LORRAINE-DIETRICH FJ/24 DOUBLE PHAETON 1910: O ESPLENDOR DA ELEGÂNCIA MECÂNICA
O início do século XX foi uma época em que o automóvel era mais do que um meio de transporte: era uma afirmação de status, estilo e progresso técnico. No coração dessa época dourada, surge o Lorraine-Dietrich FJ/24 Double Phaeton de 1910, um exemplar que traduzia o luxo e a engenharia refinada da marca francesa, ainda em sua fase mais artesanal e aristocrática.
O ano era 1910, e a Europa vivia um período de efervescência tecnológica e cultural. O automóvel, ainda um símbolo de prestígio reservado às elites, tornava-se o brinquedo preferido da nobreza e dos grandes industriais. A Lorraine-Dietrich, então uma das casas automotivas mais respeitadas da França, era sinônimo de sofisticação, potência e prestígio, atributos que se materializavam com maestria no FJ/24 Double Phaeton.
Fabricado na unidade de Lunéville, no nordeste francês, o modelo pertencia à geração dos grandes automóveis de turismo da marca, aqueles destinados a longas viagens em estradas recém-pavimentadas e cercadas por paisagens bucólicas. O nome ‘Double Phaeton’ descrevia sua carroceria aberta de quatro lugares, com duas fileiras de assentos e uma linha de cintura alta, em estilo aristocrático, proporcionando conforto e imponência.
Sob o longo capô de alumínio repousava um motor de 4 cilindros em linha de 24 cavalos fiscais - equivalentes a cerca de 4.5 litros de cilindrada real - um propulsor robusto e de funcionamento suave, acoplado a uma transmissão manual de 4 velocidades. Para a época, tratava-se de um conjunto avançado, especialmente considerando o acabamento e a precisão mecânica que caracterizavam os carros de Lunéville.
A estrutura do FJ/24 era construída sobre um chassi de aço prensado, com suspensão por molas semi-elípticas e freios a tambor apenas nas rodas traseiras - o padrão técnico do período. Mesmo assim, a condução era notavelmente refinada, reflexo do cuidado que a Lorraine-Dietrich aplicava em cada detalhe.
O design do carro, imponente e fluido, expressava a transição entre o visual carruagem e o automóvel moderno. Os faróis de acetileno, as lanternas laterais e o para-brisa bipartido destacavam-se sobre a carroceria artesanal, muitas vezes assinada por renomados encarroçadores franceses como Labourdette ou Kellner. O interior era revestido em couro costurado à mão, com instrumentos em latão polido e detalhes em madeira - uma verdadeira obra de arte sobre rodas.
O FJ/24 não era apenas um veículo de luxo: era também uma demonstração do poder técnico da marca. A Lorraine-Dietrich já se destacava por seu domínio sobre motores de grande porte e pela solidez de construção herdada de sua experiência industrial - afinal, antes dos automóveis, a empresa fabricava locomotivas e motores estacionários.
Essas qualidades fariam da Lorraine-Dietrich uma das favoritas da aristocracia europeia e da alta sociedade francesa. Seus carros eram vistos nos boulevards de Paris, em viagens à Riviera Francesa e nas grandes residências do interior. Conduzir - ou ser conduzido em - um Lorraine-Dietrich era símbolo de distinção e refinamento.
Poucos anos depois, a marca entraria em uma nova fase, produzindo motores de avião durante a Primeira Guerra Mundial e, mais tarde, conquistando glórias esportivas nas 24 Horas de Le Mans. Mas o FJ/24 Double Phaeton permanece como uma das expressões mais puras de sua era pré-guerra - uma combinação harmoniosa de engenharia sólida, estética elegante e espírito pioneiro.
O charme da raridade
Hoje, um Lorraine-Dietrich FJ/24 é uma verdadeira raridade. Pouquíssimos exemplares sobreviveram ao tempo, e os que restam são guardados como tesouros em coleções particulares e museus europeus. O som grave do motor, o brilho do latão e a presença imponente da carroceria evocam um tempo em que dirigir era uma experiência solene, quase cerimonial.
Cada Lorraine-Dietrich produzido nessa época era montado praticamente à mão, com tolerâncias medidas em milímetros e inspeção detalhada em cada componente. A fábrica de Lunéville, apelidada de ‘La Maison de la Précision’ (A Casa da Precisão), era considerada uma das mais avançadas da França - e seus carros, verdadeiras obras-primas do artesanato mecânico.