1988 - WM P88 PEUGEOT

A longa história das 24 Horas de Le Mans, que este ano celebrou sua 86ª edição, nos brinda com momentos incríveis e que muito provavelmente não se repetirão. Estão gravados na memória dos grandes aficionados e guardados nos arquivos desta fantástica corrida. Uma dessas histórias é a do WM P88 Peugeot, o carro que superou os 400 km/h em Le Mans e conseguiu a velocidade máxima no circuito francês até o momento.
A história da equipe WM nasce nos anos 70, quando dois engenheiros da Peugeot decidem montar uma equipe para correr as 24 Horas de Le Mans com um protótipo. Eram Gérard Welter (projetista, entre outros, do Peugeot 205) e Michel Meunier, que com as iniciais de seus sobrenomes davam nome a esta singular equipe. O carro criado faria parte da categoria GTP e a maior parte da equipe era de voluntários.
As equipes amadoras eram uma parte importante do automobilismo esportivo, apesar de seus resultados serem os mais discretos da competição. No entanto, a WM conseguiu surpreendentemente bons registros: embora abandonassem em sua estreia em 1976, acabaram em décimo quinto (segundo no GTP) em 1977, em décimo quarto (e ganhadores no GTP) em 1979 e quarto absoluto em 1980, uma boa participação até a chegada dos veículos do Grupo C no começo dos anos 80, que os deixaram em um segundo plano.
Isso chegou acompanhado de problemas de confiabilidade, vários abandonos e uma contínua decadência. Por isso, após a edição de 1986, Welter e Meunier decidiram apostar em um novo desafio para a WM, chamado ‘Project 400’. Como indica esse número, o objetivo era alcançar os 400 km/h na parte mais rápida do circuito, a reta de Hunaudières, que naquele tempo era muito diferente do que é na atualidade.
Os dois engenheiros começaram a trabalhar em um novo protótipo, o WM P87 Peugeot, que tomava como base o veículo usado até então, mas com reforços estruturais para suportar as altas velocidades e uma aerodinâmica renovada para reduzir a resistência ao vento. Tudo com a ajuda da Peugeot, que permitiu aos seus dois engenheiros usarem o túnel de vento durante quatro meses, quando estivesse parado, basicamente nos finais de semana.
A marca francesa também conseguiu um motor mais potente para o protótipo, um V6 de 2.8 litros biturbo com 850 cv da empresa PRV, formada por Peugeot, Renault e Volvo. Apesar de todos os esforços, o projeto fracassou em uma primeira tentativa por problemas de motor, mesmo atingindo em um teste em uma estrada fechada ao público a velocidade de 416 km/h.
Os integrantes da WM continuaram evoluindo com o veículo até 1988, sem esquecer o objetivo. Agora o motor chegava aos 900 cv de potência e a aerodinâmica era ainda melhor. No entanto, os problemas de confiabilidade voltaram a aparecer na corrida e foi necessário fazer reparações durante horas no box.
Era questão de tempo para que o carro tivesse que voltar às oficinas por problemas, e a equipe era consciente disso, mas não queria se esquecer do recorde. Por isso os mecânicos aumentaram a potência do turbo do WM P88 e pediram ao piloto Roger Doschy, que pisasse fundo no acelerador na reta de Hunaudières. E o recorde chegou durante várias voltas consecutivas. A velocidade máxima foi de 407 km/h.
A WM recompensou o apoio da Peugeot comunicando à empresa que a velocidade máxima marcada havia sido de 405 km/h. Um número de recorde que coincidia com o Carro do Ano na Europa daquela temporada, o então novo Peugeot 405.
A WM voltou a Le Mans em 1989 com dois protótipos, mas um não pôde largar e o outro abandonou. Em 1990 a FIA modificou a reta de Hunaudières e acrescentou duas chicanas, que reduziram a velocidade máxima nesse ponto de forma drástica. Para que se tenha uma ideia, em 2017 a equipe vencedora marcou uma velocidade máxima de 334.9 km/h.
Há somente alguns meses, no final do último mês de janeiro, nos deixou Gérard Welter e em 2007 já havia falecido seu sócio Michel Meunier. Que o vídeo do WM P88 Peugeot em ação sirva como uma homenagem a ambos.