FORD RS: UMA HISTÓRIA DE QUASE 50 ANOS
- O Salão de Genebra 2015 marca o regresso da sigla RS à linha da Ford através do Focus RS, herdeiro da longa história dos modelos Rally Sport da marca
Sempre que utilizou a designação RS (sigla que significa Rally Sport), a Ford conheceu o sucesso, e já se passaram praticamente cinquenta anos de história. Nesse meio tempo, a Ford ainda se dedicou a alguns modelos que de esportivo mesmo tinham muito pouco e que por isso não mereciam a sigla RS, trocada pela XR dos anos 80 ou a ST na primeira década do novo milênio, mas que ajudaram a vender em todo o mundo, um pouco dos modelos como o Sierra, Fiesta e Escort que utilizavam as designações.
Quando a Ford apresentou para a imprensa o Focus RS em sua fábrica de Köln, na Alemanha, estiveram expostos no local, vários modelos da marca que utilizaram a sigla RS em diferentes épocas.
As siglas que representam os modelos esportivos da linha Ford já conheceram várias formas. Na realidade tudo começou em 1963 quando uma parceria com a Lotus de Colin Chapman, deu origem a um dos mais icônicos carros da Ford, o Cortina Lotus MK1. Mais tarde, já nos anos 80, a Ford surgiu com a sigla XR, que foi colocada em alguns modelos como o Sierra XR4, o Escort XR3 e o Fiesta XR2. Posteriormente a Ford abandonou a sigla XR e surgiu com a ST que perdura até os dias de hoje em modelos como o Focus e o Fiesta.
Nesse meio tempo, outra sigla foi utilizada pela Ford e com muito mais sucesso e quase sempre ligada a modelos exclusivos de alta performance e dedicados à competição em pistas ou em Rallys. Rally Sport foram as palavras que deram origem à sigla RS e que já foram utilizadas em uma série de veículos da Ford, a maioria deles verdadeiros ícones da história dos automóveis esportivos.
Depois de fabricar o Cortina GT, a associação com a Lotus deu origem também ao Cortina Lotus, dois modelos que tiveram grande sucesso nos anos 60. Mais tarde surgiu o Escort MK1 e o Escort Twin Cam. Porém, os índices de performance ainda não satisfaziam os engenheiros da Ford e por essa razão e para manter o sucesso experimentado, a marca decidiu que os novos modelos esportivos deveriam ser fabricados por uma nova equipe que estava baseada em Aveley, Essex, Reino Unido.
Dessa forma, em 1970, nascia a Ford Advanced Vehicle Operations (AVO), cuja missão era extremamente simples: criar, desenhar, desenvolver e produzir modelos de elevadas performances derivados de modelos de produção em série, próprios para serem usados no dia-a-dia, nas pistas ou em provas de rally.
Alimentados pela paixão pelos modelos esportivos e pela carta branca dada pela alta cúpula da Ford em Detroit, o grupo de técnicos da AVO rapidamente colocou mãos à obra e logo em janeiro de 1970 colocavam no mercado o Ford Escort RS1600. O modelo utilizava o motor BDA usado na Fórmula 2, um bloco de 1.6 litros, com distribuição por correia, dois eixos comando e 4 válvulas por cilindro, uma absoluta novidade na Ford e alimentação por carburadores. Este fabuloso motor produzia 120 cv.
Para comercializar o Ford Escort RS1600, a marca criou uma nova rede de distribuição e venda conhecida como Rallye Sport, que acabou por oferecer o seu nome às iniciais dos modelos mais esportivos, os RS.
Após o lançamento do RS1600, imediatamente foi proposta uma versão melhorada com a cilindrada aumentada para os 1800 cc. Foi um Escort RS1600 com motor 1.8 litros que venceu, com Hannu Mikkola, o rally Londres-México. Vitória que deu origem à criação pela AVO, de uma série especial denominada Ford Escort Mexico. Modelo que foi amplamente utilizado em competições, especialmente, nos rallys e hoje é um carro raro e muito cobiçado pelos colecionadores.
