LAGONDA LG45 RAPIDE TOURER: O SOPRO DA ARISTOCRACIA BRITÂNICA SOBRE RODAS
A Inglaterra da década de 1930 era uma época em que o luxo e a velocidade dançavam lado a lado, mesmo sob as nuvens sombrias da guerra que se aproximava. O Lagonda LG45 Rapide, um dos mais notáveis esportivos britânicos pré-guerra era, sem dúvida, um dos automóveis mais elegantes e refinados já produzidos pela marca de Staines.
Em 1936, a Lagonda vivia um momento de transformação. Fundada em 1906 por Wilbur Gunn, um engenheiro norte-americano radicado na Inglaterra, a marca havia conquistado fama pela excelência técnica e pelo apuro de construção. No entanto, o cenário econômico pós-crise de 1929 exigia ousadia, e foi justamente sob esse espírito que nasceu o LG45 Rapide, o ápice da elegância e do desempenho britânico em sua época.
O projeto foi conduzido sob a direção de W. O. Bentley, que havia se juntado à Lagonda após a falência de sua própria marca em 1931. Com ele, a empresa recebeu um sopro de genialidade. Bentley pegou a base mecânica do Lagonda M45 - um carro já potente por natureza - e refinou-a até o limite da excelência. O resultado foi um grand tourer capaz de unir a força bruta de um motor de 6 cilindros e 4.5 litros à sofisticação de um autêntico carro de cavalheiros.
Com 140 cv à disposição, o LG45 Rapide era capaz de atingir cerca de 170 km/h, um feito absolutamente notável para um automóvel de estrada em meados da década de 1930. O motor de válvulas no cabeçote, alimentado por carburadores SU gêmeos, entregava potência com suavidade e um ronco profundo, quase aristocrático. Mas o segredo do modelo estava no equilíbrio: chassi leve, suspensão de molas semielípticas e uma carroceria desenhada com precisão aerodinâmica garantiam uma dirigibilidade que poucos rivais podiam oferecer.
Visualmente, o Rapide era pura poesia automobilística. Sua carroceria - muitas vezes atribuída à estilosa coachbuilder Lagonda Works - exibia uma dianteira longilínea, grade alta e radiador em formato de concha, além de para-lamas que fluíam suavemente até a traseira. O interior, por sua vez, era um refúgio de luxo: couro de altíssima qualidade, instrumentos Smiths e acabamento em madeira polida completavam o ambiente de um verdadeiro carro de gentlemen.
Produzido em quantidade ínfima - cerca de 25 unidades -, o LG45 Rapide foi mais do que um carro: foi uma declaração de arte e engenharia britânica num tempo em que o mundo prestes a mergulhar na guerra ainda sonhava com a beleza da velocidade.
Uma joia que antecipou o futuro
O LG45 Rapide serviu de base técnica e filosófica para o modelo seguinte, o Lagonda V12, que marcaria o ápice da elegância da marca antes do conflito mundial interromper suas atividades. Décadas depois, o nome ‘Rapide’ seria ressuscitado pela Aston Martin - que, curiosamente, comprou a Lagonda em 1947 -, em homenagem direta a esse ícone dos anos 1930.
Hoje, o LG45 Rapide é considerado uma raridade entre colecionadores, valorizado não apenas por sua mecânica de exceção, mas também por sua importância histórica: é o testemunho de uma era em que o luxo era medido pelo refinamento e a performance, pela nobreza do motor.
Durante o Salão de Londres de 1936, o stand da Lagonda chamou atenção não por extravagância, mas por elegância silenciosa: ao lado do LG45 Rapide, havia uma pequena placa com os dizeres “For those who live swiftly, yet travel well”, traduzindo, “Para aqueles que vivem depressa, mas viajam bem”. Poucas frases definem tão bem o espírito desse magnífico automóvel.