MATRA RANCHO: AQUELE QUE PODE SER CONSIDERADO O AVÔ DOS SUVS MODERNOS

Muitos fabricantes ostentam-se como sendo inovadores, mas a empresa francesa Matra contenta-se em se autodenominar “estufa de soluções originais”. E já mostrou isso com modelos como o Matra Murena.
No entanto, talvez a ideia mais brilhante de todas tenha sido o Matra Rancho, um veículo polivalente realmente diferente que surgiu em meados dos anos 70. Na realidade, a ideia surgiu do próprio mercado, já que a direção da Matra havia percebido o crescente interesse do público pelos veículos todo-terreno.
Naquela época, tratava-se de um segmento que era representado principalmente por modelos 4x4 muito capazes, mas também caros, como os Land Rover e Range Rover ou, pelo contrário, por carros engenhosos, mas muito básicos, como o Citroën Méhari. O que se necessitava era algo intermediário e versátil, mas também accessível.
O desejo de conter os custos de desenvolvimento e produção fez com que a empresa francesa optasse por um modelo de duas rodas motrizes, fabricado partindo de uma base pré-existente. A escolha recaiu sobre um modelo da compatriota Simca, com a qual a Matra já levava vários anos colaborando, o 1100 em versão pick-up, que reunia as características adequadas para uma transformação não muito custosa.
Sobre esse chassi, devidamente reforçado e alongado, foi montada uma carroceria alta e espaçosa projetada por Antonis Volanis (autor do Simca Bagheera) e fabricada em material plástico, naquela época uma especialidade da Matra que já o havia utilizado para outros modelos. A estrutura e muitas partes da carroceria e a mecânica continuavam sendo as do 1100, com exceção do motor, substituído pelo mais recente e potente 1.5 do 1308 GT.
Lançado no Salão de Genebra de 1977, o Matra Rancho tinha características decididamente singulares: contava com 4.32 metros de comprimento, mas com apenas duas portas, escolha sempre devida à estrutura do modelo básico, se caracterizava pelo generoso envidraçamento da área traseira, a tampa traseira dividida em duas partes, com o vidro traseiro de abertura para cima e uma escotilha inferior.
Por sua parte, os lugares traseiros podiam se tornar uma cama sendo rebatidos, o que o convertia em um veículo polivalente, que também podia ser utilizado para acampar.
O motor, com a potência ligeiramente reduzida em relação à versão montada no Simca GT (de 85 para 80 cv), era acoplado a uma transmissão de 4 velocidades, com relações curtas para aproveitar melhor o torque. Isso, junto com a altura livre do solo, a suspensão independente com barras de torção e os pneus específicos, faziam com que o Rancho pudesse se movimentar com certa facilidade fora do asfalto.
Para aqueles que quisessem tirar o máximo dessa versão, podiam optar pela configuração Grand Raid, que incluía uma roda de estepe no teto, faróis adicionais e um guincho elétrico. Além disso, existia a possibilidade de equipar um diferencial autoblocante.
Em relação aos números, o Rancho foi fabricado até 1984, alcançando mais de 55.000 unidades vendidas, inicialmente com a marca Matra-Simca e a partir de meados de 1979 com a marca Talbot-Matra.
Para a empresa foi o melhor êxito comercial registrado até aquele momento, embora a recepção não tenha sido uniforme: muito apreciado na França, mas em outros mercados, entre eles o italiano e o espanhol, teve muito menos sucesso.
Os poucos exemplares que podem ser vistos circulando pela Europa são autênticas raridades e zelosamente conservados por seus proprietários. Atualmente é bastante difícil encontrar alguma unidade à venda. As poucas que estiveram disponíveis ultimamente, em perfeito estado de conservação, rondavam os 5.000 euros, para quem vive na Europa e esteja interessado.
Apesar de não ter tido um herdeiro direto, o Rancho foi o espelho no qual outros modelos se inspiraram, como por exemplo, o Land Rover Discovery, cuja estreia remonta a 1989.