A AVO não ficaria só nisso e em quatro anos nasceram mais modelos Escort, incluindo o RS2000 MK1 bem como os Capri equipados com motor V6, os RS2600 e os RS3100. Lembrando que o RS2000 venceu muitos rallys e campeonatos nacionais e internacionais e os Capri conquistaram três títulos europeus de turismo.
No meio da década de 70, a Ford introduziu a segunda geração do Escort, a MK2, uma das mais bem sucedidas de todos os tempos, e nesse mesmo tempo, a AVO criava o RS1800. Ainda utilizando o bloco BDA, o fabuloso automóvel – hoje um verdadeiro ícone e muito apreciado por colecionadores e amantes do automobilismo esportivo – tornou-se o modelo Ford mais bem sucedido em competições, ganhando os títulos de pilotos e construtores no Mundial de Rallys de 1979.
Em 1976, a AVO lançou um RS2000 com um mais acessível motor Pinto e que era reconhecido pela frente inclinada com quatro faróis redondos. Conhecido por muitos como o Escort da “frente alemã”, foi o primeiro Ford esportivo a ter preocupações aerodinâmicas, essa era a razão da frente estranha que se aplicava à carroceria tradicional do Escort.
Graças a esta frente e ao pequeno spoiler traseiro de borracha, colocado por cima da tampa do porta-malas, o Escort RS2000 (com apenas 110 cv) tinha 16% menos de arrasto, o que lhe permitia ter uma velocidade bem superior ao esperado de um carro com tão modesta potência.
Mais tarde, os concessionários RS criaram uma versão X-Pack que tirava 150 cv do bloco Pinto de 2.0 litros e possuía os contornos das rodas mais largos. As várias versões de competição criadas ao redor do RS2000 que lhe outorgaram vários sucessos, permitiram que este fosse o modelo RS mais vendido de todos os tempos.
O Escort MK2 durou um bom tempo, até que finalmente em 1980, a Ford lançou a terceira geração do Escort. E aqui começou o declínio dos modelos esportivos da Ford. No meio de muita contestação por parte dos fiéis apreciadores do Escort RS de tração traseira, lançar um Escort RS com tração dianteira foi quase um crime de lesa-pátria.
Apesar disso, a Ford manteve o rumo e rapidamente colocou à venda o RS1600i, sendo que o i colocado na denominação indicava a utilização da injeção direta ao invés de carburadores. O bloco era um 1.6 litros CVH com dupla bobina e eixo comando mais agressivo, que permitia nas versões de competição chegar às 6500 rpm e aos 165 cv. A produção estava limitada a cinco mil unidades, mas a procura foi tão grande que a Ford chegou a produzir 9 mil unidades, terminando a produção em 1984. Neste meio tempo tiveram ainda os XR3 nas versões de carburadores e XR3i com injeção. O RS1600i foi também o primeiro Escort a ter transmissão de cinco velocidades, tinha bancos Recaro, vidros elétricos, travamento central das portas e vidros escurecidos. Outro modelo hoje com forte procura por colecionadores.
Nesse mesmo ano de 1984, no lugar do RS1600i, a Ford colocou o Escort RS Turbo. Na versão de estrada a potência não ia além de 140 cv, potência considerada abusiva na época e que levou a Ford a colocar um diferencial viscoso autoblocante. Assim como com o RS1600i, o RS Turbo foi muito bem sucedido nas provas de pista e nos rallys. Eram os anos do Grupo B, com verdadeiros “monstros” e por isso a Ford rapidamente percebeu que não iria conseguir lutar de igual para igual com Lancia e Peugeot – como havia feito antes com a Lancia e a Fiat com os Escort MK2 – com um derivado de série, no caso o RS1700T.
Nascia, assim, o mais desejado e o mais caro modelo RS de todos os tempos, o fabuloso RS200. Protótipo de dois lugares, tinha o motor em posição central traseira, quatro rodas motrizes e um chassi tubular com fibra de carbono. Para ser homologado, foram fabricadas 200 unidades de estrada equipados com um motor Cosworth produzindo 255 cv, extraídos de um bloco de 2.0 litros com quatro cilindros, turbo, que na versão de competição chegou a ter mais de 650 cv. Com uma carroceria atraente e proporções que faziam dele um dos mais belos carros de rallys de todos os tempos.
