4 DE ABRIL DE 1931: CITROËN SEGUIA OS PASSOS DE MARCO POLO COM O LEGENDÁRIO ‘CRUZEIRO AMARELO’

O espírito de aventura e a ousadia fazem parte do DNA da Citroën. Uma longa tradição da marca, com expedições, explorações e incursiones em terras distantes, especialmente no Extremo Oriente, algo que sempre teve um encanto especial para a Citroën.
Há um século, em 1922, a marca francesa lançou um desafio sem precedentes, ao promover a primeira travessia do Sahara (o lendário ‘Cruzeiro Negro’) em automóvel, seguida em 1924 por uma segunda expedição que chegou à Cidade do Cabo, também conhecida como a ‘Expedição Citroën África Central’, e finalmente em 1931 de outra aventura épica, o mais exigente dos Cruzeiros Citroën, a ‘terceira missão Haardt-Dubreuil’, mais conhecida como o Cruzeiro Amarelo.
A viagem foi incrível: de Beirute a Pequim atravessando por completo o Oriente Médio e a cordilheira do Himalaia, utilizando os potentes e modernos veículos de esteiras C4 e C6.
Partindo em 4 de abril de 1931, atravessaram continentes e a China em plena revolução, até chegar a Pequim no dia 12 de fevereiro de 1932. Mais de 12.000 quilômetros com tais obstáculos, que em determinados momentos obrigaram a expedição a desmontar peça por peça as esteiras para assim poder cruzar cadeias montanhosas e atravessar os rios mais caudalosos. Uma empreitada que selou o sonho de André Citroën com as maravilhosas imagens de seus veículos de esteiras “no fim do mundo” (ou mais corretamente sobre o teto do mundo), escalando pelos caminhos do Himalaia.
A expedição, após várias inconstâncias na fase preparatória, foi dividida em dois grupos: o grupo ‘China’, dirigido por Victor Point, que chegou a Pequim pela Transiberiana e o grupo ‘Pamir’, que partiu de Beirute dirigido por Georges-Marie Haardt e Louis Audouin-Dubreuil rumo ao Himalaia: com eles, Teilhard de Chardin, o célebre geólogo-paleontólogo jesuíta; Hackin, especialista em antiguidades do Extremo Oriente; Reymond e Williams, naturalistas; Lefevre, jornalista; o pintor Iacovleff; Maynard-Owen Williams da National Geographic Society e um grupo de cineastas, assim como médicos, telegrafistas e dezoito mecânicos selecionados entre os trabalhadores do Citroën Tracked Atelier, em Courbevoie.
O grupo ‘China’ encontrou dificuldades técnicas, com tempestades de areia no deserto de Gobi e problemas relacionados com a guerra civil no país. Inclusive o grupo dirigido por Haardt, incapaz de passar pelo Afeganistão que estava em guerra, cruzou o Himalaia percorrendo 372 quilômetros em 26 dias e superando picos de mais de quatro mil metros em condições incríveis. Os dois grupos reunidos cruzaram o Gobi no inverno e entraram em Pequim no dia 12 de fevereiro de 1932.
Dois tipos de veículos de esteiras participaram no Cruzeiro Amarelo. O derivado do C6F - destinado ao grupo ‘China’ - contava com dois tanques de gasolina de 200 litros cada um, dois grupos elétricos, um radiador especial e um ventilador de oito pás. O peso carregado era de 4 toneladas com reboque. Carroceria de alumínio, teto de lona e ??velocidade de 45 km/h.
O segundo, utilizado pelo grupo ‘Pamir’, derivado do C4F, projetado para ser completamente desmontado e remontado em caso de necessidade, era equipado com um bloco motor de ferro fundido de 4 cilindros em linha e válvulas laterais, projetado para ser eficiente com ar rarefeito em grandes alturas. Em ambos os casos a propulsão era por esteiras flexíveis e a transmissão era de 4 velocidades com reduzida e bloqueio no diferencial. O motor do primeiro era de 2.442 cc com 40 cv e 6 cilindros; o do segundo de 1.628 cc com 30 cv.
O único veículo que sobreviveu até o dia de hoje é o Scarabée dOr (tipo P17, C4F) do grupo ‘Pamir’: em seu regresso a Paris foi exibido no Salão Citroën da Place de l’Europe, depois em Les Invalides e finalmente no Museu do Automóvel de Sarthe, no Circuito das 24 Horas de Le Mans. Uma réplica pode ser encontrada no Conservatório Citroën.
O Cruzeiro Amarelo foi uma verdadeira demonstração do amor pelos desafios e a ousadia que distingue a marca Citroën durante mais de cem anos, além de ressaltar a confiabilidade e robustez dos veículos utilizados, inclusive em condições climáticas que nunca haviam sido enfrentadas antes.