BMW 767iL GOLDFISCH: UM PROJETO SECRETO DOS ANOS 80 COM UM DESCOMUNAL MOTOR V16

A década de 1980 foi uma época dourada para o automóvel, daí o nascimento do BMW 767iL Goldfisch. Eram tempos de boom quando nasceram autênticas joias do automobilismo. Alguns exemplos são o Ford RS200, o Toyota Supra MKIII, o Porsche 959, o Ferrari Testarossa, o Peugeot 205 GTI, o Volkswagen Golf MK2 GTI, o Ferrari F40 e o Audi Quattro.
Também estamos falando da década em que nasceram modelos como o BMW Z1 e o BMW M3 E30. Assim, podemos ter uma ideia da relevância daqueles anos. A situação econômica era boa e os mercados financeiros iam de vento em popa. Por essa razão, a BMW imaginou desenvolver um desses projetos experimentais que tanto gostamos.
A história começa em 1987. Três engenheiros chefes da BMW, o Dr. Karlhienz Lange, Adolf Fischer e Hanns-Peter Weisbarth, que estiveram na cúpula diretiva da BMW entre os anos 70 e 90, sonharam em desenvolver um BMW com motor V16. A ideia original partiu de Lange, que buscava demonstrar o potencial máximo do projeto mecânico.
Lange era o chefe de desenvolvimento de motores da BMW naquela época, Weisbarth era chefe de desenvolvimento dos Série 7 E32 e Série 8 E31, e Fischer o encarregado dos projetos secretos.
O motor V16 foi desenvolvido em apenas seis meses e era baseado no bloco V12 da BMW. Tinha uma cilindrada relativamente pequena, de 6.651 cm3. Para se ter uma ideia, é o mesmo deslocamento do motor V12 que equipa os atuais BMW M760i e Rolls-Royce Ghost. O motor que a restrita norma de emissões da União Europeia quer liquidar.
O BMW 767iL Goldfisch V16 foi testado pela primeira vez no banco de potência no dia 24 de dezembro de 1987. Era conhecido como ‘Secret Seven’.
No entanto, este motor não tinha turbos gêmeos. Produzia ‘apenas’ 408 cv de potência a 5.200 rpm e 625 Nm de torque a 3.900 rpm. Não parece muito hoje em dia. Entretanto, este V16 representava uma melhora significativa em relação ao motor V12 M70B50 de 5.0 litros que equipava os BMW 750i e 750iL de 1987. Aquele que seria a base do motor do McLaren F1.
Como referência, o V12, em sua versão comercial, desenvolvia uma cifra total de 300 cv, enquanto que um BMW M5 E34 de especificação europeia (1988-1992) montava um bloco de 6 cilindros em linha e 3.6 litros com 315 cv e 360 Nm. A transmissão automática de 4 velocidades do 750i foi substituída por uma caixa manual de 6 velocidades herdada do Série 8.
Em números, o BMW 767iL Goldfisch V16 era capaz de alcançar os 100 km/h em cerca de 6 segundos. A velocidade máxima era de 281 km/h e o consumo variava entre 7.14 e 4.16 km/l. Mecanicamente, era uma bomba. Uma vez desenvolvido o motor, o problema que os engenheiros enfrentaram era que não se tratava de uma mecânica precisamente compacta.
Introduzi-la no BMW Série 7 E32 requeria um pouco de imaginação e saber jogar o Tetris com os diversos componentes. Era imprescindível não modificar em excesso o conjunto, mas nada resiste a um engenheiro alemão. Lange e Fischer optaram por realocar todo o sistema de refrigeração. Para isso instalaram um amplo sistema de esfriamento no porta-malas.
O novo motor V16 media 30 cm a mais que o V12 M70 e pesava apenas 60 kg extra, 310 kg no total.
Era uma configuração similar à que se utilizava nos anos 70 no BMW CSL 3.0 ganhador da IMSA. Para completar foi necessário instalar duas generosas entradas de ar de fibra de vidro nos para-lamas traseiros para que refrigerassem o radiador. Isso deu como resultado um Série 7 longo e de peculiar aspecto. Em essência, tinha uma grande grade sob a tampa do porta-malas e duas ‘orelhas’.
A nível estético, a placa de matrícula foi realocada e foram usadas lanternas traseiras de menor tamanho. Curiosamente, foram eliminadas as luzes antineblina e de marcha à ré. A nível técnico foi introduzida uma suspensão dianteira modificada e duas ECUs Bosch DME 3.3, que gerenciavam a eletrônica de maneira independente para cada bancada de 8 cilindros.
Em fevereiro de 1988 o BMW 767iL Goldfisch V16 já havia superado todos os testes necessários. Em maio desse mesmo ano o projeto estava terminado. Depois de um extenso e árduo trabalho de desenvolvimento, o protótipo foi apresentado à cúpula da empresa. E como já previam Lange, Fischer e Weisbarth, o assunto foi arquivado.
O V16 nunca chegou a entrar em produção regular. Sendo sincero, também não faria nenhum sentido que o tivessem fabricado. O único exemplar que existe foi guardado em um local seguro pela BMW em suas instalações, onde permanece até hoje sem ser exibido ao público. Nas imagens e no vídeo podemos ver o perfeito estado de conservação do BMW 767iL Goldfisch V16.