MASERATI TIPO V4 ZAGATO SPORT SPIDER 1932: O MONSTRO DE 16 CILINDROS QUE DESAFIOU A LÓGICA
No final da década de 1920, a Officine Alfieri Maserati ainda era uma jovem marca italiana, movida por paixão, engenhosidade e uma obstinação quase artesanal pela competição. Fundada em 1914 em Bologna pelos irmãos Alfieri, Ettore, Ernesto e Bindo Maserati, a empresa tinha um único objetivo: construir automóveis que vencessem corridas - e que o fizessem com estilo, potência e sofisticação técnica.
Foi com esse espírito que nasceu, em 1929, o projeto mais ambicioso que a Maserati já havia concebido até então: o Tipo V4, nome que se referia ao impressionante motor V16 montado a partir da junção de dois blocos de 8 cilindros em linha, derivados do bem-sucedido Maserati Tipo 26B. O resultado era um colosso mecânico de 4.000 cm³, com duas árvores de comando por bancada, quatro carburadores e duas velas por cilindro - um conjunto que entregava cerca de 305 cv de potência a 5.500 rpm, algo absolutamente inédito para o período.
O desempenho era tão avassalador que, em setembro de 1929, o piloto Baconin Borzacchini quebrou o recorde mundial de velocidade média em 10 km, atingindo 246.07 km/h no circuito de Cremona. Com isso, o Maserati V4 tornou-se o primeiro carro da história a ultrapassar a barreira dos 240 km/h em uma estrada pública. Era o triunfo da engenhosidade italiana sobre os limites tecnológicos da época.
Mas o que nos leva à história de 1932 é uma transformação quase poética. Após alguns anos de competição, o chassi de um desses Maserati V4 foi enviado à Carrozzeria Zagato, em Milão, com a missão de receber uma nova carroceria para uso esportivo e exibição. O resultado foi o Maserati Tipo V4 Zagato Sport Spider, uma das mais belas e poderosas máquinas de seu tempo.
A Zagato, fiel à sua filosofia de leveza e aerodinâmica, criou uma carroceria Spider de proporções perfeitas, com linhas suaves, um longo capô abrigando o imenso V16, e um habitáculo compacto, aberto, feito para dois. O resultado era uma fusão magistral entre brutalidade mecânica e elegância artesanal - um equilíbrio que apenas o design italiano poderia alcançar. O acabamento em tons de verde, detalhes cromados sutis e o inconfundível tridente Maserati na grade frontal completavam o visual de um carro que mais parecia uma escultura em movimento.
Apesar de sua beleza e inovação, o Tipo V4 Zagato Sport Spider era quase indomável. O motor, montado longitudinalmente e com distribuição de peso pouco favorável, tornava a condução exigente e física. Contudo, seu ronco grave e o desempenho arrasador - com velocidade máxima superior a 260 km/h - o tornavam uma verdadeira lenda entre os entusiastas de automobilismo da época.
Apenas um exemplar foi construído com essa carroceria especial da Zagato, tornando o Maserati Tipo V4 Zagato Sport Spider de 1932 um ícone absoluto de raridade. Após sua exibição em salões e eventos na Itália, o carro desapareceu por décadas, até ser restaurado e reapresentado nos anos 2000 em concursos de elegância como Pebble Beach, onde foi aclamado como uma das mais impressionantes criações da era pré-guerra.
O Maserati Tipo V4 foi o primeiro carro de corrida com motor V16 da história, precedendo até mesmo os lendários Auto Union alemães. O som de seu motor - uma sinfonia metálica de dezesseis cilindros alimentados por quatro carburadores - ficou marcado na memória de todos que o ouviram, sendo descrito na época como “um trovão afinado pelo próprio Netuno”.