BLITZEN BENZ: O CARRO QUE NÃO SÓ QUEBROU RECORDES, MAS DESAFIOU OS LIMITES DA VELOCIDADE
O ano era 1909, no coração da Alemanha industrial, onde o ruído dos motores era símbolo de modernidade e ousadia, havia um nome que ecoava como um trovão – literalmente - era o ‘Blitzen Benz’, o ‘Relâmpago Benz’. Um carro que não apenas quebrou recordes, mas desafiou os limites do possível numa era em que velocidade era sinônimo de coragem.
No início do século XX, o automóvel ainda era um símbolo de aventura, mais próximo da experimentação científica do que do transporte cotidiano. Naquela época, a Benz & Cie., fundada por Karl Benz, buscava consolidar sua reputação não apenas como fabricante de carros de passeio, mas também como líder em desempenho e engenharia. O resultado desse desejo de superação foi um dos automóveis mais impressionantes e temerários da história: o Blitzen Benz, de 1909.
O nome, que em alemão significa ‘Relâmpago Benz’, não foi escolhido por acaso. Este monstro mecânico foi criado com um único propósito - ser o carro mais rápido do mundo. E, para isso, seus engenheiros decidiram que não haveria meio-termo entre o sucesso e a insanidade. Sob o longo capô repousava um motor colossal de 21.5 litros e 4 cilindros em linha, capaz de gerar cerca de 200 cv de potência - um número absolutamente inacreditável para a época, quando a maioria dos automóveis mal ultrapassava 20 cv.
A estrutura do carro era essencialmente um chassi de corrida, com uma carroceria esguia e aerodinâmica, projetada para cortar o vento em retas intermináveis. Não havia para-brisa, nem proteção para o piloto; apenas um assento exposto, um volante de madeira e o rugido ensurdecedor de um motor que parecia querer escapar do próprio carro. O Blitzen Benz era, em essência, um projétil sobre rodas.
Logo em seus primeiros testes, o carro mostrou a que veio. Em 1909, o piloto Victor Hémery, da equipe Benz, levou o Blitzen a 202.7 km/h no circuito de Brooklands, na Inglaterra - um feito que lhe deu o título de carro mais rápido do mundo. Mas a história não pararia ali.
O ‘Relâmpago’ cruzou o Atlântico e chegou aos Estados Unidos, onde a cultura da velocidade já começava a se tornar uma verdadeira febre. Em 1911, nas praias de Daytona, o piloto americano Bob Burman levou o Blitzen Benz a uma marca que entrou para a eternidade: 228.1 km/h (141.7 mph). Esse recorde não foi apenas o mais rápido entre os automóveis - foi a maior velocidade já registrada por qualquer ser humano em terra, ar ou mar até aquele momento. Nenhum avião ou barco havia atingido tal número.
O impacto foi tão grande que o Blitzen Benz se tornou uma lenda instantânea. O público o via como uma criatura mitológica, um carro que parecia cuspir fogo e desafiar os deuses da mecânica. Sua fama ajudou a Benz a consolidar sua imagem de marca inovadora e audaciosa - uma reputação que, anos mais tarde, se uniria à da Daimler para formar a Mercedes-Benz que conhecemos hoje.
Foram construídas seis unidades do Blitzen Benz, cada uma ligeiramente diferente, usadas por pilotos europeus e americanos em corridas e tentativas de recorde. Nenhum outro automóvel de sua era conseguiu combinar tanta potência, audácia e simbolismo. Ele não era apenas uma máquina veloz, mas uma declaração de poder e engenhosidade alemã, em um tempo em que o mundo ainda aprendia o significado da palavra ‘automóvel’.
Mais de um século depois, o Blitzen Benz permanece como um dos carros mais reverenciados da história. Seu recorde só seria superado muitos anos depois, já em plena era das pistas pavimentadas e motores sobrealimentados.
O Blitzen Benz original pode ser admirado no Museu Mercedes-Benz, em Stuttgart, ao lado de outras máquinas lendárias. Curiosamente, a própria marca considera o Blitzen um de seus ‘pais fundadores’ - o primeiro a provar que velocidade e emoção podiam ser tão essenciais à identidade de um carro quanto seu design ou conforto.