INTERMECCANICA ITALIA 1972: O CHARME ITALIANO COM CORAÇÃO AMERICANO
O Intermeccanica Italia é um daqueles carros que nasceram de uma mistura irresistível de culturas: design italiano, alma americana e um toque de ousadia artesanal. Um legítimo gran turismo com passaporte internacional.
No turbulento cenário automobilístico dos anos 1960 e 1970, surgiram várias pequenas montadoras que tentaram unir o melhor de dois mundos: o design emocional da Itália e a confiabilidade mecânica dos Estados Unidos. Poucas, no entanto, conseguiram traduzir essa fusão com tanta elegância quanto a Intermeccanica, uma empresa fundada em 1959 por Frank Reisner, um engenheiro canadense de origem húngara, que escolheu Turim como seu lar automotivo.
A marca começou modestamente, fabricando kits de desempenho para carros europeus, mas logo ganhou notoriedade por criar esportivos sob medida, com carrocerias projetadas por mestres italianos e potentes motores americanos. Foi nesse contexto que, em 1966, nasceu o projeto que culminaria no Intermeccanica Italia, inicialmente conhecido como Griffith GT e, mais tarde, Omega, antes de finalmente adotar o nome que o consagraria.
O Italia combinava linhas sensuais assinadas por Franco Scaglione, o mesmo gênio responsável por clássicos como o Alfa Romeo BAT e o Abarth 750. Seu design era uma celebração do estilo italiano da época: faróis duplos embutidos, capô longo, traseira curta e musculosa, e uma postura baixa e agressiva que o colocava lado a lado com Ferrari e Maserati em termos de presença.
Debaixo do capô, porém, batia um coração tipicamente americano - o V8 Ford 351 Cleveland, com mais de 300 cv de potência, acoplado a uma transmissão manual de 4 velocidades. Essa combinação garantia ao Italia um desempenho notável, com aceleração vigorosa e aquele ronco grave que apenas um motor americano poderia oferecer.
O interior não ficava atrás: o couro costurado à mão, os instrumentos dispostos em estilo aeronáutico e o acabamento artesanal faziam do cockpit um ambiente luxuoso e envolvente. Era um carro feito para quem queria exclusividade e emoção, sem abrir mão da praticidade mecânica que os motores americanos proporcionavam - uma escolha inteligente em tempos em que a manutenção de um V12 europeu era sinônimo de dor de cabeça.
Em 1972, o Intermeccanica Italia representava o auge e, ao mesmo tempo, o crepúsculo da marca em sua forma original. As dificuldades financeiras e logísticas, somadas às mudanças do mercado, acabaram por limitar a produção a cerca de 400 unidades - o que hoje torna cada exemplar uma raridade cobiçada.
Apesar disso, o espírito da Intermeccanica nunca desapareceu. Frank Reisner mudou-se posteriormente para o Canadá, onde a empresa renasceu sob o nome Automobile Intermeccanica, dedicando-se à construção de réplicas clássicas e veículos especiais.
O Italia, porém, permanece como o seu magnum opus - o ponto em que o romantismo do design italiano e a brutalidade mecânica americana encontraram equilíbrio perfeito. Um grand tourer que, mesmo sem a fama das marcas mais sonoras, carrega em suas curvas o DNA de uma era em que a paixão ainda dirigia a indústria.