CITROËN TRACTION AVANT: O CARRO DO FUTURO NOS ANOS 30 DO SÉCULO PASSADO

Quando pensamos em carros que fizeram história no mundo do automóvel, certamente nos vem à cabeça modelos como o Ford Model T, o Volkswagen Beetle e o Fiat 500, entre outros, mas hoje queremos repassar a história de um emblemático modelo francês, na verdade o antecessor do Citroën DS, que também introduziu inúmeras inovações.
Estamos falando do Citroën Traction Avant, um modelo da marca francesa que nasceu na primeira metade da década de 1930 e que reunia uma série de inovadoras soluções que o tornaram único. Tecnologias que chegaram aos carros de produção para ficar e que, a partir de então, mudaram a forma de conceber o automóvel.
As origens
No final dos anos 20, André Citroën, fundador da marca francesa que leva seu sobrenome, buscava inspiração para dar um sopro de ar fresco à linha Citroën e substituir os antiquados 8CV, 10CV e 15CV. O objetivo era levar à estrada algo inovador e sem precedentes, que sacudisse o mercado.
Por isso, contratou algumas pesoas que se converteriam em protagonistas no projeto do novo carro: Flaminio Bertoni, encarregado do estilo, e André Lefèbvre, designado para desenvolver soluções técnicas.
Para dizer a verdade, a equipe reunida por Citroën não inventou nada, mas fez algo que até então ninguém havia tido coragem de fazer ou ninguém havia planejado: tomaram algumas das soluções técnicas mais inovadoras da época e as reuniram em um só carro.
As tecnologias
Apenas um ano e meio após o início da fase de projeto, o Citroën 7CV, mais conhecido como Citroën Traction Avant, foi apresentado ao público pela primeira vez no dia 18 de abril de 1934, data em que o mundo inteiro pôde admirar as formas criadas pelo italiano Flaminio Bertoni.
Em comparação com os carros da época, o Traction Avant era mais estreito, mais baixo e mais elegante, mas a verdadeira revolução estava debaixo da superfície. O carro francês foi o primeiro automóvel do mundo que aportou tantas inovações ao mesmo tempo.
Foi um dos primeiros modelos de produção com tração dianteira, depois do alemão DKW F1 de 1931, embora essa configuração mecânica já tivesse sido utilizada antes no mundo da competição. Abriu um precedente que dura ainda até nossos dias.
O modelo contava também com um chassi monocasco e uma carroceria de aço. Os suportes do motor também eram novos, feitos de borracha pela primeira vez, assim como a suspensão independente do eixo dianteiro.
O resultado foi uma maior rigidez torsional, o que fez com que o carro se tornasse mais preciso e seguro nas curvas, enquanto que o novo sistema de suspensão e os suportes de borracha do motor tornavam o carro mais confortável inclusive em viagens longas.
Mais de duas décadas de trajetória
Apesar de tudo, já se sabe que ‘nem tudo que reluz é ouro’. Na verdade, o fato de a fase de desenvolvimento ter sido tão rápida, levou inevitavelmente a uma série de defeitos de fabricação e falhas de funcionamento que a Citroën teve que solucionar com recalls e modificações nos veículos, o que afetou gravemente as vendas. Como resultado, André Citroën se viu obrigado a ceder o controle de sua empresa à Michelin em 1935.
No entanto, o Traction Avant foi um modelo especialmente longevo, que permaneceu no mercado durante 23 anos, de 1934 até o dia 25 de julho de 1957, data em que saiu da fábrica o último exemplar do modelo, que deixou lugar a outro carro destinado a passar para a história do automóvel: o DS.
Embora muito mais moderno e com uma configuração diferente, o Citroën DS, conhecido popularmente como ‘Tubarão’, herdou do Traction Avant o motor 1.9 e a suspensão hidropneumática, derivada do eixo traseiro autonivelante do Citroën 15H.
Muitos motores e um modelo que nunca nasceu
Ao longo de sua carreira, o Traction Avant foi oferecido em várias versões. Além dos modelos originais Coupe e Roadster, o carro francês também estava disponível em versão ‘familiar’ de chassi curto e de chassi longo, com uma distância entre os eixos de mais de 3.0 metros neste último caso.
O motor original era um bloco de 1.3 litros de 4 cilindros, com 32 cv de potência, que com o passar dos anos foi substituído primeiro por um propulsor 1.5 de 35 cv e depois por um 1.6 de 36 cv.
A unidade mais famosa e duradoura foi o 1.9 do 11CV, que teve diferentes níveis de potência ao longo dos anos, de 46 a 65 cv. No topo da linha estava o 15 Six, impulsionado por um motor de 6 cilindros com 2.8 litros e 77 cv.
Além destas unidades, a Citroën também havia previsto fabricar uma versão especial do Traction Avant denominada Super Traction ou 22CV.
Projetado para competir com os modelos mais prestigiosos da época, contava com um motor V8 e se diferenciava do resto da linha de produção por características de estilo específicas, como os faróis montados nos para-lamas e os para-choques divididos. No entanto, o modelo nunca chegou a ser produzido.