Abandonados os rallys com o RS200, a Ford recuperou o motor Cosworth de 2.0 litros turbo com cabeça de 16 válvulas e duplo comando e colocou-o no Sierra. Modelo nascido em 1982, teve várias versões e até a famosa XR4i e depois a XR4i 4x4 que chegou a ser utilizada em rallys. Foi esta a base – na versão de duas e posteriormente de quatro portas conhecida como Sapphire – que deu origem a um dos mais famosos modelos RS: o Sierra RS Cosworth, que era capaz de chegar aos 240 km/h.
Para que as equipes que usavam o Sierra nos campeonatos de Turismo pudessem ter ainda mais força, a Ford lançou o Sierra Cosworth RS500, modelo feito pela Tickford com uma produção de apenas 500 unidades. Novos injetores, um turbocompressor ainda maior da Garrett, maior intercooler e retoques na aerodinâmica, permitiam que o modelo fosse um verdadeiro dominador nas pistas. A versão de competição produzia mais de 500 cv e foi tão dominante que a FIA foi obrigada a mudar os regulamentos para o tornar menos competitivo. Um carro que hoje tem um alto valor no mercado, sendo também muito procurado pelos colecionadores.
Já em 1988, a Ford lançou o Sierra RS Cosworth, mas com a carroceria de quatro portas que, dois anos depois, viria a receber um sistema de tração integral que deu origem ao Sierra RS Cosworth 4x4. Modelo que conheceu algum sucesso nos rallys e nas competições do grupo A.
Nos anos 90 a Ford lançou a quinta geração do Escort e os técnicos da marca rapidamente trabalharam em sua versão de competição. E nem foi preciso trabalhar muito. Rejeitando o chassi do novo modelo – fabricado pensando apenas na tração dianteira – pegaram o chassi do Sierra RS Cosworth 4x4 e encurtando-o, criaram o Escort RS Cosworth. Um carro fabuloso que se engrandeceu de forma decisiva no Mundial de Rallys com vitórias em provas como em Monte Carlo de 1994. Com o Escort RS Cosworth e a sua famosa asa em forma de barbatana de baleia, os modelos RS entraram em declínio.
A renovação feita na quinta geração do Escort matou o caro RS Cosworth, surgindo no seu lugar o RS2000, modelo que nunca esteve sequer perto do brilho do modelo original e sendo o oposto daquilo que foi o Escort RS Cosworth. Nesse mesmo período, a Ford ainda lançou o Fiesta RS Turbo, que teve vida muito curta pois o bloco 1600 do XR2 mesmo com turbo não ia além dos 135 cv, surgiu em 1990 e sumiu em 1992. Foi substituído pelo RS1800 (com motor aspirado produzindo 132 cv), mas nenhum deles era um verdadeiro RS.
Entrando no novo milênio, a Ford decidiu mudar muita coisa em sua linha e uma das decisões foi acabar com o Escort que deu lugar ao Focus. Em 2002, cinco anos depois de ter desaparecido o RS2000, a Ford lançou o Focus RS. Este sim, um automóvel que de base, tinha tudo para dar uma bela versão esportiva e que fez renascer a fama das versões RS, tanto nos rallys (onde conquistou inúmeras vitórias) como no dia a dia, com a produção esgotada rapidamente. E o sucesso prolongou-se com a segunda geração do Focus RS, equipada com o bloco de cinco cilindros. Este último conheceu uma versão RS500, mais radical e que foi o mais potente de todos os modelos RS até hoje produzidos: 350 cv.
Depois da história dos modelos RS, fica a curiosidade de saber como será o novo Focus RS. Isto porque se a Ford continuar dominando em termos de comportamento em estrada no segmento B (Fiesta) e C (Focus), o RS será certamente fabuloso. Este que é o primeiro dos 12 modelos que a Ford vai lançar sob a nova sub-marca Ford Performance, certamente vai honrar quase 50 anos de história R(ally) S(port).