
Depois de dez anos dedicado a pilotar carros de corridas, em 1929, Enzo Ferrari viu cumprido seu sonho ao fundar a sociedade esportiva “Scuderia Ferrari” (sua própria escuderia), constituída como filial da Alfa Romeo que se dedicava ao projeto, construção e modificação de carros para competição.
Em 1933, os Alfa Romeo começaram a competir sob a insígnia da escuderia Ferrari, que nos primeiros anos da década de 30 já atraía a atenção de grandes pilotos e fanáticos do esporte a motor, pois em sua oficina foram construídos os mais famosos carros de corridas da marca milanesa.
Mas as circunstâncias frearam o crescimento da jovem equipe de corridas. Sob o controle do governo nazista, os carros alemães eram os principais protagonistas e em 1937, Enzo se viu obrigado a vender 80% de sua empresa à Alfa Romeo.
Durante o primeiro ano as coisas começaram a melhorar, até que em 1938 os planos da Alfa Romeo passavam por fazer desaparecer o emblema do cavalinho rampante (distintivo da escuderia Ferrari) dos carros de corrida da Alfa Romeo. Então os carros de Enzo começaram a competir sob o nome da nova equipe esportiva da marca: Alfa Corse.
Enzo foi escolhido para comandar o novo projeto e teve que fechar sua oficina de Módena e mudar-se a Milão. Inicialmente Enzo e seus mecânicos se submeteram à nova estratégia da Alfa Romeo, mas o sonho de Ferrari não era fazer carros que utilizassem um emblema diferente ao de sua escuderia e depois de ter sérias divergências com o Diretor de Projetos da fábrica que naquela época era o prestigiado espanhol Wifredo Ricart, renunciou a seu posto e negociou sua saída para ser independente novamente.
Com o dinheiro de sua recisão de contrato e de sua escuderia, Enzo regressou a Módena e fundou a “Auto Avio Costruzioni” dedicada inicialmente à fabricação de peças para carros e aviões. Este novo projeto de Enzo não levava seu sobrenome porque uma cláusula de seu contrato de renúncia com a Alfa Romeo lhe impedia de utilizá-lo para a fabricação de carros durante um período de quatro anos.
Nessa época, e com a ajuda de Alberto Maximino e Luigi Bellentani, dois técnicos que também haviam deixado a Alfa Romeo, Enzo projetou e construiu com elementos Fiat o AAC Tipo 815, o Auto Avio 815, modelo que foram fabricadas apenas 2 unidades. Tratava-se de uma carroceria de dois lugares, obra de Touring.
Características técnicas principais:
Motor Fiat dianteiro longitudinal de 8 cilindros em linha e 1.496 cc com 72 cv de potência, 4 carburadores Weber 30 DR2, direção a cremalheira, freios a tambor, peso 535 Kg e velocidade máxima de 180 km/h.
Chasis 815/020 (Longo) e Chassi 815/021 (Curto). Com estas 2 unidades do Auto Avio 815, pilotadas por Alberto Ascari e o Marquês Lotario Rangoni, a Auto Avio Costruzioni ganhou em sua categoria a Mille Miglia de 1940.
Diz-se também que a Alfa Romeo atribuiu a si a construção dos 2 carros, já que eram muito parecidos aos Alfa 2300 6c.
Os carros (AAC 815) tiveram uma vida muito breve uma vez que quando os sonhos de Enzo marchavam novamente por bom caminho, as circunstâncias voltaram a colocar obstáculos: tinha início a 2ª Guerra Mundial e um decreto do governo italiano o obrigou a fabricar material bélico.
Em 1943, a Lei de Descentralização da Indústria, obrigou Enzo Ferrari a abandonar o centro de Módena e mudar sua fábrica para 16 quilômetros ao sul, para o pequeno povoado de Maranello.
Finalizada a guerra, Ferrari retomou seu objetivo, fabricando o primeiro automóvel que levaria sua marca (o Ferrari F125). No entanto, esse exemplar esteve a ponto de não levar seu sobrenome como marca, pois Ferrari havia decidido batizá-lo de "Mutina". Seu amigo, Enzo Levi lhe disse: "Já que você está convencido de que triunfará, deve dar-lhe o seu nome", e assim nasceu a Ferrari como marca, mas isso já é outra história.