Quando tinha apenas 10 anos de idade, Maurice Sizaire havia decidido seu futuro e surpreendeu seus pais com o anúncio de que seria um ‘fabricante de carros’. Carro, uma palavra praticamente ausente do vocabulário corrente daquela época, já que apenas tinha acabado de aparecer o primeiro triciclo motorizado da De Dion Bouton.
Teimoso, Maurice Sizaire acabou convencendo seu irmão Georges do promissor futuro desses novos veículos destinados a substituir os tradicionalmente puxados por cavalos. Com algumas pequenas economias pacientemente acumuladas, os dois irmãos adquiriram uma pequena oficina em Puteaux.
Louis Naudin, que naquela época era torneiro mecânico na De Dion Bouton, se associa rapidamente aos dois irmãos. Estamos em 1902 e os três homens enfrentam a construção de um pequeno carro, monocilíndrico e com um peso máximo de 600 kg. Equipado com suspensão independente nas rodas dianteiras, o carro não atendeu às expectativas de seus criadores, em particular o sistema de transmissão, e Maurice Sizaire concebe uma transmissão nova com um sutil jogo de pinhões e engrenagens, que unido ao seu inédito sistema de suspensão, garantia um perfeito comportamento nas estradas.
Para explorar comercialmente esse novo carrinho, foi constituída no dia 1º de junho de 1903 a sociedade ‘Sizaire Frères & Naudin’
Apresentado na exposição dos Pequenos Inventores, o pequeno carro seduziu a todos por suas qualidades e seu acabamento, associados a um preço muito acessível. Diante da chuva de pedidos, foi necessário a transferência das acanhadas instalações de Puteaux, e renomear a empresa para ‘Société Anonyme des Automobiles Sizaire & Naudin’, propiciando a entrada de capital e a formação de um Conselho de Administração. No dia 18 de dezembro de 1905, a nova empresa se instala em uma imensa fábrica no distrito de Paris.
Em 1906 participa em competições e consegue os primeiros êxitos da marca, com uma brilhante vitória na primeira edição da ‘Coupe des Voiturettes’, disputada entre 5 e 12 de novembro de 1906.
A sociedade ‘Sizaire & Naudin’ sai da sombra e a produção alcança os 30 carros por mês, para ser dobrada no ano seguinte depois da segunda vitória na ‘Coupe des Voiturettes’.
A fábrica cresceu, mas produzia somente um único modelo, um 8 hp monocilíndrico, que vai evoluindo sem parar, mas sempre fiel ao desenho original, que mais tarde seria uma das características da marca. Em 1908 a marca consegue uma nova vitória na ‘Coupe des Voiturettes’.
É preciso destacar a esse formidável sucesso, um segundo lugar no ‘Grand Prix des Voiturettes’, e a marca obtida nas 100 milhas no autódromo de Brooklands, a uma velocidade média de 106 km/h com um veículo equipado com o maior motor monocilíndrico montado em um carro até aquele momento (250 mm). Naquela época, o catálogo da ‘Sizaire & Naudin’ foi ampliado com um avançado 12 hp.
Em 1909, a marca ‘Sizaire & Naudin’ não participou da quarta edição da ‘Coupe des Voiturettes’, pois pretendia participar de outras provas e, além disso, suspendeu todas as suas inscrições em 1910 para concentrar-se em 1911.
Todos os esforços e recursos foram dedicados ao desenvolvimento de um novo motor de 4 cilindros, que acabou chegando no final de 1911. Tratava-se de um 14/16 hp, cuja apresentação no catálogo de 1912 coincidia com a volta da ‘Sizaire & Naudin’ às competições.
Apesar da inscrição de três carros na ‘Coupe des Voitures Légères’, que havia substituído no ano anterior a ‘Coupe des Voiturettes’, nenhum dos três carros chega ao final da prova. Esse fracasso esportivo foi muito mal recebido pelo Conselho de Administração da empresa, que decide expulsar os irmãos Sizaire e Louis Naudin da empresa que haviam criado e que levava seus nomes.
Essa medida teve consequências dramáticas, já que a sociedade perdia não só ‘sua alma’, mas também sua originalidade.
Se até então, a marca se concentrava em uma linha limitada, a nova equipe lança uma infinidade de modelos (9,12,13,15 e 17 hp), mas esquece das numerosas inovações técnicas aportadas por Maurice Sizaire. Todas essas mudanças se refletiram em uma significativa redução do renome dos modelos ‘Sizaire & Naudin’, que se tornaram carros muito clássicos.
Por sorte a Primeira Guerra Mundial parou temporariamente a produção de uma fábrica que estava a ponto de fechar. Em 1918, foi lançado um novo modelo, que nada mais era do que o 13 hp de 1914 revisado e corrigido, mas demorou muito para desencadear o entusiasmo esperado. Para salvar o que sobrava, foi criada no dia 13 de dezembro de 1920 a ‘Société des Nouveaux Etablissements Sizaire & Naudin’.
O 13 hp sofreu um ‘facelift’ completo e um jovem engenheiro, René Le Grain, concebe um novo chassi cheio de promessas, e o inscreve imediatamente na ‘Coupe Internationale des Voiturettes" de 1920. Nenhum dos três carros inscritos termina a prova, pois a preparação do motor havia sido muito precipitada.
Em 1921, o surgimento de um 18 hp (que na realidade era o 17 hp de 1914 modernizado) não era suficiente para salvar a empresa, cujo encerramento definitivo aconteceu nesse mesmo ano.