A ALFA ROMEO é uma marca que encantou, e continua deslumbrando, a muitos pelo mundo afora. Existem características que sempre fizeram parte de uma imagem coletiva global da marca: o seu ‘cuore sportivo’ (como diriam os italianos) ou coração esportivo (para nós brasileiros), vitalidade indomável, o som do motor, a elegância das formas e o design puramente italiano. Histórias contam que Henry Ford costumava tirar o seu chapéu cada vez que via um ALFA ROMEO passar, e que no dia que venceu a escuderia italiana, Enzo Ferrari chorou como um bebê. A empresa atravessou um século de uma mítica saga e muitas das suas páginas memoráveis contribuíram para a história dos automóveis.
A empresa teve origem em 1907, quando Cavaliere Ugo Stella, um aristocrata de Milão, e Alexandre Darracq, um fabricante de carros francês, fundaram a empresa ‘Darracq Italiana’, que começou a produzir automóveis Darracq na cidade de Nápoles. Com o fim da parceria em 1910, Stella, com o financiamento de outros investidores italianos, moveu a linha de produção para uma fábrica desativada em Portello, subúrbio industrial de Milão, mudando, no dia 24 de junho, o nome da empresa para A.L.F.A., abreviatura de Anonima Lombarda Fabbrica Automobili. O primeiro carro produzido inteiramente pela nova montadora foi o modelo 24 HP, desenhado por Giuseppe Merosi (tendo este nome devido à potência gerada por seu motor). Posteriormente, Merosi participou do desenvolvimento de novos carros da ALFA, com motores mais potentes, de 40 a 60 HP. A ALFA também se aventurou nas competições automobilísticas, com os pilotos Franchini e Ronzoni participando da Targa Florio de 1911 pilotando modelos 24 HP.
Em 1915, passando por graves problemas financeiros, o engenheiro napolitano Nicola Romeo assumiu sua direção e a converteu numa fábrica bélica para atender as necessidades da Itália e seus aliados durante a Primeira Guerra Mundial. Munição, motores e peças para aviões, geradores e compressores baseados nos motores de carros anteriormente produzidos e até locomotivas foram produzidas pela ALFA durante o tempo que durou o conflito. Com o fim da guerra, Nicola Romeo assumiu o controle total da empresa, e a fabricação de carros foi retomada em 1919. Em 1920 o nome da empresa foi alterado para ALFA ROMEO, e o Torpedo de 20 a 30 HP foi o primeiro carro fabricado sob a nova marca. Giuseppe Merosi continuou como designer-chefe e a empresa prosseguiu fabricando bons automóveis de rua e carros de corrida de sucesso (dentre os quais se destacaram os modelos 40-60 HP e RL Targa Florio).
Em 1923, o então piloto da equipe ALFA ROMEO, Enzo Ferrari, convenceu Vittorio Jano a abandonar a FIAT e substituir Giuseppe Merosi na equipe de design da ALFA ROMEO. O primeiro modelo concebido sob a supervisão de Jano foi o P2 Grand Prix, que deu à escuderia italiana o título mundial de 1925. Para carros de rua, Jano desenvolveu uma série de motores pequenos e médios de 4, 6 e 8 cilindros em linha baseados no motor do P2 que estabeleceram a arquitetura de motores clássica da ALFA ROMEO: construção em liga leve, câmaras de combustão hemisféricas, velas em posição central, duas válvulas em linha por cilindro e câmara de combustão dupla. Tal arquitetura provou-se durável e potente.
Em 1928, os tumultos financeiros da época e o mercado específico e pequeno do fabricante fizeram com que Nicola Romeo fosse afastado da empresa, que acabou sendo comprada por um consórcio de bancos. Em 1934 a ALFA ROMEO sofreu uma intervenção do governo fascista italiano, que passou a ter o controle da empresa. Neste momento a empresa, agora uma estatal, abandonou as competições, surgindo então a Scuderia Ferrari, inicialmente como o braço de competições da ALFA ROMEO (Enzo Ferrari pilotou para a ALFA antes de assumir a chefia da equipe, e logo a seguir passou a produzir seus próprios carros). Foi a equipe de Enzo que humilhou as equipes alemãs (Auto-Union e Mercedes-Benz), vencendo de forma sensacional o Grande Prêmio da Alemanha em 1935. Nesta época a rivalidade ia muito além da rivalidade nas pistas, e a ALFA ROMEO, controlada pelo governo de Mussolini, tinha que rivalizar e se mostrar superior que os nazistas alemães. Com o governo no comando, a montadora passou a produzir em massa servindo os interesses e ambições do fascismo. A Segunda Guerra Mundial gerou outra grave crise para a montadora italiana, destruindo boa parte de suas instalações e praticamente paralisando a produção de veículos.
A empresa teve que recomeçar praticamente do zero e com a Itália bastante destruída, resolveu remodelar sua produção, diminuindo a fabricação de carros luxuosos, e dedicando-se à produção em massa de carros populares. Mas também estabeleceu um novo padrão: além dos carros de produção, iniciou a fabricação de edições limitadas ou modelos exclusivos criados por estilistas famosos. Em 1947, a montadora começou a lançar novos modelos que dispunham dos mais modernos conceitos aerodinâmicos da época. A ALFA ROMEO, que sempre havia feito carros de alta performance e esportivos, teve que se readaptar a nova situação europeia e lançou o modelo 1900 em 1950, desenhado por Orazio Satta e com motor 4 cilindros. Esse novo carro conseguia atender a uma clientela muito exigente e ao mesmo tempo era muito econômico e belo. Logo se tornou conhecido como ‘O carro de família que vence corridas’. Foi o marco divisório entre a produção artesanal e a produção em série.
