A Auto Union foi um marco na história da indústria automotiva alemã, sendo o embrião do que hoje conhecemos como Audi. Fundada em 1932, durante a Grande Depressão, a empresa surgiu da fusão de quatro fabricantes alemães: Audi, DKW, Horch e Wanderer, numa iniciativa apoiada pelo Banco Estatal da Saxônia para enfrentar a crise econômica. Cada uma dessas marcas trouxe sua expertise: a Horch era renomada por carros de luxo, a DKW por veículos populares com motores dois tempos, a Wanderer por modelos de médio porte e a Audi, já existente, por sua engenharia inovadora. O icônico logotipo de quatro aros, inicialmente usado apenas nas corridas, simbolizava essa união e hoje é a marca registrada da Audi.
A Auto Union destacou-se especialmente nas competições, com sua equipe de corridas, a Auto Union Rennabteilung, baseada em Zwickau. Seus carros, conhecidos como ‘Flechas de Prata’ (junto com os da Mercedes-Benz), dominaram as corridas de Grand Prix a partir de 1934, estabelecendo recordes impressionantes, como a velocidade de 432.7 km/h em uma estrada pública, um feito que permaneceu intocado até 2013. Apesar do sucesso nas pistas, a complexidade dos motores traseiros e problemas com pneus e suspensão tornavam os carros difíceis de pilotar, levando a acidentes trágicos, como a morte do piloto Bernd Rosemeyer.
Após a Segunda Guerra Mundial, a Auto Union enfrentou grandes desafios. Suas fábricas na Saxônia, localizadas na zona de ocupação soviética, foram destruídas ou desmanteladas. Em 1949, a empresa foi refundada em Ingolstadt, na Alemanha Ocidental, inicialmente focando na produção de modelos DKW, mais acessíveis. Entre 1958 e 1964, a Daimler-Benz (Mercedes-Benz) assumiu o controle da Auto Union, fornecendo um motor de quatro tempos crucial para o renascimento da marca. Esse período marcou o lançamento do Audi F103, em 1965, o primeiro modelo da nova era Audi, que buscava se desvincular da imagem dos motores dois tempos da DKW.
A aquisição pela Volkswagen em 1965 foi um divisor de águas. Apesar da resistência inicial da VW em desenvolver novos modelos, o Audi 100, criado secretamente pelos engenheiros da Auto Union, foi apresentado em 1968 e impressionou tanto que garantiu a continuidade da marca. A fusão com a NSU em 1969 consolidou a transformação da Auto Union em Audi AG, oficializada em 1985. Modelos como o Audi 80, lançado em 1972, solidificaram a reputação da marca no segmento premium.
No Brasil, a Auto Union teve presença marcante por meio da Vemag, que produziu o DKW Vemag a partir de 1956, com destaque para a perua Sonderklasse Kombiwagen Universal F-91 (Vemaguete). A iniciativa, apoiada pelo governo alemão para expandir mercados, marcou o início da indústria automotiva brasileira.
Hoje, a Audi, herdeira direta da Auto Union, é sinônimo de inovação, luxo e desempenho, com uma trajetória que reflete a resiliência e a capacidade de reinvenção de suas origens. A história da Auto Union não é apenas sobre carros, mas sobre como a união de marcas, engenharia de ponta e adaptação às adversidades moldaram uma das gigantes da indústria automotiva global.