
A história da Argyll é a história de um fabricante de automóveis que cresceu sob a direção de um homem, que transformou um posto de gasolina em um gigante automobilístico e uma das fábricas mais prósperas de seu tempo.
Foi um dos três grandes fabricantes de automóveis escoceses da época: Argyll, Albion e Arrol-Johnston.
A Argyll chegou a tornar-se o segundo fabricante de automóveis do mundo, atrás somente da Ford de Detroit.
Alexander Govan trabalhou primeiro em Glasgow e depois em Redditch perto de Birmingham, como capataz na “Eadie Manufacturing Company”, e ali desenvolveu sua fascinação pelos carros.
A empresa havia adquirido vários carros para propósitos experimentais e Govan passou muito tempo trabalhando com eles. Tanto foi assim, que ele decidiu que iria instalar seu próprio negócio de automóveis.
Em 1899 voltou à sua cidade natal, Glasgow (Escócia) e com W Smith, empresário de Glaswegian, instalou um negócio para fabricar automóveis a motor, transformando uma fábrica de bicicletas na rua Hozier em sua fábrica.
Govan começou a vender, fazer manutenção e por último a montar carros com motores de outros fabricantes, especificamente os franceses como De Dion, Renault ou Darracq.
No entanto, Govan tinha planos para produzir seu próprio carro e começou a buscar suporte financeiro para sua ideia. W A Smith, que era da família, aportou um capital de 15.000 libras na época.
A produção da Argyll começou em 1900. O primeiro modelo, lançado em junho deste mesmo ano foi uma voiturette com motor De Dion que se assemelhava muito aos Renault que Govan tinha montado recentemente. O chassi era feito de aço tubular e foram produzidas cerca de 90 unidades a um ritmo de 6 unidades por semana. Posteriormente passou a estar disponível com um novo motor que era acoplado a uma transmissão de 3 velocidades desenhada por Govan.
Em 1901, em uma prova de confiabilidade de 5 dias realizada pelo então Automóvel Club do Reino Unido e Irlanda do Norte, o Argyll foi o único automóvel que terminou a prova sem problemas.
Os carros da Argyll ganharam prestígio e nos anos seguintes a empresa passou a oferecer ao público uma linha mais ampla.
Em 1902, apareceu o motor de 8 cv que rodava a 1.500 rpm.
Em 1903, surgiu no mercado o modelo 12/14 cv de 3 cilindros que vendeu muito bem. A fábrica naquela época produzia cerca de 7 carros por semana.
No final de 1903 foram introduzidos os modelos de 10, 12 e 16 cv, incrementando assim a linha oferecida ao público.
Os êxitos nas corridas aumentaram até que chegou um momento que não tinham rivais entre 1903 e 1904.
Antes de 1904, a fábrica da Rua Hozier trabalhava também no período noturno para poder produzir entre 20 e 25 carros por semana para atender a grande demanda. Apesar disso, os pedidos acumulados já alcançavam as 100.000 libras e deviam ser encontradas soluções de forma imediata.
Em 1905 a preocupação da Argyll em atender as necessidades de produção era tal que foi liquidada a antiga empresa para ser criada uma nova firma, a “Argyll Motors Ltd.”, com um capital de 500.000 libras. O mesmo Govan foi nomeado Diretor da nova empresa. Nesse mesmo tempo foi iniciada a construção de uma nova fábrica em Alexandria, West Dunbartonshire, na Escócia, para poder fazer frente à produção. Argyll já era o quinto maior fabricante de carros do Reino Unido.
Em 1905 dois Argylls se inscreveram nas corridas turísticas do Trophy da ilha de Man e obtiveram grande sucesso.
Alex Govan era um grande defensor dos valores da competição e participava pessoalmente em muitos eventos esportivos quando era possível. Seus sucessos nas competições deram lugar ao lendário departamento de publicidade da Argyll e a seus famosos anúncios na imprensa.
A nova fábrica de Alexandria foi planejada para uma produção de 2.500 unidades por ano. A fábrica era enorme, com uma grande copa, corredores com painéis de madeira e escadas de mármore, custando 220.000 libras. O gasto foi extraordinário devido principalmente à construção de pistas especiais para testes e uma "cidade jardim" para os trabalhadores.
