LADA GRANTA CLASSIC: SOBREVIVENDO ÀS SANÇÕES À RÚSSIA COM TECNOLOGIA DOS ANOS 90

Os russos sabem como é viver isolados do resto do mundo, pelo menos se tiverem a idade suficiente para lembrar-se da era soviética. Nesse momento, a Rússia é o país mais sancionado do mundo, mais até que a Coreia do Norte, e sua economia não caiu mais porque seu governo não admite, e suaviza a situação. A AvtoVAZ é um bom exemplo de como andam as coisas por lá.
A marca LADA estava sob o controle da Renault até que os franceses tiveram que riscar do seu balanço todos os ativos na Rússia em troca de um rublo, entregando a empresa à Central de Pesquisa Científica Automotriz da Rússia (NAMI), dependente do Kremlin. A LADA voltou a ser uma marca estatal.
Durante semanas foram feitas alterações no LADA Granta Classic para poder voltar a fabricá-lo sem aquelas peças que o tornavam um carro moderno. Desta forma, a fábrica de Toliatti pôde voltar a funcionar e oferecer o carro mais barato da Rússia, entre outras coisas pela falta de concorrentes.
A versão Classic era a mais barata do Granta, agora é a única. É oferecido nas três carrocerias: liftback, sedan e perua, com um antigo motor a gasolina de 90 cv que não supera a norma de emissões Euro 3. Fica o consolo de que anuncia um consumo de 15.4 km/l e admite gasolina de 92 octanas.
Anunciado como o ‘carro anti-sanções’, seus preços começam em 658.300 rublos, cerca de 59.000 reais, ficando um pouco mais barato que a versão prévia. A oferta comercial inclui um desconto de 20.000 rublos (1.800 reais) para financiamento e entrega de um carro na troca. Inclusive tem três anos de garantia.
A parte ruim é que não conta com airbags, freios ABS, controle de estabilidade e pré-tensores para os cintos de segurança. Tampouco conta com sistema de som, embora tenha a pré-instalação e quatro alto-falantes. É claro que não há nenhuma sofisticação, como navegador GPS ou coisas assim. Esses componentes não são fabricados na Rússia.
O novo Lada Granta Classic vem de série com elementos que antes eram próprios de versões superiores, como frisos nas portas, maçanetas e carcaças dos espelhos pintadas na cor da carroceria. As rodas padrão são de aço de 14 polegadas com calotas, mas opcionalmente há rodas de 15 polegadas.
Pelo menos vem com direção assistida elétrica, vidros dianteiros elétricos, ISOFIX, luzes de circulação diurna, computador de bordo e fecho centralizado. É anunciado como uma versão melhorada em relação a conforto e design. Ao seu lado, até os Dacia Logan romenos podem ser considerados ‘full equip’.
É a resposta a uma situação de crise brutal na Rússia pelo efeito das sanções. O país trata de estimular o parque de fornecedores e serem autossuficientes com uma injeção de 30 bilhões de rublos, cerca de 2.7 bilhões de reais. O coringa dos chineses não serviu, eles não querem exportar nada aos russos que esteja sujeito a sanções para evitar problemas.
Além do Lada Granta Classic, sabemos que há intenção de ressuscitar o Renault Duster com os emblemas da LADA. Este modelo vinha sendo fabricado em Moscou, na fábrica que a Renault perdeu, onde também querem fabricar novamente modelos da marca Moskvicht, possivelmente com alguma base do fabricante chinês JAC.
Durante uma boa temporada o mercado russo conviverá com uma oferta muito escassa e básica. Se compararmos as vendas de maio com as do ano passado, elas despencaram 83.5% e os preços dos carros dispararam a níveis absurdos. O Granta tem facilidade para se manter como o número 1 do mercado russo, sobretudo se não houver concorrência.
A economia russa foi duramente atingida apesar das receitas recorde pela venda de petróleo e gás. A inflação oficial é de 17.1%, a projeção oficial de queda do PIB é de 7.8%, embora analistas independentes acreditem que cairão 30%.