ESTA É A HISTÓRIA DOS TRÊS BUGATTI ENTERRADOS POR ETTORE NA PRIMEIRA GUERRA MUNDIAL

A história dos três Bugatti enterrados por Ettore na Primeira Guerra Mundial é uma amostra do que um homem pode fazer para preservar o projeto de sua vida. Em uma época em que a marca francesa estava em uma constante evolução, o estopim da Primeira Grande Guerra provocou um dos capítulos mais escuros da história recente da Europa, apenas superado pela Segunda Guerra Mundial. Esta é a história de como a Bugatti superou o primeiro grande obstáculo em sua promissora carreira.
A vida de Ettore Bugatti está marcada pelo sucesso e a tragédia em partes iguais. Descendente de uma família de artistas, o jovem Ettore mostrou suas habilidades na fabricação e desenvolvimento na mecânica, focando sua carreira desde muito cedo na criação de automóveis. Na verdade, com apenas 18 anos já havia construído o Bugatti Type 1, seu primeiro carro. Isso levaria Bugatti a criar uma série de carros de rua e de competição durante a primeira década do século XX.
No entanto, foi em 1910 que nasce o Bugatti Type 13, o destaque desta história. Apenas um ano depois de constituir a empresa em Molsheim (Alsacia), o Type 13 se converte em um dos primeiros veículos a equipar quatro válvulas por cilindro. É considerado um adiantamento a seu tempo, assim como um dos modelos mais bem-sucedidos da marca em competições. Em seus primeiros anos de vida conseguiria inclusive um segundo lugar no Grande Prêmio da França de 1911 disputado em Le Mans. Isso levaria Bugatti a trabalhar durante mais de uma década para evoluir e aperfeiçoar o Type 13.
Entretanto, Ettore não contava com o estopim da Primeira Guerra Mundial em 1914. Este acontecimento paralisaria a atividade na Europa e colocaria em cheque a economia mundial, o que incluiu, inevitavelmente, os fabricantes de automóveis. E claro, isso incluiu a Bugatti, que tinha sua sede em um dos epicentros do conflito bélico.
Ettore Bugatti se viu obrigado a paralisar a produção em sua fábrica de Molsheim durante a Grande Guerra. Segundo conta a lenda, ele levou dois Type 13 consigo a Milão (Itália) e enterrou as peças e componentes de outros três exemplares nas imediações da planta. Isso permitiria preservar alguns dos ativos da empresa durante a guerra e lhe concederia uma segunda oportunidade para renascer a partir de 1918.
Após finalizar a Primeira Guerra Mundial, Ettore Bugatti volta a Molsheim. O Tratado de Versalhes obrigou a Alemanha pagar fortes indenizações por seu papel protagonista na guerra. Entre elas se encontrava a devolução da Alsacia à França. Isso permitiu à Bugatti inscrever-se como fabricante francês no Salão de Paris de 1919, onde exibiu os Type 13, Type 22 e Type 23.
Voltando à competição, onde Bugatti colocaria grande parte de seus esforços, Ettore consegue montar três unidades do bem-sucedido Type 13. Os dois primeiros seriam os carros resgatados da Primeira Guerra Mundial que viajaram a Milão. O terceiro, no entanto, seria montado com as peças enterradas nas imediações da fábrica em 1914. A empresa se inscreve com estes três veículos naquela que seria a primeira corrida na França depois da guerra.
O Grande Prêmio da França de 1920 foi disputado em agosto desse ano e Bugatti conseguiria chamar a atenção de todos. Seu Type 13 cruzaria a linha de chegada na primeira posição, um veículo que havia sobrevivido a um dos capítulos mais escuros do século XX.
Esta seria a primeira das grandes vitórias da marca no período entre as guerras. A próxima vitória chegaria em 1937 já no formato de corrida de 24 horas. A segunda, em 1939, teria um protagonista comum, Jean-Pierre Wimille, acompanhado neste caso de Pierre Veyron no comando do novo Bugatti 57C. Esta última é, talvez, a vitória mais importante deste período para Bugatti, já que ambos os pilotos brilharam em Le Mans com um só carro e escassos recursos.