1976 - PORSCHE 912 E PROTOTYPE

O 912 E, baseado no 911 da série G, só esteve à venda nos Estados Unidos e durante um ano: 1976. Esta é a história do primeiro protótipo desse modelo, a unidade número 0 das 2.099 que foram produzidas.
Amarelo claro, código Porsche B6B6/117. Esta cor lembra o verão, e em 1974 normalmente teria sido aplicada em um Porsche 911 S com um motor 2.7 de 6 cilindros e 175 cv de potência, com o qual alcançaria 225 km/h de velocidade máxima. Mas neste caso não é assim, tem uma história própria e muito especial.
O carro não fez a viagem de Stuttgart-Zuffenhausen ao porto de Emden e depois a New York, como qualquer outro modelo de produção destinado aos Estados Unidos. Esta unidade, também fabricada com especificações para aquele mercado, foi retirada da linha de montagem sem motor, transmissão, tanque de óleo e bomba de combustível. Seu destino, o Centro de Desenvolvimento de Weissach. Tornou-se assim um veículo de testes e, provavelmente, o primeiro protótipo do 912 E que podia ser conduzido. Uma peça que ilustra uma página na história da Porsche no capítulo dedicado ao 912.
Essa história começa muito antes, em 1971, quando foi considerado o projeto de criar uma nova geração do 912 para comercializá-lo internacionalmente, inclusive na Europa. A partir de 1972, foi discutida a possibilidade do desenvolvimento desse novo 912. O projeto se baseava no 911 série F, o antecessor do série G, mas não passou da fase de protótipo. A rede de concessionários dos Estados Unidos não estava interessada inicialmente neste 912, porque o 914 já tinha êxito como modelo de entrada e não competia com o 911. Um 912 barato provavelmente roubaria alguns clientes do 911. No entanto, em 1974, foi tomada a decisão de desenvolver o 912 E, então já baseado no 911 da série G. A razão para produzi-lo foi que, em 1976, deixaria de ser fabricado o Porsche 914, e seu sucessor, o Porsche 924, ainda não estaria pronto para a venda nos Estados Unidos. Portanto, o 912 E só seria vendido nesse mercado.
Aqui é onde entra em jogo o protótipo 912 E amarelo claro. Rodou um total de 95.471 quilômetros em estrada e em bancos de provas. A Porsche não só havia melhorado o motor com uma injeção L-Jetronic da Bosch, como também havia equipado o carro com injeção de ar secundário e tratamento térmico dos gases para reduzir as emissões de monóxido de carbono e hidrocarbonetos sem queimar, assim como um sistema de recirculação para produzir menos óxidos de nitrogênio. Tudo isso tinha o propósito de garantir o cumprimento das normas de emissões americanas. No dia 30 de julho de 1975, a Porsche recebeu o Certificado de Conformidade com o ‘Clean Air Act’ (Lei de Ar Limpo) do Estado da Califórnia, a confirmação de que o 912 E cumpria com os limites de emissões legalmente prescritos.
Um ano depois, o protótipo 912 E foi aposentado do serviço. Foi trocado o seu motor e foi vendido a um comprador privado de Leonberg, graças à intermediação de Helmuth Bott, então Diretor de Desenvolvimento da Porsche. O carro permaneceu em sua família durante 29 anos até que, em 2005, foi adquirido pelo Automuseum Prototyp de Hamburgo, um museu de protótipos de automóveis.
Foi lá que foi descoberto por Jan Adams, um caçador de seletos tesouros automobilísticos, especialista e apaixonado que conhece tanto da tecnologia dos carros como da sua história. Ele restaura e repara, atua como intermediário, compra, vende e coleciona. É especializado em modelos clássicos da Porsche e da Volkswagen, mas também soube encontrar, por exemplo, um Lancia Delta Integrale e outros modelos exóticos por encomenda de seus clientes.
Chamou a atenção de Adams que na parte traseira daquele modelo havia um boxer de 4 cilindros com 90 cv, o mesmo que o de alguns modelos da Volkswagen ou de um Porsche 914. Quis comprá-lo, ouvir como soava o seu motor e sentir como era a condução. Oliver Schmidt e Thomas König, diretores do museu, aceitaram a proposta.
Semanas depois encontrava-se junto ao seu 912 E, naquele que foi um dos primeiros dias quentes do ano. Sentou no volante e deu a partida no motor, que desenvolvia apenas 137 Nm, mas não perdia o empuxo. Reduzido ao essencial, é um esportivo em seu estado puro, um modelo de tal singularidade que realmente parece ter alma.
Sensações do 356 no 911
O motor boxer de 2.0 litros soa como um Volkswagen, mas como o som de uma van T2 bem regulada ou um 914. A cilindrada de 1.957 cc não proporciona uma força descomunal, mas a resposta não é ruim e é aproveitável graças à transmissão de 5 velocidades instalada. A 4.900 rpm envia sua potência máxima ao eixo traseiro, mas não é necessário chegar a tanto. Assim como muitos velhos carros esportivos, responde melhor ao ser tratado com mais suavidade. Na verdade, se tem a sensação de um 356 em um 911, assim como acontecia na primeira geração do 912 (1965 a 1969), mas neste caso em um 911 série G. Os americanos aceitaram ambas as versões do 912, embora o 912 E (tipo 923) tenha sido comercializado apenas em 1976, com um total de 2.099 unidades.