Esta é uma história complexa. Falar de Avolette, Victoria, Spatz, Belcar, BAW, BAG, Burgfalke, Opelit Mopetta, STE Rollera, Bruetsch e outras marcas de microcarros é, sem dúvida, falar de Egon Brütsch e seus projetos.
Com o objetivo de unificar uma informação que por si só já é dispersa pelo grande número de marcas relacionadas, aqui elas estão todas fundidas da melhor maneira possível em uma só história. Desse modo fica fácil de entender e de seguir a trajetória de Egon Brütsch, seus projetos e seus microcarros.
Um pouco de história
Egon Brütsch, antigo piloto de corridas, especialista em material plástico e popularmente conhecido como Brütsch, foi um projetista e fabricante de automóveis, natural de Stuttgart, no estado de Baden-Württemberg, na Alemanha.
Depois de dedicar-se durante alguns anos à competição, Egon Brütsch começou a testar seus projetos em 1952 com um modelo chamado Brütsch 400 do qual se sabe muito pouco.
Em 1953 Brütsch apresentou um bonito projeto de um carro de 2/4 lugares, baseado no Ford Taunus 12M Sport. Era equipado com um motor de válvulas laterais de 1.2 litros que desenvolvia 38 cv e 46 cv dependendo da versão, acoplado a uma transmissão ZF de quatro velocidades que substituía a Ford original de três velocidades. Esse carro com carroceria de alumínio foi concebido nas versões coupe e cabriolet, mas o projeto fracassou.
Brütsch é conhecido, sobretudo por seus muitos projetos de microcarros, mas que foram produzidas apenas pequenas séries de cada um de seus modelos. Isso acontecia porque a função principal de sua empresa era o desenvolvimento e promoção de modelos com o objetivo de vender as licenças de fabricação a outras empresas.
Entre 1951 e 1958, onze modelos diferentes de carros foram fabricados por Brütsch, mas a produção total de todos eles juntos foi de pouco mais de 80 unidades. A maior parte de seus modelos foram fabricados sob licença, com pequenas ou grandes modificações, por outras empresas e com outras marcas.
Muitos de seus projetos de carrocerias eram compostos por duas simples peças (superior e inferior) de poliéster, reforçadas com fibra de vidro e unidas entre si mediante uma tira de cola protetora. As estruturas e o projeto da suspensão eram muito rudimentares, até tal ponto que em 1956, depois de uma ação judicial de Brütsch contra o titular de uma de suas licenças de fabricação, um juiz qualificou os projetos de Brütsch de perigosos. Com o objetivo de conseguir integridade estrutural, as pequenas estruturas utilizadas na maioria de seus carros não podiam alojar portas, já que seus modelos tinham perfis laterais baixos para facilitar a entrada e a saída do veículo e isso os fazia bem perigosos para seus passageiros.
Os modelos
Brütsch 200 ‘Spatz’ ou ‘dreirad-dreisitzer’ de 1954-1955
Carro de dois lugares e 3 rodas, movido por um motor ‘Fichtel & Sachs’ monocilíndrico de 191 cc com transmissão de 4 velocidades. Alcançava uma velocidade máxima de cerca de 90 km/h. Brütsch fabricou aproximadamente 5 unidades desse modelo.
Esse carro também foi fabricado sob licença e com pequenas modificações pela empresa suíça ‘A. Grünhut & Co’, com o nome de ‘Belcar’.
Outra licença de fabricação do modelo foi vendida à ‘Alzmetall’ de Harald Friedrich, de Altenmarkt, Alemanha. Mas nesse caso foram encontrados tantos defeitos no projeto original que seu modelo de produção, o Spatz Kabinenroller acabou sendo um carro muito diferente, já que teve que ser reprojetado por Hans Ledwinka, engenheiro da Tatra, que entre outras coisas, incorporou ao projeto original uma quarta roda. Por causa disso, Brütsch processou a Alzmetall para assegurar-se do pagamento de sua licença, mas perdeu o pleito. Entre 1955 e 1957, a Alzmetall também vendeu o ‘Spatz’ com as marcas ‘BAW’ e ‘BAG’ (Bayerische Autowerke GmbH).
Entre 1955 e 1957, o ‘Spatz’ da ‘Alzmetall’ também foi fabricado pela marca alemã de motocicletas ‘Victoria’. Os ‘Spatz Victoria’ eram distribuídos na Áustria pela ‘Felber’, que lhes acrescentava seu logotipo ao recebê-los e os vendia como ‘Felber Victoria’.
A marca ‘Victoria’ finalmente foi a receptora dos direitos de fabricação do Spatz de 4 rodas da ‘Alzmetall’, mas a fabricação do carro cessou em 1957. No ano seguinte, em 1958, a empresa alemã ‘Burgfalke Fahrzeugbau’ se interessou pelos direitos e chegou a produzir umas poucas unidades que saíram de fábrica com o nome de ‘Burgfalke Export 250’.
Brütsch Zwerg 1955-1956
Carro de dois lugares e 3 rodas, com carroceria de plástico sobre um chassi tubular de aço. Era impulsionado por um motor ‘Fichtel & Sachs’ monocilíndrico de 191 cc, com transmissão de 4 velocidades. A velocidade máxima era aproximadamente de 85 km/h e foram fabricadas somente 12 unidades.
