Nada de posto de gasolina. Seu carro ligado na tomada. E não é um carro qualquer. Tem design futurista e moderno. Alta tecnologia. Muito luxo. E desempenho e potência, sem fumaça, capaz de fazer inveja a qualquer um movido à gasolina. É assim que a californiana TESLA MOTORS, que nasceu em pleno Vale do Silício, tornou-se a grande vedete do setor automobilístico e a preferida de muitos bilionários pelo mundo afora. A TESLA provou que, além de ecologicamente corretos, os carros elétricos podem ser objetos de desejo.
Tudo começou em 2003 com um grupo de engenheiros do Vale do Silício, que resolveram provar ao mundo que era possível e viável projetar e produzir um carro superesportivo totalmente elétrico. Surgia assim no dia 1º de julho a TESLA MOTORS na cidade de San Francisco, cujo nome foi uma homenagem ao inventor e engenheiro elétrico Nikola Tesla. O grupo de visionários e empreendedores era formado por Martin Eberhard, Marc Tarpenning, Ian Wright, Jeffrey Brian Straubel e Elon Musk. Este último, formado em economia pela Universidade da Pensilvânia e um ano depois em física, apesar de jovem já era bilionário, após vender negócios como a Zip2, companhia que criava conteúdo para portais de notícias, por US$ 307 milhões, e também um dos fundadores do PayPal (empresa de pagamentos online), vendida para o eBay por US$ 1,5 bilhões.
Após anos de pesquisas, desenvolvimento e muito investimento a empresa finalmente apresentou ao público no dia 19 de julho de 2006 seu primeiro veículo: o TESLA ROADSTER, um superesportivo conversível de dois lugares com design futurista e linhas agressivas baseado no chassi de um Lotus Elise, que tinha uma grande diferença, em vez de motor a gasolina, tanque e escapamentos, ele foi testado (e saiu-se muito bem) com uma bateria de 6.831 células de íons de lítio, similares às que equipavam notebooks e celulares.
Com um torque capaz de acelerar de 0 a 100 km/h em apenas 4 segundos e acelerar a 205 km/h e com uma autonomia de aproximadamente 350 quilômetros, o veículo feito inteiro de fibra de carbono para diminuir o peso, mostrou que era possível ter um carro esportivo sem despejar um grama de CO2 no ar. O primeiro carro foi entregue em fevereiro de 2008. Nos anos seguintes o veículo se tornou objeto de desejo entre bilionários no mundo inteiro. Além disso, astros como o ator George Clooney e os fundadores do Google, Sergey Brin e Larry Page, passaram a ostentar em suas garagens um TESLA ROADSTER. Sua produção foi encerrada oficialmente em 2012, com mais de 2.600 unidades vendidas. Afinal, o carro serviu a um objetivo maior: as relativamente poucas unidades vendidas serviram para financiar o desenvolvimento de uma nova versão mais barata.
E isto aconteceu em junho de 2012, quando a TESLA MOTORS deu outro grande passo rumo ao desenvolvimento ao começar a vender seu segundo modelo: o MODEL S, um luxuoso sedan esportivo de quatro portas com espaço para acomodar sete pessoas confortavelmente, com preço a partir de US$ 63 mil. Como não há câmbio e seu motor tem aproximadamente o tamanho de um melão, o interior do veículo é mais espaçoso. O novo automóvel da marca faz 426 quilômetros com uma carga de bateria. Já a versão S Performance coloca ainda 420 cv na conta para cumprir de 0 a 100 km/h em 4.2 segundos e impulsioná-lo a quase 300 km/h.
Além de aliar desempenho com design e luxo, o novo automóvel era recheado de tecnologia e mimos, como por exemplo, cabo de carga com bocal iluminado, painel futurista e uma tela de 17 polegadas (43 cm de altura), a maior já colocada em um carro, que permite ao motorista navegar via GPS, ter informações importantes sobre o clima, condições do veículo e da estrada, acessar recursos como rádio e tocador de mp3 e, via sincronização com um smartphone, efetuar ligações telefônicas. Sem contar os bancos de couro totalmente elétricos, o revestimento bicolor com apliques metálicos e amadeirados e as enormes rodas de 19 polegadas com pneus Michelin de alta performance. E itens de segurança como oito airbags (além dos básicos frontais, laterais e de cabeça, há proteção para joelho e pélvis dos ocupantes da frente), que garantem cinco estrelas nos testes oficiais de segurança.
