FERRARI F166 INTER STABILIMENTI FARINA COUPÉ 1949: A ELEGÂNCIA QUE INAUGUROU O MITO
O ano de 1949 marcou o despertar definitivo de uma lenda. A Europa ainda se recuperava das ruínas da Segunda Guerra Mundial, mas o espírito italiano da beleza e da velocidade permanecia intacto. Foi nesse cenário que Enzo Ferrari, ex-piloto e profundo conhecedor do automobilismo, começou a transformar um sonho em realidade. O F166 Inter foi um dos primeiros carros de estrada a ostentar o Cavallino Rampante, e sua missão era clara: provar que os carros de Maranello não eram apenas máquinas de corrida, mas também obras de arte sobre rodas.
O nome ‘F166 Inter’ já dizia muito. O número 166 correspondia à cilindrada individual de cada um dos 12 cilindros do motor - uma tradição que a Ferrari manteria por muitos anos. O ‘Inter’, por sua vez, simbolizava o uso ‘internazionale’, uma versão civilizada dos potentes carros de competição F166 S e F166 MM, campeões em pistas como Le Mans e Mille Miglia. Era o primeiro passo na criação de uma linhagem de Gran Turismo que se tornaria a alma da Ferrari.
Sob o longo capô repousava o lendário V12 Colombo - um motor de 2.0 litros, projetado por Gioachino Colombo, engenheiro que também trabalhara na Alfa Romeo antes da guerra. Compacto, leve e incrivelmente sofisticado, o motor rendia cerca de 110 cv, permitindo que o F166 Inter atingisse 170 km/h, uma marca notável para o final dos anos 1940. Mais do que números, o que impressionava era o som: um rugido metálico e refinado, que anunciava o início de uma nova era.
A carroceria do F166 Inter foi assinada pela Stabilimenti Farina, um dos ateliês mais elegantes e respeitados de Turin - e primo próximo do futuro Pinin Farina, que se tornaria o parceiro mais emblemático da Ferrari. O design combinava sobriedade e sofisticação: linhas fluidas, proporções equilibradas e uma silhueta levemente fastback, típica do pós-guerra, transmitindo movimento mesmo quando o carro estava parado. O resultado era uma obra que unia técnica e arte, potência e elegância - a essência do estilo italiano.
No interior, o requinte era quase artesanal. Cada unidade era construída de forma individualizada, adaptando detalhes de acabamento conforme o gosto do cliente. Couro macio, instrumentos metálicos e o inconfundível volante de madeira faziam do habitáculo um verdadeiro santuário para quem apreciava a combinação entre luxo e desempenho.
Apenas 37 exemplares do Ferrari F166 Inter foram produzidos entre 1948 e 1950, todos diferentes entre si - alguns com carrocerias Touring, Ghia ou Bertone, mas os criados pela Stabilimenti Farina são os mais equilibrados e delicados em proporção. Eles marcaram o nascimento da Ferrari como fabricante de automóveis de estrada, um marco fundamental após os sucessos nas pistas.
Mais do que um carro, o F166 Inter foi o primeiro manifesto do DNA Ferrari: o motor V12 de alma esportiva, o design refinado e o compromisso com a exclusividade. Era o anúncio de uma filosofia que transformaria Enzo Ferrari em mito e Maranello em sinônimo de perfeição mecânica.
Hoje, o Ferrari F166 Inter Stabilimenti Farina Coupé é uma joia de valor incalculável. Um automóvel que carrega o peso da história e a pureza de uma época em que o nome Ferrari ainda era uma promessa - mas já soava como destino.