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No final do século XIX, quando as ruas da Europa ainda eram dominadas por carruagens e o som dos cascos dos cavalos ecoava nas avenidas de paralelepípedos, um homem na Alemanha ousava sonhar com o impossível. Karl Benz, engenheiro e visionário, acreditava que o futuro da mobilidade não seria puxado por animais, mas impulsionado por engrenagens, pistões e combustível. Dessa ousadia nasceu o Benz Velo, um dos automóveis mais importantes da história e o primeiro a ser produzido em série no mundo.

Lançado originalmente em 1894 e aperfeiçoado ao longo dos anos, o Benz Velo de 1899 representava o refinamento de uma ideia que havia começado com o lendário Patent-Motorwagen de 1886 - o primeiro automóvel da história. Seu nome, ‘Velo’, vinha de Velocipede, evocando leveza e agilidade. E de fato, com pouco mais de 280 quilos, era um veículo surpreendentemente ágil para a época.

Equipado com um motor monocilíndrico de 1.0 litro e cerca de 3 cv de potência, o Velo atingia respeitáveis 20 km/h - velocidade suficiente para desafiar o trânsito de charretes e causar espanto por onde passava. A transmissão de 2 velocidades e a tração traseira por corrente completavam o conjunto mecânico simples, porém engenhoso. Mais do que um meio de transporte, o Benz Velo era uma declaração de futuro.

Seu design mantinha muito da estética das carruagens: rodas finas de arame, assento elevado e direção por alavanca. Mas a experiência de condução era algo inteiramente novo - um misto de liberdade e audácia. Era o primeiro vislumbre de um mundo em que o homem poderia controlar a velocidade com as próprias mãos.

O Benz Velo também tem um lugar de honra no esporte automobilístico: foi com ele que Julius Ganss participou, em 1894, da primeira corrida automobilística internacional, entre Paris e Rouen. Ainda que a competição fosse mais uma demonstração tecnológica do que um duelo de velocidade, o Velo mostrou que o automóvel não era apenas uma curiosidade mecânica - era uma máquina de possibilidades.

Entre 1894 e 1901, cerca de 1.200 unidades foram fabricadas. Um número impressionante para a época, suficiente para fazer do Velo o primeiro automóvel realmente ‘popular’ - ao menos entre os poucos que podiam comprá-lo. Ele representava o início de uma nova era, quando o transporte individual começava a se libertar das rédeas e das limitações do passado.

Mais de um século depois, o Benz Velo ainda parece sussurrar uma promessa antiga: a de que a inovação nasce da coragem de romper com o conhecido. Pequeno, leve e engenhoso, ele foi o primeiro passo firme rumo ao futuro do automóvel - uma viagem que, de certa forma, ainda continua.