Ainda em 2012, a empresa iniciou a inauguração dos chamados Superchargers (“supercarregadores” ), em pontos estratégicos de grandes cidades americanas, permitindo assim que seus clientes viagem por todo o país com tranquilidade. São estações de abastecimento, semelhantes a um posto de combustível, que tem capacidade de carregar os automóveis da marca muito mais rapidamente. Segundo a montadora, em 30 minutos de carga é possível armazenar 50% da capacidade total da bateria e rodar mais de 250 quilômetros. E o melhor? A carga é de graça. Hoje em dia existem mais de 250 SUPERCHARGER nos Estados Unidos e Canadá, Europa e Ásia.
No ano seguinte, com apenas um modelo à venda, a montadora conseguiu um feito e tanto: abocanhou 12% do mercado de luxo do estado da Califórnia (Meca americana dos carros elétricos e híbridos) de janeiro a junho. Foram pouco mais de 4.700 unidades vendidas, de acordo com a associação californiana de concessionários. Parece pouco, mas supera toda a entrega da marca no ano anterior. Além disso, o sucesso do sedan ajudou a alavancar em mais de 50% as ações da TESLA durante 2014, depois que elas quadruplicaram no ano anterior.
Em meados de 2014, um novo anúncio de Elon Musk movimentou mais uma vez a indústria automobilística e pode apontar o futuro dos veículos nas próximas décadas. Ele anunciou que tornará pública algumas das patentes da empresa destinadas a fabricação de veículos elétricos. Segundo ele, a ideia é que a tecnologia se torne popular a ponto de veículos como esses assumirem a liderança na preferência dos consumidores, desbancando os tradicionais modelos movidos a combustível. O que parece uma verdadeira loucura para administradores e executivos é na visão dele publicidade gratuita da melhor forma.
Explica-se. Novos carros elétricos vão precisar de mais baterias. Em um primeiro momento, ceder gratuitamente uma patente para um concorrente pode parecer uma ideia sem muito sentido e até mesmo absurda. Entretanto, é preciso lembrar que Elon Musk não está interessado apenas neste mercado. Carros elétricos precisam de baterias cada vez mais eficientes e duráveis. Nesse quesito, as baterias da TESLA MOTORS ainda são imbatíveis. É possível que no futuro outras montadoras consigam desenvolver tecnologias similares, mas em um primeiro momento, na busca pela eficiência, os concorrentes acabariam se tornando clientes da própria TESLA.
Além disso, a empresa planeja investir até US$ 5 bilhões nos próximos anos na construção de uma gigantesca fábrica de baterias capaz de suprir qualquer demanda possível. A fábrica, batizada de GIGAFACTORY e localizada em Reno no estado de Nevada, será construída em parceria com a japonesa Panasonic e demais parceiros. Em 2020, a nova fábrica irá alcançar sua produção máxima de 50 GWh por ano. São baterias suficientes para 500 mil carros da TESLA. A empresa informou que tão logo a empresa comece a fabricar baterias em escala, os custos poderão cair em mais de 30% depois do primeiro ano de produção direcionado ao mercado de massa. Isso faria com que os preços dos carros baixassem consideravelmente.
Em 2015 a TESLA lançou o MODEL X, que apresenta o espaço de uma minivan e o estilo de um SUV. Baseado no MODEL S, o veículo comporta sete pessoas e tem dois porta-malas, o normal e outro na frente, aonde o motor a combustão iria se não fosse elétrico. Além disso, a empresa já anunciou que seu próximo veículo elétrico de terceira geração já tem nome definido: MODEL 3, um sedan de porte médio. Sua apresentação ao público está agendada para este ano de 2016, com as vendas previstas para iniciar no ano seguinte. Segundo as informações divulgadas, o MODEL 3 será 20% menor se comparado ao MODEL S e poderá fazer cerca de 321 quilômetros por recarga. Além disso, o carro deverá custar US$ 35 mil.
