ISO LELE: A ELEGÂNCIA ITALIANA COM A FÚRIA DE UM V8 AMERICANO
A história do Iso Lele começa com a ousadia de um homem: Renzo Rivolta, fundador da Iso Rivolta. Originalmente um fabricante de motocicletas e microcarros - incluindo o lendário Isetta, que mais tarde seria licenciado pela BMW -, a Iso mudou de direção nos anos 1960, entrando no competitivo mundo dos grand tourers de luxo. O objetivo era ambicioso: desafiar Ferrari, Maserati e Aston Martin com carros que combinassem o design italiano e a confiabilidade dos motores americanos.
O Lele, lançado em 1969, foi o terceiro modelo da marca voltado a esse público seleto, sucedendo o Grifo e o Rivolta GT. O nome curioso tinha origem pessoal: Lele era o apelido da esposa de Piero Rivolta, filho de Renzo e herdeiro da marca - uma homenagem íntima e afetiva, que conferia ao carro um toque de exclusividade desde o batismo.
Visualmente, o Lele exibia o melhor do design italiano da época. Desenhado por Marcello Gandini, então na Bertone - o mesmo gênio responsável pelo Lamborghini Miura e pelo Alfa Romeo Montreal -, o modelo trazia linhas angulares e proporcionais, um capô longo e uma traseira curta, expressando elegância e agressividade em perfeita harmonia.
Debaixo do capô, a sofisticação estética dava lugar à brutalidade mecânica: o Lele era equipado com motores V8 americanos, inicialmente da Chevrolet (o mesmo 5.4 litros do Corvette), e, a partir de 1972, da Ford Cleveland, com até 360 cv. Essa combinação de potência e robustez fazia do Lele um verdadeiro grand tourer de estrada, capaz de ultrapassar os 250 km/h com facilidade, mantendo o conforto e a estabilidade que definiam o padrão Iso.
O interior refletia o luxo artesanal característico da marca: couro costurado à mão, madeira polida e instrumentos analógicos emoldurados em metal escovado. Tudo era pensado para o prazer do condutor, sem exageros, mas com um refinamento que rivalizava com o de um Maserati Ghibli ou de um Jensen Interceptor - seu rival direto em conceito e espírito.
Apesar do desempenho e do estilo marcante, o Lele enfrentou um contexto econômico desfavorável. A crise do petróleo de 1973 e o alto custo de produção dos motores americanos afetaram duramente a Iso Rivolta, que encerrou suas atividades em 1974. No total, foram construídas apenas cerca de 285 unidades do Lele - o que o torna hoje uma raridade de imenso valor histórico.
Entre as versões mais notáveis esteve o Lele IR6 Sport, desenvolvido em 1972 para comemorar o envolvimento da Iso com o automobilismo, especialmente sua ligação com a equipe de Fórmula 1 Iso–Marlboro, de Frank Williams - um curioso elo entre o luxo das estradas e a velocidade dos circuitos.
Com o tempo, o Iso Lele passou a ser visto como o símbolo do fim de uma era: a dos GTs italianos movidos por motores americanos, um casamento improvável que produziu alguns dos automóveis mais carismáticos já construídos.
Hoje, o Lele é lembrado como um dos grandes outsiders do design italiano - uma máquina de elegância fria, potência abundante e personalidade única, fruto da genialidade de uma marca que ousou sonhar além de suas possibilidades.
O Iso Lele representa o último suspiro romântico da Iso Rivolta - um carro nascido da paixão e da convicção de que o verdadeiro luxo é sentir o poder e o estilo coexistindo sob o mesmo capô.