MATHIS EMY 6: ELEGÂNCIA, CONFORTO E AMBIÇÃO FRANCESA NA ERA DO DESAFIO
O Mathis EMY 6 é um modelo que representa a fase mais madura e ambiciosa do fabricante francês. Um automóvel que, além de refletir o requinte dos anos 1930, também mostra como a Mathis tentou se reinventar diante de um cenário industrial cada vez mais competitivo.
No início da década de 1930, a Mathis, sob o comando visionário de Émile Mathis, vivia um momento de transição. Depois de ter alcançado notável sucesso na década anterior com seus carros compactos e acessíveis, a marca buscava ampliar sua presença no mercado, oferecendo veículos de maior prestígio, capazes de rivalizar com nomes como Peugeot, Citroën e Renault - e até com alguns fabricantes de luxo europeus.
Foi nesse contexto que surgiu o Mathis EMY 6, apresentado em 1933. O nome do modelo seguia a convenção da época dentro da marca: ‘EMY’ indicava uma linha de automóveis de médio e alto padrão, e o número ‘6’ fazia referência ao motor de 6 cilindros em linha, que simbolizava potência, suavidade e refinamento - atributos que Émile Mathis considerava essenciais para reposicionar sua empresa no segmento superior.
O EMY 6 foi projetado com uma abordagem equilibrada entre inovação técnica e conforto burguês. Equipado com um motor de 6 cilindros e 2.0 a 2.6 litros, dependendo da versão, o carro entregava entre 55 e 70 cv de potência, permitindo velocidades superiores a 120 km/h, números respeitáveis para a época. A transmissão manual de 4 velocidades e o chassi robusto, combinado a uma suspensão bem ajustada, ofereciam condução estável e silenciosa - uma característica amplamente elogiada pela imprensa francesa da década de 1930.
Mas o EMY 6 não se destacava apenas pela mecânica. Seu design era tipicamente francês, com linhas longas e fluidas, capô pontiagudo, faróis independentes e uma grade frontal vertical ornamentada com o emblema da marca. O interior refletia um padrão de conforto refinado, com bancos amplos, revestimentos de tecido nobre e instrumentos bem-dispostos no painel. A Mathis oferecia várias configurações de carroceria, incluindo berline (sedan fechado), cabriolet e coupé de ville, muitas delas produzidas por encarroçadores independentes, o que reforçava o caráter semiartesanal da marca.
O EMY 6 também incorporava soluções técnicas interessantes para seu tempo. Um de seus diferenciais era o uso de freios hidráulicos nas quatro rodas, quando muitos concorrentes ainda utilizavam sistemas mecânicos. Além disso, o carro trazia um sistema elétrico moderno de 12 volts e algumas versões contavam com amortecedores ajustáveis, uma raridade em veículos de produção daquela categoria.
Apesar de seu nível técnico e de sua elegância, o EMY 6 chegou ao mercado em um momento difícil. A França, como grande parte da Europa, ainda enfrentava os efeitos da Grande Depressão, e a demanda por automóveis médios e grandes estava em queda. Para complicar, o avanço da Citroën com o Traction Avant - lançado em 1934 e com tração dianteira revolucionária - rapidamente eclipsou carros de concepção mais tradicional como o EMY 6.
Mesmo assim, o Mathis EMY 6 foi bem recebido por sua confiabilidade e qualidade de construção, mantendo-se em produção até 1936. Nesse período, o modelo serviu também como base para versões mais sofisticadas, como o EMY 8 (com motor de 8 cilindros), que buscava atender clientes de luxo. No entanto, o investimento elevado em novas linhas de produção e a queda nas vendas levaram Émile Mathis a buscar uma solução: a aliança com a Ford, que daria origem à Matford, em 1934.
Assim, o EMY 6 acabou se tornando o último grande automóvel puramente Mathis antes da fusão com a Ford. Um símbolo da transição entre o ideal artesanal e a produção industrial, e também o testemunho da persistência de um homem que tentou manter viva sua visão de um automóvel francês refinado e tecnicamente avançado.
O nome ‘EMY’ foi inspirado em uma abreviação fonética do próprio nome do fundador, Émile Mathis - ‘É.M.Y.’ -, uma assinatura pessoal que aparecia em vários de seus carros nos anos 1930. O EMY 6 era considerado, dentro da empresa, ‘o carro do próprio Mathis’, por representar o equilíbrio perfeito entre sua filosofia de leveza, eficiência e conforto.