FORD CAPRI: O COUPE AMERICANO CONCEBIDO NO REINO UNIDO

A influência dos modelos americanos sobre os fabricantes europeus nos anos 60 era muito mais forte do que atualmente, e se refletia não só no design, mas também nas formas e tamanhos.
Nesse período foi produzida na Europa uma série de modelos esportivos de generoso tamanho e fortemente inspirados em seus primos do outro lado do Atlântico, como o Opel Commodore e especialmente o Ford Capri. Dois autênticos clássicos atualmente.
O desenvolvimento deste último esteve condicionado por uma espécie de concorrência interna que durou cerca de dez anos, entre os centros de estilo das filiais britânica e alemã da Ford, com o êxito final da primeira. De fato, em 1965, a planta de Dagenham apresentou o projeto final mais convincente, também estilisticamente falando, com claras referências ao Ford Mustang, um modelo que estava fazendo um enorme sucesso nos Estados Unidos e no mundo.
A ambição da Ford era criar um modelo que fosse tão popular em toda a Europa como já era o Escort, e para isso propôs uma fisionomia única, tomando como base o Cortina do Reino Unido e o Taunus da Alemanha, mas diferenciando a linha de motores e o equipamento conforme o mercado.
O que todos tinham em comum era a solidez da carroceria, e graças ao seu tamanho (4.3 metros de comprimento e 1.65 metros de largura), um relativo conforto. Além disso, contavam com o atrativo de um nome já utilizado no Reino Unido para a versão Coupe do Ford Consul e nos Estados Unidos para um Lincoln Cabriolet.
A oferta de motores começou com o pequeno bloco 1.3 V4 do Taunus e do similar Essex britânico, mas cresceu até incluir unidades de 1.5, 1.6 e 1.7 litros, às quais logo se somaram unidades de 2.0 e 3.0 litros no mercado britânico e de 2.3 litros na Alemanha.
O Capri também era versátil em termos de equipamento. Começando pelos modelos mais simples, mas bem equipados, se podia passar ao GT e ao elegante Ghia, com teto coberto de vinil.
Os modelos de maior desempenho eram coroados pelos primeiros RS2600, que contavam com um motor V6 de 2.6 litros e 150 cv, e que serviram de base para o desenvolvimento de versões de corridas para competir no campeonato de turismos.
Em seus primeiros anos, o Capri recebeu apenas um leve facelift, preâmbulo da chegada de um restyling mais importante já em 1974. Isso deu lugar à segunda série ou MKII: nessa ocasião, a carroceria foi toda revisada e redesenhada, suavizando um pouco as linhas e aumentando ligeiramente a distância entre os eixos e a largura, mas sobretudo dando ao conjunto uma tampa traseira mais cômoda.
Essa modernização, acompanhada de uma linha de motores substancialmente igual à anterior, não foi tão popular entre o público, embora a crise do petróleo e a conseguinte austeridade também contribuíram para a queda das vendas, tornando menos atrativos os carros esportivos.
Embora os ânimos esfriassem, isso não desanimou a Ford, que no final dos anos 70 lançou a terceira série (MKIII), evoluindo de novo a linha na direção de uma maior aerodinâmica para acompanhar a melhoria do desempenho e da eficiência.
A linha mais uma vez foi baseada na anterior, mas as vendas só foram boas no Reino Unido, onde o carro contava com muita popularidade, o que fez com que a empresa se concentrasse nesse mercado e oferecesse um equipamento especial com kits de design inspirados nos rallys, para impulsionar a apreciada versão com o motor de 3.0 litros.
O impulso final chegou em 1982, quando o motor 3.0 foi substituído por um novo 2.8 V6 com injeção de combustível, conhecido como ‘Injection’ e que produzia 160 cv, que se elevavam a 206 cv na versão especial Tickford com seu equipamento especialmente luxuoso.
O novo motor revitalizou a imagem do modelo, que conseguiu manter certo interesse resistindo à invasão dos cada vez mais populares esportivos compactos que surgiam na época, e fechar sua carreira em 1986 com pouco menos de 1.900.000 unidades produzidas no total, incluindo a vendidas sob a marca Mercury nos Estados Unidos.