Nesta década, o sucesso da montadora nas pistas pode ser traduzido nas conquistas dos campeonatos de Fórmula 1 com Nino Farina em 1950, que venceu pilotando uma ALFA ROMEO 158 com compressor; e em 1951, com Juan Manuel Fangio pilotando uma Alfetta 159 (uma evolução do modelo 158, com um compressor de dois estágios). A pesar do sucesso nas competições, a montadora passava por dificuldades financeiras e para continuar disputando a Fórmula 1, haveria a necessidade da construção de um novo carro, pois os atuais tinham chegado ao topo de sua evolução. Neste contexto, a ALFA ROMEO retira-se das pistas.
A década de 60 começou com a construção de uma nova fábrica em Arese, que seria inaugurada três anos mais tarde, em 1963. O primeiro carro produzido foi o Giulia, que vendeu mais de um milhão de unidades, nas suas várias versões. Em 1964 foi criada a Autodelta, sob a direção de Carlo Chiti, responsável pelo desenvolvimento de automóveis de corrida baseados nos modelos dos carros de produção ou desenvolvimento novos modelos. Estes são anos importantes para a ALFA ROMEO, que consolida tanto sua imagem como sua posição comercial. Nesta década a ALFA ROMEO tornou-se famosa por seus carros pequenos e modelos desenhados especialmente para a polícia italiana (Pantere e Carabinieri), dentre eles o glorioso Giulia Super, ou o 2600 Sprint GT, que recebeu o apelido expressivo de ‘Inseguimento’ (por ter sido confundido com o automóvel utilizado pelo famoso agente de polícia, e inigualável motorista, Armandino Spadafora na perseguição a ladrões por uma escada em 1960). Em 1967 o famoso filme ‘A Primeira Noite de um Homem’, protagonizado por Dustin Hoffman deu status de celebridade à Alfa Romeo Spider (também conhecida por suas designações italianas ‘Duetto’ ou ‘Osso di Seppia’, ou ainda ‘round tail’).
Na década de 70 a ALFA ROMEO novamente entrou em crise financeira. O governo então privatizou a montadora. Os anos 80 são marcados pelo declínio na participação esportiva da ALFA ROMEO. Mesmo continuando a participar da Fórmula 1, torna-se uma equipe sem brilho na competição, contrariando seus feitos no passado. Mesmo assim, continuou na categoria máxima do automobilismo até o fim da temporada de 1985. E depois (até 1987) como fornecedora de motores.
Nesta época, em 1986, a ALFA ROMEO foi adquirida pela FIAT, numa manobra para evitar que a americana Ford comprasse o que era considerado um legado italiano. Foi então criado um novo grupo empresarial - Alfa Lancia Spa - que se dedicou desde então à fabricação de carros ALFA ROMEO e LANCIA. Antes de ser comprada pela FIAT, a ALFA ROMEO sempre manteve uma postura ousada no mercado, experimentando novas soluções nas pistas e utilizando-as na produção em série, mesmo com o risco de perdas comerciais. A ALFA ROMEO sempre se caracterizou também pelo estilo controverso e pouco ortodoxo, que por inúmeras vezes levantaram discussões sobre estilo. Sob o comando da FIAT, já no ano seguinte, um dos modelos de maior sucesso da montadora foi introduzido no mercado: o ALFA 164 foi apresentado no Salão de Frankfurt, tendo seu projeto de design assinado pelo renomado estúdio Pininfarina, conferindo ao carro um visual distinto, e ao mesmo tempo agressivo e potente.
Em 1994 a linha ficou completa com o lançamento do modelo 164 Quadrifoglio 4, que combinava o motor 3.0 V6 24V com um sistema sofisticado de tração nas quatro rodas, com controle de tração eletrônico e uma transmissão de 6 velocidades. O novo milênio tem início com um recorde de vendas em 2001, quando a ALFA ROMEO comercializou 213.638 unidades no mundo inteiro. Em janeiro de 2003, a montadora introduziu no mercado a campanha ‘A beleza não basta’, um conceito das entrelinhas da nova estratégia comercial da marca, e expressa na importância da substância além da forma. Afinal, a ALFA ROMEO sempre fora sinônimo de estilo e elegância, mas também de inovação técnica. Nos anos seguintes a montadora introduziu no mercado uma linha de veículos ousados e modernos como o esportivo GT, o coupe BRERA, o conversível SPYDER, o sedan 159, o exclusivo esportivo 8C COMPETIZIONE e mais recentemente o compacto esportivo MiTo.
Em 2010 a mítica marca, verdadeiro orgulho italiano, cuja tecnologia e esportividade foram os principais fatores para seu sucesso, completou 100 anos. E para celebrar seu centenário, a ALFA ROMEO organizou em Milão, cidade do norte da Itália onde tudo começou, diversos eventos: voltas na pista do autódromo de Monza, visitas ao Museu Histórico Alfa Romeo, exposição de velhos modelos em vários lugares da capital econômica da Itália e um grande desfile nas ruas da cidade com milhares de amantes da marca.