A fábrica foi inaugurada em 26 de junho de 1906. Um trem especial para a cerimônia de inauguração transportou 300 convidados desde Londres. Todos diziam que nunca tinham visto uma fábrica de automóveis tão bem equipada e que inspirava uma grande confiança.
Aquela grande fábrica nunca chegou a ser totalmente utilizada. Na verdade, a nova fábrica era tão custosa para funcionar (cerca 12.000 libras por mês) que somente poderia justificar-se com uma produção muito alta.
Ainda que a produção da Argyll naquela época fosse superada apenas pela Ford de Detroit, nunca chegou a alcançar uma produção suficiente para justificar aquela fábrica e seus custos.
Carros fabricados totalmente a mão, com motores testados em um banco de provas, pintados com 30 ou até 35 mãos de tinta e verniz, e finalmente todos sendo testados, cada um deles durante 150 km, não podiam ser fabricados em série.
Apesar disso, 1906 foi um ano que inspirou confiança com uma produção que superou as 1.000 unidades.
Teve que ser utilizado um trem especial para levar os modelos a Londres. A grande linha de carros, taxis e veículos em general era a maior do mundo com um catálogo da empresa incorporando 100 páginas.
O golpe decisivo veio em junho de 1907, ano em que Alex Govan faleceu aos 38 anos de idade. As informações da época diziam que ele havia morrido por intoxicação depois de ter comido em um restaurante muito conhecido de Glasgow. Mais tarde foi aceito o fato de que Govan havia morrido por outras causas não muito bem esclarecidas.
Quase que imediatamente a fortuna da empresa declinou, e em 1908 as perdas acumuladas já eram de 360.000 libras. A Argyll entrou em liquidação e a fábrica se manteve aberta, mas os 1.500 trabalhadores foram despedidos.
Em 19 de janeiro de 1909 foi constituída uma nova empresa, a “Argylls Ltd.” com um capital de 209.802 libras.
Foi nomeado como Diretor, J. S. Matthew, (fundador da Scottish Tyre Company), e em seu primeiro ano a nova empresa obteve um lucro de 1.600 libras, em parte devido a um pedido de 50 taxis para a cidade de New York.
A linha de modelos de 1910 viu desaparecer definitivamente a transmissão de Govan de três velocidades que foi substituída por uma de quatro. O famoso Argyll 15 foi introduzido neste mesmo ano.
A Argyll foi o primeiro fabricante de automóveis do mundo a utilizar freios nas 4 rodas.
A linha de veículos produzidos foi racionalizada e somente ficaram em linha 5 modelos básicos que iam dos 10 cv até os de 30 cv de seis cilindros.
A produção da fábrica naquela época passou a ser bem menos ambiciosa e somente eram fabricados 450 carros por ano. Consequentemente os custos de manutenção da fábrica de Alexandria pesavam ainda mais na nova empresa.
1911 foi o ano da inovação tecnológica na Argylls, que era o primeiro fabricante de automóveis do mundo que utilizava freios nas quatro rodas. Outro marco importante foi a introdução em seus modelos de novos motores mais modernos.
Esses novos motores foram desenhados por Peter Burt e desenvolvidos pelos engenheiros da Argyll sob a direção de Archibald Niven.
O novo motor foi um acerto, em parte porque a Daimler havia utilizado com sucesso um motor parecido e em parte devido aos êxitos que o motor alcançou nas corridas, o que gerou confiança entre os usuários. Um Argyll equipado com o novo motor cruzou Brooklands em 14 horas a 120 km/h.
O grande motor fez com que a Argyll pudesse conceder licenças a outros fabricantes para produzi-lo fora do Reino Unido.
Os novos carros começavam a vender bem justamente quando em 1914 veio a terceira liquidação e as ações da Argyll despencaram.
O Diretor J.S. Matthew havia deixado a empresa há alguns meses para servir na guerra, mas voltou e se dirigiu aos acionistas pedindo que não deixassem que a empresa entrasse em colapso.
As vendas se levantavam, e os motores desenvolvidos por Matthew propiciaram que a Royal Air Force oferecesse à Argyll um contrato para a fabricação de motores para a aviação. Infelizmente os acionistas estavam demasiado zangados para escutar e discutir o contrato. Inclusive um plano de fusão da Argylls com a francesa Darracq foi bloqueado e a companhia entrou definitivamente em liquidação.
Finalmente, a fábrica de Alexandria foi vendida ao Ministério da Marinha por 153.000 libras.