JAGUAR XK120 BAROU BERLINETTE: A BELEZA ANGLO-FRANCESA DE UM EXEMPLAR ÚNICO
No final dos anos 1940, o mundo começava a respirar novamente após as sombras da Segunda Guerra Mundial. A indústria automotiva britânica, em particular, estava pronta para recuperar o prestígio perdido - e a Jaguar foi uma das primeiras a se levantar com imponência. Em 1948, durante o Salão de Londres no Earls Court, Sir William Lyons apresentou o Jaguar XK120, um esportivo que redefinia padrões de design e desempenho. Seu nome fazia referência à velocidade máxima declarada - 120 milhas por hora (quase 200 km/h) -, um feito impressionante para um carro de produção em série.
Sob o longo capô, batia o lendário motor XK de 3.4 litros e 6 cilindros em linha, um projeto totalmente novo que combinava duplo comando de válvulas e câmaras hemisféricas. Era o início de uma linhagem de motores que equiparia Jaguars por mais de quatro décadas. O XK120 se tornou um sucesso imediato: belo, veloz e relativamente acessível.
Mas entre os mais abastados da época, havia um costume peculiar - encomendar carrocerias especiais a renomados ateliês europeus. E é nesse contexto que nasce o Jaguar XK120 Barou Berlinette, um exemplar único, esculpido pelo carrossier francês Jean Barou, de Montpellier.
Barou já era conhecido por suas criações sobre chassis Delahaye e Talbot-Lago, onde explorava curvas sensuais e linhas fluidas ao estilo ‘aerodynamique’ francês. Ao receber o chassi do Jaguar, ele enxergou uma oportunidade de unir o espírito britânico de desempenho à elegância curvilínea francesa.
O resultado foi uma Berlinette de linhas fascinantes: capô longo e afilado, para-lamas dianteiros integrados ao corpo principal, e uma traseira fastback que se estendia suavemente até o para-choque. O teto baixo e os vidros laterais envolventes davam ao carro uma aparência quase de avião em miniatura. Diferente do XK120 original em alumínio ou aço, a carroceria Barou foi construída artesanalmente em alumínio batido à mão, com acabamento primoroso.
No interior, o requinte se mantinha: bancos revestidos em couro marrom, instrumentos Smiths no painel de madeira e uma ergonomia mais refinada do que a dos modelos de série. Apesar do luxo, o coração mecânico continuava o mesmo - o seis-em-linha de 160 cv, capaz de levar o carro a mais de 190 km/h.
Essa combinação de potência britânica e escultura francesa fez do Jaguar XK120 Barou Berlinette uma peça absolutamente singular. Apenas um exemplar foi construído, e acredita-se que tenha sido exibido no Salão de Paris de 1951, representando o auge da colaboração entre tradição e arte automotiva.
Hoje, o carro é considerado um dos mais raros Jaguar da história, frequentemente comparado a obras-primas únicas da era artesanal europeia. Sua presença em eventos de Concours d’Élégance é raríssima - e cada aparição é tratada quase como a redescoberta de um tesouro perdido.
O Barou Berlinette é mais do que um carro: é o reflexo de um tempo em que o automóvel era uma tela em branco para o artista, e a velocidade, uma forma de arte.