ITALA 120 HP WORKS RACING CAR: O GIGANTE ITALIANO QUE CONQUISTOU O MUNDO
Na Itália dos primórdios do século XX, o automobilismo era uma aventura tão heroica quanto perigosa. Era o tempo em que as corridas de estrada cruzavam países inteiros, e os motores rugiam como feras indomadas em meio a poeira e bravura. Nesse cenário épico, surge um dos nomes mais lendários da era pioneira: o Itala 120 HP Works Racing Car de 1907, um monstro mecânico que escreveu seu nome na história ao conquistar uma das competições mais extraordinárias de todos os tempos.
A Itala, fundada em 1904 em Turin por Matteo Ceirano, pertencia à mesma geração de pioneiros que deu origem a marcas como FIAT, Isotta Fraschini e Lancia. Seu lema era ousado: construir automóveis que unissem potência, elegância e inovação - e nada demonstrou isso melhor do que o colossal Itala 120 HP.
Projetado por Giovanni Battista Cappa, o 120 HP foi concebido como uma verdadeira máquina de guerra sobre rodas. Seu coração era um motor de 7.4 litros e 6 cilindros em linha, capaz de entregar - como o nome já sugeria - cerca de 120 cv de potência, um número quase impensável para 1907. O propulsor, montado sobre um chassi robusto de aço e alumínio, alimentava as rodas traseiras através de uma transmissão de 4 velocidades. O carro podia ultrapassar 160 km/h, uma velocidade aterradora para a época, considerando os pneus estreitos, os freios rudimentares e as estradas de terra e cascalho.
Mas foi sua participação na corrida Pequim-Paris de 1907 que transformou o Itala em lenda. A prova, organizada pelo jornal francês Le Matin, desafiava os competidores a cruzar mais de 15 mil quilômetros, partindo da China e atravessando a Mongólia, Sibéria e Europa até chegar à capital francesa. Uma odisseia sem precedentes, em que o 120 HP pilotado pelo príncipe Scipione Borghese, acompanhado por Luigi Barzini (jornalista do Corriere della Sera) e o mecânico Ettore Guizzardi, mostrou-se invencível.
Enquanto outros competidores enfrentavam atoleiros, desastres mecânicos e exaustão, o Itala avançava como um touro indomável. Seu chassi elevado e confiável permitia atravessar rios, desertos e trilhas improvisadas com surpreendente resistência. Em certo ponto, quando ficaram sem combustível, Borghese chegou a percorrer cerca de 600 quilômetros extras até Moscou para reabastecer - e ainda assim manteve a liderança.
Após 60 dias de jornada, o Itala cruzou a linha de chegada em Paris vinte dias antes do segundo colocado. A vitória não foi apenas um feito esportivo, mas um símbolo de superioridade técnica italiana. O carro, coberto de poeira e glória, tornou-se um ícone de resistência, engenhosidade e espírito aventureiro.
Visualmente, o Itala 120 HP Works Racing Car impressionava com suas proporções monumentais: capô alongado, radiador vertical em bronze polido, rodas de madeira maciça e bancos de couro expostos ao vento e à lama. Era, ao mesmo tempo, brutal e elegante - uma obra de arte funcional que combinava engenharia e coragem em doses iguais.
Hoje, o exemplar vencedor daquela jornada lendária está preservado no Museu Nacional do Automóvel de Turin, como um testemunho da era em que os automóveis não eram apenas máquinas, mas instrumentos de conquista humana. O Itala 120 HP não foi apenas um carro de corrida; foi uma epopeia sobre rodas - o rugido da Itália ecoando pelo mundo.