Também foi fabricado sob licença com pequenas modificações pela ‘Air Tourist’ (mais tarde ‘Union Industrielle’ ou ‘France-Jet’) da França e vendido com o nome de ‘Avolette’.
Brütsch Zwerg-Einsitzer (Zwerg II) 1956-1958
Esse carro era uma versão do ‘Zwerg’, com um só banco e 3 rodas, impulsionado por um motor monocilíndrico de 74 cc, procedente da DKW Hobby Scooter, com transmissão de variação contínua. A velocidade máxima era por volta de 65 km/h e foram fabricadas tão somente entre 2 e 4 unidades, segundo o que se sabe.
Brütsch Mopetta 1956-1958 (Opelit Mopetta)
Apresentado na IFMA (Salão Internacional de Bicicletas e Motocicletas) de Frankfurt, em outubro de 1956, era um carro de um banco e três rodas, uma roda dianteira e duas rodas traseiras, impulsionado por um motor monocilíndrico ‘Fichtel & Sachs’ de 49 cc e 2,3 cv, com transmissão de três velocidades. A velocidade máxima era de aproximadamente 45 km/h. Esse carro apresentava muitos traços característicos de um ciclomotor: dispunha de um pedal de freio, mas a embreagem, o acelerador e o freio da roda dianteira eram manejados na barra de direção. Brütsch fabricou apenas 14 unidades desse modelo.
A licença de fabricação foi vendida a um antigo distribuidor e membro da família Opel, Georg von Opel, que planejava fabricar o Mopetta na antiga fábrica de motocicletas Horex, para vendê-lo como ‘Opelit’, mas perdeu o interesse em 1958 e o projeto não saiu do papel.
Brütsch Rollera 1956-1958
O Brütsch Rollera também foi apresentado no IFMA de 1956, em Frankfurt. Assim como o Mopetta, o Rollera tinha somente um farol no meio da parte frontal. O carro tinha um banco e três rodas, impulsionado por um motor monocilíndrico ‘Fichtel & Sachs’ de 98 cc, com uma transmissão de três velocidades. A velocidade máxima era de aproximadamente 80 km/h. Brütsch fabricou somente 8 unidades desse modelo.
O Brütsch Rollera também foi fabricado na França sob licença pela ‘Air Tourist’ (mais tarde ‘Union Industrielle’ ou ‘France-Jet’) com os nomes de ‘STE Rollera’ e ‘Avolette’.
Brütsch Bussard 1956-1958
O Bussard era a versão melhorada de um antigo projeto de Brütsch. Tinha uma falsa grade de entrada de ar na frente, assim como mais tarde no V2. O carro tinha dois lugares e 3 rodas, impulsionado por um motor monocilíndrico ‘Fichtel & Sachs”’ de 191 cc, com uma transmissão de quatro velocidades. Sua velocidade máxima era por volta de 95 km/h e foram produzidas 11 unidades do modelo.
Brütsch Pfeil 1956-1958
O Pfeil era a versão de 4 rodas do Bussard. Esse carro de dois lugares era impulsionado por um motor Lloyd de dois cilindros e 386 cc, com transmissão de três velocidades. A velocidade máxima era de cerca de 110 km/h e foram fabricadas 6 unidades do modelo.
Brütsch V2 1957-1958
Em 1957 surge o V2, um carro de 2 lugares e 4 rodas que era baseado no projeto do Bussard e do Pfeil. Tinha o para-brisas de uma só peça e era impulsionado por um motor monocilíndrico ‘Fichtel & Sachs’ de 98 cc. que podia alcançar uma velocidade máxima de aproximadamente 65 km/h. Também contava com outra mecânica com um motor monocilíndrico ‘Maico’ de 247 cc, que alcançava uma velocidade máxima aproximada de 100 km/h. Ambas as versões contavam com uma transmissão de quatro velocidades e foram fabricadas um total de 12 unidades.
Brütsch V2N 1957-1958
O modelo V2 não havia convencido a francesa ‘Union Industrielle’, que era o novo nome da anterior ‘Air Tourist’, então Brütsch o modificou, lançando o V2N. Essa versão do V2 de 2 lugares e 4 rodas, tinha portas e aerofólios. O protótipo foi terminado em julho de 1958 e era impulsionado por um motor de dois cilindros e 479 cc procedente do Fiat 500, com uma transmissão de quatro velocidades. A velocidade máxima era por volta de 125 km/h. Foram fabricadas 3 unidades, mas o projeto foi abandonado. Finalmente, em 1958, Brütsch mudou de negócio e começou a fabricar pequenos reboques plásticos, utilizados pelas famílias nos finais de semana.
Apesar disso, a francesa ‘Union Industrielle’ evoluiu a ideia com a marca ‘Jet’, tentando exportar o modelo inclusive aos Estados Unidos em 1960. Sabe-se também por um anúncio publicado no jornal ‘La Vanguardia’ em 2 de setembro de 1959, que a ‘Union Industrielle’ também tentou vender o modelo na Espanha com o nome de ‘Super Jet’.