FERVES RANGER: O PEQUENO GIGANTE DAS ESTRADAS ITALIANAS
Nos anos 1960, a Itália vivia um momento de otimismo. O país crescia, as cidades se expandiam e a mobilidade começava a ser uma necessidade nacional. Em meio a essa efervescência, um engenheiro chamado Carlo Ferrari (sem relação com Enzo Ferrari) teve uma ideia ousada: criar um mini utilitário capaz de ir a qualquer lugar - da fazenda à praia, das montanhas às vielas das pequenas vilas italianas - com o mesmo espírito ágil dos carros urbanos, mas com a robustez de um jipe.
Assim nasceu, em 1965, o Ferves Ranger, fabricado pela pequena empresa FERVES (FERrari VEicoli Speciali), de Turin. Um nome curioso que já denunciava sua ambição: construir veículos ‘especiais’, diferentes de tudo o que se via nas ruas. E de fato, o Ranger era especial - meio FIAT, meio jipe, completamente italiano.
A base técnica vinha do FIAT 500 e 600, ícones da mobilidade popular da época. O Ranger utilizava o motor e a transmissão do 500 (com o motor traseiro de 499 cm³ e cerca de 18 cv de potência), mas o chassi era inteiramente novo, reforçado para uso fora de estrada. Havia ainda versões equipadas com componentes do FIAT 600D, incluindo um motor um pouco mais vigoroso de 767 cm³, que elevava a potência a modestos, porém valentes, 25 cv.
Mas o segredo do Ferves Ranger não estava na força - e sim na leveza e na tração. Com pouco mais de 500 quilos, ele era incrivelmente ágil e, em certas versões, dispunha de tração nas quatro rodas, algo raríssimo para um carro tão pequeno. Essa configuração o tornava capaz de enfrentar subidas íngremes, estradas de terra e até pequenos cursos d’água, transformando-o num verdadeiro mini todo-terreno.
Visualmente, o Ranger parecia saído de um desenho animado - e talvez seja justamente isso que o torna tão carismático. Seu design funcional e despretensioso tinha um charme quase inocente: faróis redondos, carroceria curta e quadrada, e portas baixas que se abriam ao estilo ‘meia altura’, lembrando os jipes militares. O para-brisa rebatível e a capota de lona removível completavam o conjunto, conferindo-lhe uma versatilidade que encantava tanto agricultores quanto aventureiros.
O interior era simples ao extremo. Dois bancos dianteiros, um pequeno painel com instrumentos básicos e, nas versões de quatro lugares, um banco traseiro quase simbólico. Mas o Ranger compensava a falta de luxo com carisma e propósito. Era um carro que convidava à diversão e à descoberta, um companheiro fiel para o dia a dia rural ou para o fim de semana na montanha.
Entre 1965 e 1971, foram produzidas cerca de 600 unidades do Ferves Ranger - um número pequeno, que hoje o torna um verdadeiro tesouro colecionável. Poucos sobreviveram em bom estado, o que aumenta ainda mais seu fascínio entre entusiastas e colecionadores de microcarros e utilitários raros.
O Ranger participou até de alguns eventos off-road e exposições de época, onde surpreendia pela coragem com que enfrentava terrenos desafiadores. Era o David dos 4x4, enfrentando gigantes com um sorriso mecânico e um ronco leve de motor FIAT.
Hoje, o Ferves Ranger é visto como um símbolo do espírito inventivo italiano - aquele mesmo que deu origem aos supercarros, mas que também soube criar soluções engenhosas para a vida cotidiana. Um pequeno grande carro, nascido da simplicidade e da inteligência.