LEYLAND-THOMAS Nº1: O RUGIDO ESQUECIDO DE BROOKLANDS - O CARRO QUE DESAFIOU OS GIGANTES DAS PISTAS BRITÂNICAS
No turbulento início da década de 1920, quando o automobilismo britânico começava a florescer após a Primeira Guerra Mundial, um nome ousado surgiu nos circuitos de Brooklands e Shelsley Walsh: Leyland-Thomas Nº1. Criado em 1922 por um engenheiro brilhante e um piloto destemido, este carro de competição foi a síntese de engenhosidade, improviso e paixão pela velocidade - uma verdadeira expressão da era heroica do automobilismo.
A história começa com J. G. Parry Thomas, um engenheiro galês que havia trabalhado na Leyland Motors, famosa por seus caminhões e veículos pesados. Thomas acreditava que os motores da empresa tinham potencial muito além do uso comercial e decidiu provar isso nas pistas. Quando deixou a Leyland, levou consigo a experiência e a ambição de criar seu próprio carro de corrida. Assim nasceu o Leyland-Thomas Nº1, montado a partir de um chassi de Leyland Eight - um automóvel de luxo da marca - radicalmente modificado para competir em alta velocidade.
O coração do carro era um motor de 6 cilindros em linha e 7.2 litros, um colosso mecânico para a época, equipado com duplo comando de válvulas e cabeçote de alumínio - tecnologias avançadas no início da década de 1920. O conjunto gerava cerca de 230 cv, o que permitia ao Leyland-Thomas ultrapassar os 200 km/h, algo extraordinário para um carro de corrida britânico daquele período.
O visual era austero e funcional: carroceria estreita, rodas de arame e um longo capô que parecia interminável, cobrindo o enorme propulsor. O piloto, exposto ao vento e à vibração intensa, sentava-se em uma posição quase sobre o eixo traseiro - um lembrete do quanto a coragem era requisito fundamental para correr naquela era.
Parry Thomas pilotou pessoalmente o carro em diversas provas, alcançando feitos notáveis e quebrando recordes de velocidade em Brooklands, o lendário autódromo em formato de ovo. O Leyland-Thomas Nº1 competiu contra marcas como Sunbeam, Napier e Bentley, mostrando que um projeto independente podia rivalizar com gigantes estabelecidos.
Mais tarde, Thomas refinaria o conceito e criaria o ainda mais extremo Leyland-Thomas Nº2, antes de se dedicar ao icônico ‘Babs’, o carro com o qual buscaria - e tragicamente perderia - o recorde mundial de velocidade em 1927. Ainda assim, o Nº1 permaneceu como a pedra fundamental de sua jornada e uma das máquinas mais audaciosas já produzidas em solo britânico.
Hoje, o Leyland-Thomas Nº1 é lembrado como um símbolo da genialidade artesanal e da ousadia técnica de Parry Thomas - um homem que acreditava que a engenharia era tanto arte quanto coragem.
Um carro nascido da obstinação de um engenheiro e que, por um breve momento, fez o coração do automobilismo britânico bater mais forte em Brooklands.