Notícias

Nos anos 1930, o Reino Unido vivia uma fase de ouro em sua indústria automobilística. Era o tempo dos grandes fabricantes artesanais, das corridas em Brooklands e do refinamento aliado à performance. Nesse cenário competitivo, um nome surgiu com ousadia e ambição: Invicta - marca fundada em 1925 por Noel Macklin e Oliver Lyle, com o propósito de criar automóveis que combinassem luxo, confiabilidade e velocidade, em doses igualmente generosas.

O Invicta S Type, lançado em 1930, tornou-se o ápice dessa filosofia. Sua construção refletia um cuidado quase obsessivo com qualidade e durabilidade, algo que o próprio slogan da marca - “The car for the discerning few” - deixava bem claro. O chassi de aço de seção larga, o baixo centro de gravidade e a carroceria fluida e musculosa eram indícios de que este não era apenas mais um carro elegante: era uma máquina pensada para o prazer de dirigir.

Sob o longo capô, batia um coração de 6 cilindros em linha de 4.5 litros, fornecido pela Meadows, capaz de gerar cerca de 120 cv - números impressionantes para a época. A transmissão manual de 4 velocidades e o torque abundante garantiam uma performance invejável: o S Type podia atingir velocidades acima de 160 km/h, rivalizando com gigantes como Bentley e Lagonda, mas com peso significativamente menor.

O design do Sport Tourer, assinado pela Carrosserie Carbodies, unia elegância e propósito. O capô comprido e a traseira curta eram típicos dos roadsters de competição, enquanto o interior exalava sofisticação: bancos em couro costurado à mão, instrumentos Smiths de precisão e acabamentos em madeira polida. Cada detalhe parecia pensado para transmitir a mistura perfeita de potência e distinção que caracterizava a marca.

Mais do que um automóvel de estrada, o Invicta S Type provou sua robustez nas pistas e em longas provas de resistência. Um dos feitos mais notáveis ocorreu quando a piloto Violette Cordery, cunhada de Macklin, completou 10 mil milhas em 10 dias no circuito de Brooklands, demonstrando a confiabilidade impressionante dos modelos Invicta.

Com o advento da Segunda Guerra Mundial, porém, o destino da marca mudaria. A produção foi interrompida e, apesar de algumas tentativas de renascimento nas décadas seguintes, o nome Invicta nunca mais recuperou o brilho dos anos 1930. O S Type Sport Tourer, produzido em número limitado, permaneceu como a mais pura expressão do espírito da marca - um equilíbrio magistral entre força e refinamento.

Hoje, poucos exemplares sobrevivem, cuidadosamente preservados em coleções particulares e museus. Valorizados por sua engenharia avançada e beleza atemporal, são testemunhos de uma época em que o automóvel britânico ainda era sinônimo de elegância esportiva e orgulho nacional.

Curiosamente, o renascimento moderno da Invicta nos anos 2000 - com o S1 Coupé, um superesportivo de motor V8 - tentou reviver esse mesmo DNA: potência, exclusividade e um toque artesanal. Mas nenhum deles conseguiu capturar a mesma aura que o S Type Sport Tourer deixou nas estradas da Inglaterra pré-guerra.

O Invicta S Type é, em essência, um carro de cavalheiros - não o que busca luxo excessivo, mas aquele que entende que elegância verdadeira vem do equilíbrio entre forma, função e performance.