A Clyno era o terceiro maior fabricante de automóveis do Reino Unido depois da Austin e da Morris. A marca se orgulhava de oferecer carros de muita qualidade ao mesmo preço dos carros de qualidade média da concorrência.
Tudo começou quando Ailwyn Smith, de Thrapston, Northamptonshire, e outro sócio, projetaram e fabricaram uma polia com um quociente variável de impulsão para máquinas. Chamaram-na de ‘polia inclinada’, que logo se abreviou a ‘clined’ e finalmente ficou conhecida como ‘Clyno’.
Em 1909 começaram a fabricar motocicletas e em 1910 se mudaram para as instalações da rua Pelham, em Wolverhampton. Essas instalações haviam sido utilizadas pelos irmãos Stevens para a fabricação de motores. As vendas eram boas e a empresa prosperou. Durante a 1ª Guerra Mundial produziram uma grande quantidade de combinações de motocicletas para os exércitos britânico e russo. Consistiam em unidades móveis para metralhadoras. Em 1916, Ailwyn deixou a empresa depois de um desacordo com seu sócio. Um futuro brilhante para Clyno parecia chegar, mas em 1920 o mercado de motocicletas para a guerra entrou em colapso.
Nesse período a empresa produziu uma motocicleta altamente popular que alcançava uma velocidade superior a 80 km/h, mas o êxito alcançado foi inútil, pois as vendas não melhoraram. Os suportes financeiros da empresa foram retirados e a Clyno entrou em liquidação. O sócio principal da Clyno estava interessado em produzir carros e com isso em mente, em 1922 foi criada a Clyno Engineering Company Ltd, com um capital de 100.000 libras. Guillermo Smith era o Presidente. Inicialmente eram produzidos carros e motocicletas. James Cocker que havia feito seu nome nas corridas de motocicletas tornou-se o encarregado de vendas.
Logo apareceu o primeiro carro projetado por George Stanley e A. G. Booth. Dispunha de um motor Climax de 14 cv, 4 cilindros e 1.368 cc, transmissão Clyno de 3 velocidades, iluminação elétrica e era vendido por 250 libras. Foi projetado para concorrer diretamente com a Morris e os preços da Clyno sempre se mantiveram um pouco abaixo da concorrência. Os pedidos foram muito mais elevados que o esperado e em 1923 toda a produção de motocicletas cessou e o preço do carro foi reduzido, já que seu preço de 238 libras era muito alto.
A Clyno continuou aumentando a produção e ampliando a linha de modelos. No verão de 1923 foi introduzido o 2 lugares e em abril de 1924 surgiu um novo modelo de 11,9 cv com preços que oscilavam entre 275 e 350 libras. Em junho surgiu o novo modelo ‘Clyno Sport’, mas somente foram fabricadas 25 unidades pois tinham dificuldades para atender a grande demanda de seus outros modelos. Também em 1924 foram introduzidos o ‘Saloon’ e o ‘Tourer’ de 2 e 4 lugares. Eram oferecidos freios nas quatro rodas e os pneus em forma de globo. Os preços se reduziram novamente e as vendas se elevaram.
Em outubro de 1925, a empresa lançou o Clyno de 13 cv que também demonstrou ser muito popular por suas altas vendas. Foi fabricado com 2 carrocerias diferentes, para-brisas de 3 vidros e um limpador de para-brisas mecânico Smith. Esse carro tinha tapeçaria de couro e era vendido por 260 libras. Nas fábricas se utilizava um sistema de ‘fluxo’ da produção e no meio dos anos 20 a empresa empregava cerca de 1.000 pessoas. As oficinas funcionavam dia e noite para atender a grande demanda, de tal maneira que em 1926 chegaram a produzir 350 unidades por semana. O total anual era de 12.000 unidades, número muito bom se levarmos em conta que se tratava de um ano com greve geral.
A fábrica da rua Pelham foi ampliada e o novo modelo ‘Colonial’ vendia bem em todo o mundo. Seus mercados principais eram Cingapura, Austrália, Aden, América e Europa. Ao encontrar-se descapitalizada, a empresa teve que encontrar alternativas para ampliar a produção e atender a demanda. Não havia espaço disponível na rua Pelham.
Em janeiro de 1927 se abriu uma nova fábrica em Bushbury, mas logo se tornou pequena e teve que ser ampliada e modificada em fevereiro de 1928. Inicialmente eram fabricados 70 modelos ‘Saloon’ por semana e em maio se introduziu o ‘Saloon Olimpic’ de luxo. Era oferecido com rodas de raios e era vendido por 295 libras.
A situação financeira da empresa piorou, a operação da nova fábrica havia sido financiada com empréstimos e toda a linha de produtos necessitava ser atualizada. No verão de 1927 a Clyno desenvolveu um carro leve, o modelo 9. O carro tinha um motor de 4 cilindros e 9 cv, transmissão de três velocidades e carburador atmosférico Cox.
A Clyno assinou um contrato com A.J.S. (fabricante de motocicletas) para fabricar as estruturas da carroceria a um custo mais baixo. As carrocerias consistiam de um corpo de madeira coberto por painéis de tecido e foram fabricadas em lotes de 50 unidades. O carro foi projetado por Arthur G. Booth e era vendido por 160 libras. As carrocerias eram revestidas de tecido para reduzir o custo, mas mostravam ser impopulares. A Clyno sempre tentava garantir que seus produtos pudessem ser vendidos a um preço mais barato que a concorrência. Isso funcionou bem até que a empresa entrou em concorrência direta com a Austin e a Morris em uma guerra de corte de custos.
A Morris acabava de lançar o Morris Minor e a Austin havia lançado o Austin Seven. A resposta da Clyno aos concorrentes era um tourer básico de quatro lugares chamado ‘Siglo’, que era realmente um modelo 9 com chassi coberto de tecido barato que era vendido por 115 libras. O carro não era popular entre os distribuidores e somente foram fabricadas cerca de 300 unidades. A verdade é que foi um desastre e foi descrito como barato e mal feito, e popularmente conhecido como ‘o cemitério’. O preço baixou ao máximo e a margem do distribuidor quase desapareceu e os irmãos Rootes, distribuidores da Clyno no Reino Unido, deixaram de vender seus produtos.
Rootes era um distribuidor muito bom e havia ajudado enormemente a incrementar as ventas da Clyno. Quando a Clyno foi abandonada por Rootes, teve que confiar em distribuidores locais menores. As vendas baixaram, e a empresa nunca voltou a ter o mesmo impacto no mercado. Com margens de lucro muito baixas, a empresa logo entrou em uma profunda crise financeira.
A carroceria de tecido foi utilizada para baixar custos mas era muito impopular entre os clientes e baixaram as vendas. A empresa havia se tornado vítima de seu próprio sucesso, havia levado a política de baixar os custos longe demais. Isso destruiu a reputação da Clyno. A empresa havia investido recentemente muito dinheiro em uma fábrica nova em Bushbury e a queda das vendas produziu rapidamente problemas de fluxo de caixa. A Clyno havia sofrido escassez de recursos e havia solicitado empréstimos importantes para financiar a nova fábrica e para atualizar seu maquinário.
Em 11 de fevereiro de 1929 foram nomeados novos administradores e a empresa entrou em liquidação. Durante o transcurso de sua vida, a Clyno havia vendido 15.000 motocicletas e 40.000 automóveis. Calcula-se que hoje em dia sobrevivam somente cerca de 100 carros da Clyno.