O segredo do enorme sucesso da TESLA MOTORS talvez esteja na atitude. A marca sempre se portou como a Apple dos carros elétricos. Promete interface agradável (desempenho, espaço, luxo e beleza de carro europeu) quando todas as outras entregam apenas o básico (carros que parecem de brinquedo). E também cobra caro pela experiência. O TESLA MODEL S, porém, é um sedan do tamanho de Ford Fusion ou um Honda Accord (dois best sellers do mercado americano) com visual e acabamento de um Aston Martin ou um Maserati. Talvez esteja aí o grande segredo de sucesso da marca. Mesmo se a TESLA desaparecer amanhã, trata-se simplesmente de uma empresa inovadora que provocou um enorme impacto: mostrou que os carros elétricos com menor impacto no meio ambiente podem ser descolados e competir no mesmo nível que um carro com motor a combustão interna.
O gênio por trás da marca
Para muitos ele é o novo Steve Jobs, capaz de assumir o posto de maior demolidor de paradigmas do mundo empresarial. Para tantos outros é o Tony Stark da vida real, em uma referência ao personagem principal do filme ‘Homem de Ferro’, um multibilionário, filantropo e cientista que, nas horas vagas, atua como super-herói, interpretado pelo ator americano Robert Downey Jr. Seus projetos parecem coisa saída da cabeça do Professor Pardal. Mas não se engane. Suas ideias não são devaneios de um bilionário excêntrico.
A verdade é que Elon Reeve Musk, um quarentão bilionário, cuja fortuna é estimada em US$ 9,3 bilhões, e o mais inovador e surpreendente empreendedor atual, conseguiu transformar aparentes loucuras em negócios reais e bilionários. Nascido no dia 28 de junho de 1971 na cidade de Pretória, na África do Sul, filho de um engenheiro e uma nutricionista, e naturalizado americano, ele é considerado a grande estrela corporativa dos Estados Unidos. A revista Fortune, por exemplo, o elegeu a personalidade dos negócios de 2013.
Considerado um empreendedor serial, ele criou seu primeiro sucesso comercial ainda aos 11 anos. Era um game espacial chamado Blastar, que foi vendido para uma empresa sul-africana pela bagatela de US$ 500. Em 1988, aos 17 anos, migrou para o Canadá contra a vontade dos pais, país no qual chegou com pouco dinheiro e sem lugar sequer para dormir. Para sobreviver, trabalhou em fazendas e limpando caldeiras em serralherias. Em 1992 foi para os Estados Unidos, onde cursou faculdade de administração e física.
Em 1999, ele vendeu a Zip2, que desenvolvia ferramentas para criar sites de notícias, para a fabricante de computadores Compaq, por impressionantes US$ 307 milhões, negócio que seria seguido pela venda da empresa de data center Everdream para a Dell por US$ 120 milhões, além do PayPal, vendido para o eBay em 2002 por US$ 1,5 bilhões. Como maior acionista da empresa, Musk embolsou US$ 180 milhões na ocasião. A pequena fortuna foi o ponto de partida para a criação de um verdadeiro conglomerado de empresas de ponta, sustentado por três pilares: TESLA, de carros elétricos; SpaceX, que presta serviços de transporte espacial para a poderosa NASA e tem projetos de levar o homem a marte; e SolarCity, que fabrica painéis solares, sendo líder no mercado para residências nos Estados Unidos.
Além dos carros movidos a bateria e das viagens espaciais, suas mais recentes ideias incluem um plano para colonizar o planeta Marte e uma espécie de tubo para transportar passageiros, capaz de realizar uma viagem de cerca de 500 quilômetros em uma hora. Seu legado, no entanto, pode provocar transformações ainda mais profundas na sociedade do que os feitos por Steve Jobs. Sua audácia chega a ponto de levá-lo a desafiar uma indústria forte e consolidada como a automobilística. “Criei a Tesla para acelerar o desenvolvimento de carros elétricos”, diz. “Se deixasse nas mãos das grandes montadoras, nunca veríamos esse tipo de automóvel nas ruas”, completa. Sua vida pessoal também é agitada. Casou e divorciou duas vezes e teve cinco filhos, gêmeos e trigêmeos.