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No alvorecer do século XX, enquanto a maioria das fábricas americanas ainda testava fórmulas para o automóvel ideal, uma pequena empresa do norte do estado de New York decidiu seguir um caminho completamente diferente. Fundada por Herbert H. Franklin, a Franklin Automobile Company acreditava que leveza, eficiência e simplicidade eram mais importantes do que potência bruta. Essa filosofia culminou em um dos carros mais engenhosos e originais de seu tempo: o Franklin Model H Cape Top Runabout de 1909.

À primeira vista, o Model H parecia apenas mais um elegante automóvel da era do latão - com seu capô arredondado, faróis de cobre polido e carroceria de madeira meticulosamente trabalhada. Mas bastava olhar debaixo do capô para perceber o quanto ele se diferenciava da concorrência. No lugar de um radiador e de todo o aparato de resfriamento à água, o Model H trazia um motor refrigerado a ar, um verdadeiro prodígio técnico para a época.

O motor de 6 cilindros, montado longitudinalmente, entregava cerca de 28 cv de potência, e sua operação dispensava o uso de radiador, mangueiras, bomba d’água e líquido de arrefecimento. O resultado era um automóvel mais leve, mais simples e menos sujeito a falhas - ideal para as estradas ainda irregulares e as longas distâncias da América rural. Além disso, a Franklin utilizava um chassi em madeira de freixo e carvalho, flexível e resistente, que proporcionava um conforto de rodagem surpreendente.

O Model H Cape Top Runabout era uma das versões mais refinadas da linha Franklin. Seu nome ‘Cape Top’ referia-se à capota conversível em tecido, elegante e prática, enquanto o termo ‘Runabout’ indicava sua configuração leve e esportiva para dois passageiros. O resultado era um automóvel que combinava eficiência mecânica e estilo com um toque de exclusividade - afinal, os Franklin eram carros caros, voltados para uma clientela que valorizava a engenharia tanto quanto o prestígio.

Em 1909, custava cerca de 2.500 dólares, valor considerável - quase cinco vezes o preço de um Ford Model T. Mas quem o dirigia sabia que estava em um carro à frente de seu tempo. O funcionamento suave do motor, o silêncio da mecânica e a ausência de superaquecimento encantavam condutores exigentes. Franklin chamava seu sistema de ‘arrefecimento natural’, e promovia seus carros como os mais confiáveis para longas viagens.

O Model H tornou-se símbolo da identidade Franklin - a marca dos engenheiros sonhadores, dos que acreditavam que o automóvel podia ser leve, racional e elegante ao mesmo tempo. Em uma era dominada pela força e pela simplicidade, a Franklin escolheu o caminho da sofisticação técnica.

Hoje, o Franklin Model H Cape Top Runabout de 1909 é lembrado como um marco de engenhosidade americana. Ele representa o espírito pioneiro de uma época em que cada fabricante buscava sua própria verdade mecânica. E, no caso da Franklin, essa verdade estava no ar - literalmente.