FACEL VEGA HK500: O GRAN TURISMO FRANCÊS QUE DESAFIOU OS DEUSES DE MARANELLO
No auge da década de 1960, quando nomes como Ferrari, Aston Martin e Maserati dominavam o cenário dos gran turismos, a França ousou sonhar grande. E o sonho tinha nome: Facel Vega. Uma marca nascida não de um gigante industrial, mas de uma empresa especializada em carrocerias de luxo - a Forges et Ateliers de Construction d’Eure-et-Loir, ou simplesmente Facel.
Sob o comando visionário de Jean Daninos, a Facel Vega decidiu criar automóveis que refletissem o requinte francês aliado à potência americana. O resultado foi um conjunto de máquinas elegantes, rápidas e profundamente distintas - e entre todas elas, o HK500, lançado em 1958 e produzido até 1961, tornou-se o emblema máximo dessa filosofia.
O design do HK500 é um espetáculo de proporções equilibradas e presença imponente. Sua carroceria em aço, de linhas retas e postura aristocrática, combinava a sofisticação parisiense com a robustez de um grand tourer de alta velocidade. O interior, por sua vez, era um verdadeiro salão de luxo sobre rodas: couro costurado à mão, instrumentos emoldurados em madeira (na verdade, uma pintura imitando madeira, feita com primor artístico), e acabamento digno dos melhores ateliês da Europa.
Mas o verdadeiro segredo do HK500 estava sob o longo capô dianteiro. Lá dormia - ou melhor, rugia - um V8 Chrysler americano, disponível em diferentes versões de 5.8 ou 6.3 litros, capaz de entregar até 360 cv de potência. Associado a uma transmissão automática TorqueFlite ou a uma caixa manual Pont-à-Mousson de 4 velocidades, o HK500 podia acelerar de 0 a 100 km/h em menos de 8 segundos e alcançar 230 km/h - números impressionantes para a época, colocando-o lado a lado com Ferraris e Aston Martins.
Apesar do peso superior a 1.700 quilos, o chassi bem ajustado, a suspensão independente dianteira e os freios a disco Dunlop nas versões mais recentes garantiam um comportamento surpreendentemente equilibrado. Era um carro feito para cruzar a Europa em alta velocidade, sem pressa e sem esforço - um verdadeiro gran turismo à moda francesa, com o charme e a elegância que só Paris poderia inspirar.
Entre seus admiradores, constavam nomes ilustres: Pablo Picasso, François Truffaut, Ringo Starr e até Stirling Moss. Cada um via no HK500 algo diferente - um objeto de arte, um instrumento de viagem, uma afirmação de estilo. Mas todos concordavam em uma coisa: o Facel Vega era diferente de tudo o que havia sobre quatro rodas.
Infelizmente, a ousadia custou caro. A Facel Vega, pequena e artesanal, lutava contra os custos de produção e a concorrência cada vez mais feroz. Em 1964, após uma tentativa malfadada de criar um modelo menor, a empresa fechou as portas - mas deixou um legado de elegância e audácia que até hoje encanta colecionadores e historiadores.
O Facel Vega HK500 permanece como uma das mais belas declarações de independência da indústria automobilística francesa. Um carro que ousou desafiar os gigantes com charme, força e uma pitada de insolência - exatamente como só os franceses sabem fazer.