A Jordan Motor Car Company representa um capítulo fascinante na história da indústria automobilística americana, marcada por inovação em design, marketing criativo e uma abordagem que priorizava o estilo sobre a engenharia avançada. Fundada em 1916, em Cleveland, Ohio, a empresa surgiu em um período de efervescência para o setor de automóveis nos Estados Unidos, quando montadoras como Ford e Chevrolet dominavam o mercado com produção em massa, mas havia espaço para marcas menores que apostavam em elegância e personalidade.
O fundador, Edward S. ‘Ned’ Jordan, era um publicitário visionário nascido em 1882, em Merrill, Wisconsin. Antes de entrar no mundo dos automóveis, Ned trabalhou como jornalista e gerente de vendas na Thomas B. Jeffery Company, em Kenosha, Wisconsin, onde aprendeu os meandros da promoção de veículos. Em 1915, aos 33 anos, ele decidiu criar sua própria empresa, motivado pela ideia de produzir “um automóvel inteligente para pessoas inteligentes”. Com capital inicial de cerca de 100 mil dólares (equivalente a milhões hoje), Ned estabeleceu a fábrica em 1070 East 152nd Street, no bairro de Collinwood, estrategicamente localizada perto de trilhos ferroviários para facilitar o transporte de componentes e veículos acabados.
A Jordan não era uma montadora tradicional que fabricava tudo do zero; em vez disso, montava ‘carros assemblage’ (assembled cars), utilizando peças de fornecedores externos, como motores, chassis e carrocerias. As carrocerias iniciais eram pintadas e equipadas na própria fábrica, mas os corpos vinham de fornecedores em Ohio e Massachusetts, muitas vezes em alumínio sobre estruturas de madeira. Isso permitia uma produção ágil e econômica, com foco em acabamentos atraentes. No primeiro ano de operação (1916), a empresa vendeu impressionantes 1.788 veículos, superando expectativas e gerando lucros substanciais.
Os carros Jordan eram conhecidos por seu design elegante e opções de cores vibrantes, uma raridade na época, quando a maioria das montadoras, como a Ford, limitava-se ao preto (devido à secagem rápida da tinta Japan Black). A Jordan oferecia tons como Apache Red, Mercedes Red, Savage Red, Ocean Sand Gray, Venetian Green e até Chinese Blue, apelando para um público que via o automóvel não apenas como meio de transporte, mas como símbolo de status e aventura. Modelos iniciais, como o Jordan Model A (1916), eram roadsters leves e esportivos, com motores de 6 cilindros e velocidades que chegavam a 80 km/h, ideais para a elite urbana.
O ponto alto da Jordan veio nos anos 1920, impulsionado pelo marketing inovador de Ned. Um anúncio icônico de 1923, publicado na revista Saturday Evening Post, mostrava uma mulher solitária em um roadster amarelo cruzando uma ponte, com o slogan: “Em algum lugar a oeste de Laramie, com o sol poente, há uma jovem dirigindo um roadster Jordan. É o carro de uma mulher para a estrada - o carro que você nunca cansará de olhar. É o carro que você nunca cansará de dirigir”. Esse texto poético, focado em emoção e romance em vez de especificações técnicas, é considerado um marco na história da publicidade automotiva. Ele atraiu um público mais amplo, incluindo mulheres e jovens, e ajudou a vender milhares de unidades do famoso modelo Jordan Playboy (1920), um roadster compacto e acessível (cerca de 850 dólares), que se tornou sinônimo de estilo dos anos 1920.
A empresa expandiu sua linha ao longo da década, introduzindo modelos como o Jordan Little Custom (1927), um compacto de luxo, e o Jordan Eight (1928), com motor de 8 cilindros. No auge, em 1925, a produção anual chegou a 6.258 unidades, e a Jordan se posicionava como uma marca premium, acima da Buick, mas abaixo da Cadillac. Ned Jordan investiu em anúncios coloridos em revistas como Vanity Fair, usando mansões de subúrbios chiques como cenários, reforçando a imagem de sofisticação.
No entanto, os anos 1930 trouxeram desafios. A Grande Depressão de 1929 devastou o mercado automotivo, com quedas drásticas nas vendas. O modelo Little Custom, lançado em 1927 por 1.595 dólares, foi um fracasso comercial, pois competia em um segmento de baixo preço sem se destacar. Em 1930, a produção caiu para menos de 2.000 unidades, resultando em déficits de mais de 1.4 milhões de dólares. A fábrica suspendeu operações em março de 1931, e em maio do mesmo ano, a Jordan entrou em falência voluntária. Ao todo, a empresa produziu cerca de 30.000 veículos em seus 15 anos de existência, deixando um legado de inovação em marketing que influenciou gerações de anunciantes.
Após o fechamento, Ned Jordan tentou reviver sua carreira com parcerias, como vendas de Studebaker entre 1934 e 1935, mas sem sucesso duradouro. Ele se aposentou nos anos 1940, dedicando-se a escrever sua autobiografia, The Inside Story of Adam and Eve (1939), e faleceu em 1951. Hoje, os carros Jordan são colecionáveis raros, valorizados por entusiastas de veículos clássicos. A história da Jordan Motor Car Company ilustra como criatividade e visão podem elevar uma marca pequena a ícone cultural, mesmo em um mercado dominado por gigantes.