MASERATI 4CS 1100: EM 1934 SURGE O PEQUENO HERÓI DE MODENA
O Maserati 4CS 1100 é um daqueles automóveis que unem de forma perfeita o espírito artesanal e competitivo da Maserati dos anos 1930. Um carro menor, mais leve, mas absolutamente carregado do DNA de corrida que definia a marca. Vamos conhecer esse pequeno gigante que brilhou nas pistas e subidas de montanha europeias.
Na primeira metade da década de 1930, a Maserati já havia se firmado como uma força no automobilismo internacional. Após o sucesso dos modelos 8C e do extraordinário Tipo V4 de 16 cilindros, os irmãos Maserati perceberam que também havia espaço para carros de menor cilindrada - veículos mais acessíveis, ágeis e adequados às competições de categorias leves e de montanha, que faziam enorme sucesso na Itália.
Foi assim que nasceu o Maserati 4CS, um modelo que representava a essência da filosofia esportiva da marca: leveza, precisão e potência suficiente para transformar cada curva em um espetáculo. O nome ‘4CS’ indicava suas características fundamentais - 4 cilindros, Corsa (corrida), Spider -, revelando logo de início que se tratava de um carro feito para competir.
A versão de 1934, equipada com o motor 1.100 cc, era uma das mais carismáticas. Desenvolvido por Ernesto Maserati, o motor de 4 cilindros em linha contava com duas válvulas por cilindro, comando simples no cabeçote e compressor Roots, resultando em aproximadamente 80 cv de potência - um número expressivo para um carro que pesava menos de 750 kg. O chassi, leve e bem equilibrado, proporcionava excelente comportamento dinâmico, ideal para as provas de montanha e circuitos estreitos que dominavam o calendário esportivo da época.
Visualmente, o Maserati 4CS 1100 encantava com sua elegância funcional. O desenho da carroceria - frequentemente confeccionada pela Carrozzeria Zagato ou pela Officine Maserati em versões monoposto ou spider - exibia proporções harmoniosas, com o capô longo, grade arredondada e faróis independentes emoldurados por pequenos suportes cromados. O interior era puro minimalismo esportivo: dois bancos baixos, volante de madeira e um painel com poucos instrumentos, todos dedicados à performance.
Mas o que realmente consagrou o 4CS foi seu desempenho nas pistas. Entre 1934 e 1937, o modelo tornou-se presença constante em competições como a Mille Miglia, a Targa Florio e as corridas de subida de montanha que desafiavam pilotos e máquinas por toda a Itália. Um dos momentos mais marcantes veio na Mille Miglia de 1935, quando o piloto Luigi ‘Gigi’ Platé levou um 4CS 1100 à vitória em sua categoria, consolidando a reputação do pequeno Maserati como um adversário temível, mesmo diante de carros de maior cilindrada.
A Maserati produziu o 4CS em várias configurações de motor – 1.100, 1.500 e 2.000 cc -, sempre em quantidades reduzidas, com variações de carroceria e mecânica conforme o cliente. Essa abordagem artesanal fez de cada exemplar uma peça única, adaptada aos desejos e estilo de pilotagem de seu comprador.
O Maserati 4CS 1100 permanece até hoje como um símbolo do período mais romântico do automobilismo. Era o tempo em que corridas eram travadas em estradas abertas, os pilotos guiavam por instinto e os carros eram moldados quase à mão, sem o auxílio de cálculos aerodinâmicos ou túnel de vento - apenas a sensibilidade e o talento dos engenheiros italianos.
Alguns exemplares do Maserati 4CS receberam o apelido carinhoso de ‘piccolo tridente’ - o ‘pequeno tridente’ - pela combinação de tamanho compacto e bravura nas competições. Um desses carros, pilotado por Luigi Taramazzo, ainda é lembrado por ter completado a Mille Miglia com desempenho tão vigoroso que rivalizou com máquinas de cilindrada quase três vezes maior.