MELLING WILDCAT 2008: O RUGIDO BRITÂNICO QUE DESAFIOU OS SUPERCARROS
O Melling Wildcat de 2008 é um daqueles esportivos pouco conhecidos fora dos círculos mais apaixonados, mas que carregam uma história curiosa - e um espírito britânico inconfundível, misturando ousadia, potência e o sonho de um engenheiro visionário.
No mundo dos esportivos artesanais, há criações que nascem não de grandes corporações, mas da pura paixão de engenheiros que se recusam a aceitar limites. O Melling Wildcat, revelado em 2008, é um desses casos raros: um supercarro britânico concebido para rivalizar com Ferrari, Lamborghini e Aston Martin, mas com uma alma independente e um coração americano de aço pulsante.
O homem por trás da fera
O projeto nasceu das mãos e da mente de Al Melling, um engenheiro e projetista de motores que, durante décadas, esteve envolvido com o automobilismo de alto desempenho. Melling era conhecido por seu trabalho com motores de competição - incluindo colaborações com TVR, Norton Motorcycles e Formula 1.
Mas ele sonhava em algo mais: criar seu próprio supercarro britânico, capaz de unir potência bruta, estilo clássico e um preço acessível o bastante para atrair entusiastas que buscavam algo diferente das marcas tradicionais. Assim surgiu o Wildcat, um nome que refletia perfeitamente seu temperamento selvagem e indomável.
Design à moda antiga, com alma moderna
Visualmente, o Melling Wildcat parecia uma síntese entre o passado e o futuro. Seu design lembrava um cruzamento entre o TVR Tuscan e o Jaguar XKR, com curvas musculosas, faróis alongados e uma dianteira agressiva que parecia pronta para atacar o asfalto.
A carroceria era inteiramente construída em fibra de vidro leve, montada sobre um chassi tubular desenvolvido pelo próprio Melling - uma configuração que privilegiava rigidez e baixo peso. O interior, embora simples, trazia acabamento artesanal, com instrumentos analógicos e uma posição de condução puramente esportiva.
Mas o que realmente fazia o Wildcat se destacar estava escondido debaixo do capô.
Coração americano, alma britânica
No lugar dos motores importados da Europa, Melling optou por um V8 americano - uma escolha estratégica e emocional. O Wildcat era movido por um V8 de 6.0 litros da General Motors, o mesmo bloco usado no Chevrolet Corvette, modificado pela equipe de Melling para alcançar níveis ainda mais altos de desempenho.
Em sua configuração mais extrema, o Wildcat entregava cerca de 600 cv e era capaz de acelerar de 0 a 100 km/h em menos de 4 segundos, com velocidade máxima declarada acima dos 320 km/h.
A transmissão manual de 6 velocidades completava a experiência purista: nada de automatização, apenas o controle direto entre o condutor e a máquina.
Um sonho entre o artesanal e o impossível
O Wildcat foi apresentado oficialmente em 2008, com planos ambiciosos de produção em pequena escala - cerca de 150 unidades por ano, fabricadas artesanalmente em Rochdale, na Inglaterra. Melling planejava vender o carro a um preço significativamente menor do que os rivais italianos, oferecendo desempenho similar por cerca de 75.000 libras esterlinas.
Infelizmente, como tantas outras iniciativas independentes, o projeto enfrentou dificuldades financeiras e logísticas. A crise econômica global de 2008-2009 esfriou o mercado de supercarros e impediu o lançamento em larga escala. Poucas unidades foram realmente produzidas, e o Wildcat acabou se tornando uma peça de coleção quase lendária entre entusiastas.
Ainda assim, o carro cumpriu seu propósito: mostrar que a Inglaterra ainda tinha espaço para engenheiros sonhadores, dispostos a desafiar gigantes da indústria com criatividade e paixão.
Legado e raridade
Hoje, o Melling Wildcat é uma curiosidade valiosa no universo dos supercarros britânicos. Pouquíssimos exemplares ainda rodam, a maioria preservada por colecionadores que reconhecem o valor histórico de um automóvel que quase se tornou o sucessor espiritual dos TVR - com quem compartilhava a filosofia do “máximo prazer ao volante, mínima intervenção eletrônica”.
O Wildcat foi originalmente planejado para servir de base a uma versão de competição que participaria de eventos como Le Mans e GT Series. Melling chegou a construir protótipos de pista com carroceria modificada e aerodinâmica mais agressiva, mas o projeto acabou arquivado antes de ser homologado. Mesmo assim, esses protótipos são hoje peças quase míticas - lembranças do rugido de um felino britânico que ousou sonhar alto.