cabeçote e quatro carburadores - um por cilindro. O pequeno propulsor girava até 9.500 rpm e entregava 57 cv de potência, números que, em relação ao peso total do carro (cerca de 715 kg), resultavam em um desempenho ágil e entusiasmante. O som metálico e agudo, típico dos motores de alta rotação da Honda, se tornaria uma das marcas registradas da empresa nas décadas seguintes.

Outro destaque técnico era a transmissão de 4 velocidades e o sistema de tração por eixos com corrente, inspirado nas motocicletas da marca - uma solução engenhosa e inusitada que contribuía para a leveza e eficiência do conjunto. A suspensão independente nas quatro rodas, raridade em carros pequenos da época, garantia comportamento preciso e prazer de condução.

O S600 foi o primeiro automóvel da Honda a conquistar o público internacional, especialmente na Europa e nos Estados Unidos. Seu charme estava na combinação irresistível de design delicado, engenharia refinada e espírito esportivo genuíno - qualidades que encantaram uma geração de jovens condutores e projetaram o Japão no mapa da excelência automotiva.

Mais do que um simples esportivo, o Honda S600 foi o símbolo de uma virada cultural: a prova de que tecnologia, paixão e criatividade podiam caber em um carro pequeno. Ele pavimentou o caminho para modelos icônicos como o S800, o CR-X e, décadas depois, o S2000 - todos herdeiros diretos de sua filosofia.

Apenas como curiosidade, o S600 foi um dos primeiros carros japoneses a ser vendido oficialmente na Europa continental, onde ficou conhecido como ‘o pequeno Ferrari japonês’. Sua capacidade de atingir 160 km/h com um motor de apenas 600 cm³ impressionava críticos e entusiastas, tornando-o um dos esportivos mais admirados de sua geração - e um dos primeiros a mostrar que a emoção também podia ser compacta.