FORD MUSTANG: A HISTÓRIA DE UM MITO QUE NEM TODOS CONHECEM

A palavra Mustang, que a Ford também escolheu recentemente para batizar o seu primeiro carro elétrico da nova era (o Mustang Mach-E), combina com performance e emoção, mas se voltarmos às origens da linhagem, nascida em 1964, se descobre uma história muito diferente.
O carro, que estava destinado a converter-se rapidamente em um dos muscle cars mais emblemáticos das décadas de 60 e 70 do século passado, na verdade começou sua jornada com ambições menos extremas e muito mais generalistas.
Uma grande ideia
O projeto do Ford Mustang começou no início dos anos 60, quando Lee Iacocca, o emblemático diretor da empresa, desenvolveu um novo projeto de automóvel dirigido à geração dos chamados ‘Baby Boomers’, os nascidos logo após a Segunda Guerra Mundial.
O orçamento, no entanto, era limitado pela necessidade de manter as contas sob controle após o encerramento da marca Edsel, de modo que foi necessário utilizar o maior número possível de componentes de outros modelos.
A linha foi definida através de uma série de protótipos, o primeiro dos quais também levava o nome de Cougar junto com o de Mustang, que mais tarde seria adotado para um modelo da Mercury. Foi escolhida como base a plataforma do Ford Falcon, mas com reforços estruturais e dimensões ligeiramente inferiores.
Com 4.60 metros de comprimento e 1.78 de largura, era considerado um compacto e acabou inaugurando as vertentes muscle car e pony car.
O esportivo para todos
Lançado no dia 17 de abril de 1964, na Feira Mundial de Flushing Meadows, em New York, o Mustang literalmente foi um sucesso: com carrocerias coupe (hardtop) e conversível, ambas de quatro lugares, e uma linha atraente, mas não excessivamente agressiva, demonstrou ser um modelo de gosto universal, capaz de conquistar jovens e pessoas mais velhas, com uma parte importante do público feminino, ao qual a campanha de comunicação se dirigiu com especial atenção.
O grande sucesso do carro, com mais de 20.000 pedidos apenas no dia do seu lançamento, deveu-se também a dois elementos chave: o preço partindo de 2.368 dólares, e a disponibilidade de uma autêntica avalanche de opções, incluindo as mecânicas.
Na verdade, o carro vinha com um motor base de 2.8 litros e 6 cilindros com apenas 105 cv, adequado para o cliente mais tranquilo, mas podia ser equipado alternativamente com motores V8 de maior potência, transmissões de 3 ou 4 velocidades, incluindo as automáticas, e vários níveis de equipamento.
O Fastback
A primeira geração do Mustang permaneceu no catálogo durante apenas quatro meses, razão pela qual continua sendo chamada de ‘1964 e ½’. Em setembro desse ano chegou o modelo 1965, que além de uma série de pequenas novidades, viu a estreia da terceira versão de carroceria, o Fastback, um coupe de cauda elegante que se tornaria o favorito durante muitos anos.
Nesse mesmo ano também durgiu a primeira preparação esportiva da Shelby, com o primeiro GT350 propulsionado por um V8 Windsor de 4.7 litros, ajustado para gerar 310 cv, dando lugar a uma série paralela que esteve quase sempre presente ao longo da história do Mustang.
Primeiras evoluções
Assim como ocorreu com outros modelos famosos, como o Chevrolet Corvette, a primeira geração do Mustang sofreu várias evoluções estéticas e técnicas, mantendo essencialmente a mesma base, neste caso até 1973.
O primeiro restyling substancial foi o de 1967, que trouxe consigo os primeiros motores V8 ‘Big Block’, começando pelo bloco de 6.4 litros com 325 cv.
Com as séries seguintes, a oferta tornou-se mais robusta e potente, e chegaram outras versões orientadas ao desempenho, que às vezes também eram utilizadas para a homologação de carros de competição que participavam em diversas modalidades, incluindo o campeonato NASCAR.
Entre os Mustang de alto desempenho mais famosos estavam também os Boss, com motores 429 e 302: a abreviatura indica a cilindrada em polegadas cúbicas, equivalentes a 7.0 litros no primeiro caso e 4.9 no segundo, para potências de 380 e 294 cv, respectivamente.
O Mustang II
O que aconteceu a partir de 1974 até os anos 90 não é lembrado com uma ênfase especial pelos entusiastas mais implacáveis do modelo: inicialmente o Mustang foi substituído por um modelo mais compacto e menos glamoroso, batizado como Mustang II.
Construído sobre a base do Pinto, o Mustang II era bem-acabado, mas era menos potente e rápido, com uma gama de motores de 4 e 6 cilindros (uma exigência imposta pela crise do petróleo), na qual foi acrescentado um V8 só em 1975.
No entanto, as vendas foram boas porque para muitos clientes este Mustang retomou seu papel de carro accessível e agradável desde a primeira série, após as evoluções cada vez mais extremas dos anos anteriores.
Terceira e quarta geração
O Mustang II foi substituído em 1979 por uma nova geração que continuava sendo relativamente compacta, com 4.56 metros de comprimento, porém mais atualizada. Seguiu-se, em 1982, a volta das versões de maior desempenho com o GT, equipado com um V8 de 5.0 litros da família Windsor, com uma potência inicial de 160 cv, que se elevou a 225 cv em 1987 e que devolveu o Mustang à família dos Muscle Car.
A queda das vendas fez com que a direção da Ford considerasse durante algum tempo encerrar a carreira do modelo e substitui-lo por um esportivo mais moderno como o Probe, mas inesperadamente foi o público que saiu em defesa do Mustang para que a dinastia fosse mantida.
Em 1994 estreou a quarta geração, que tecnicamente tomava a base Fox como o seu antecessor, mas que se destacava por seu design vanguardista, antecipado pelo famoso concept car Mach II de 1993. Esta série revitalizou a imagem do Mustang, sobretudo após o restyling do início da década de 2000, graças às versões GT e Cobra, com motores entre 250 e mais de 300 cv.
Esta geração celebrou o 40º aniversário do Mustang em seu último ano, 2004, com uma edição especial disponível apenas em vermelho com faixas douradas.
A era moderna
Graças aos diversos projetos nostálgicos do princípio da década de 2000 (desde o Volkswagen New Beetle até o Fiat 500), os muscle e pony cars também se voltaram para uma inspiração mais orientada no passado.
O Mustang entrou no mainstream com a quinta geração em 2005, que se inspirou diretamente nas versões do final dos anos 60, mas que também contou com uma plataforma completamente nova e uma suspensão dianteira do tipo McPherson.
Mais sofisticada ainda foi a geração seguinte, em 2015, que se converteu em um produto global e finalmente chegou à Europa de forma oficial, com o clássico 5.0 V8 aspirado de 435 cv e acompanhado de um 2.3 EcoBoost turbo de 4 cilindros, com 315 cv, enquanto que um V6 de 3.7 litros foi oferecido como versão de acesso nos Estados Unidos.
Esta geração, à venda até hoje, serviu de inspiração para o novo Mustang, apresentado no último mês de setembro, que será o último equipado com motores a combustão, antes da reconversão completa da marca para os elétricos.