O CHARME DO PANHARD ET LEVASSOR X19 VANVOOREN TOURER: UM SÍMBOLO DE LUXO E INOVAÇÃO
O Panhard et Levassor Type X19 Vanvooren Tourer de 1912 é um marco na história automotiva, representando a excelência da engenharia francesa e o requinte estético da era da Belle Époque. Produzido pela Panhard et Levassor, o mais antigo fabricante de automóveis do mundo, fundado em 1889 por René Panhard e Émile Levassor, este veículo encapsula a transição da indústria automotiva de carruagens movidas a cavalos para automóveis sofisticados, combinando inovação técnica com design artesanal.
No início do século XX, a Panhard et Levassor era um dos líderes mundiais na fabricação de automóveis, embora, em 1912, tivesse sido superado por concorrentes como Peugeot e Renault em volume de produção. Com uma produção de 1.959 veículos naquele ano, a marca ocupava a sexta posição no mercado francês, mas mantinha sua reputação de qualidade superior, posicionando-se como uma opção premium para uma clientela exigente. O Type X19, lançado no Salão de Paris de 1912, foi introduzido como um modelo de entrada na gama da Panhard et Levassor, substituindo a 8 CV de 2 cilindros, mas ainda assim incorporava avanços técnicos notáveis para a época.
O Panhard et Levassor Type X19 era equipado com um motor de 4 cilindros monobloco de 2.155 cm³ (70 mm de diâmetro e 140 mm de curso), produzindo 10 cv fiscais, equivalente a cerca de 22 cv. Este motor, conhecido como SU4D, era uma evolução significativa, com cilindros fundidos em um único bloco, o que proporcionava maior robustez e uma estética mais limpa em comparação aos motores de cilindros separados da época. O motor contava com válvulas laterais, comandadas por um único eixo comando de válvulas acionado por corrente silenciosa, e era refrigerado por um sistema de água com bomba centrífuga e radiador bem dimensionado.
A transmissão do X19 era composta por uma caixa de 4 velocidades, com a quarta marcha em tomada direta, e um sistema de embreagem de disco de fibra funcionando em banho de óleo, garantindo suavidade e progressividade. A potência era transmitida às rodas traseiras por uma junta universal elástica (flector), uma inovação que substituía os tradicionais sistemas de transmissão por correntes, mais comuns na época. O chassi, feito de aço estampado, pesava cerca de 700 kg (sem pneus) e tinha uma distância entre os eixos de 2.792 mm, com uma largura de pista de 1.385 mm, proporcionando estabilidade e espaço para carrocerias variadas.
Design e Carroceria Vanvooren Tourer
O Type X19 Vanvooren Tourer se destacava pela sua carroceria aberta, projetada pela renomada casa de carrocerias francesa Vanvooren, que começou a construir carruagens na década de 1890 e passou a produzir carrocerias automotivas no início do século XX. A carroceria Tourer, um estilo aberto e elegante, era ideal para passeios recreativos, uma prática comum entre a elite da Belle Époque. Com acabamentos sofisticados, como pintura verde, rodas de madeira na mesma cor, capota de lona clara com arcos de madeira e faróis de acetileno Ducellier, o veículo exibia um visual que combinava funcionalidade com estética requintada.
A carroceria Vanvooren para o X19 era notável por sua construção leve e aerodinâmica, com linhas fluidas que contrastavam com os designs mais angulosos da época. A ausência de portas em algumas versões, como no caso do famoso Skiff de Labourdette, inspirava-se em barcos, mas o Tourer da Vanvooren oferecia maior praticidade com acesso mais convencional, mantendo o charme náutico. O interior, com assentos de couro preto e volante de madeira, era um convite ao luxo e ao prazer de dirigir.
Impacto e Legado
O Type X19 foi um sucesso comercial para a Panhard et Levassor, com um total de 3.020 unidades produzidas entre 1912 e 1921, sendo 1913 o ano de maior produção, com 1.055 unidades. Sua popularidade se devia à combinação de preço acessível (7.500 francos para o chassi nu) e tecnologia avançada, tornando-o uma referência no segmento de 10 cv. Durante a Primeira Guerra Mundial, a produção caiu drasticamente, mas o modelo recuperou força em 1919, continuando a ser produzido até 1921.
A carroceria Vanvooren Tourer, embora menos famosa que a icônica Skiff-Torpedo de Labourdette, representava o auge da personalização automotiva da época. Cada veículo era praticamente uma obra de arte, construído sob medida para atender aos desejos de clientes abastados. O X19 Vanvooren Tourer também se beneficiava da reputação da Panhard et Levassor como pioneira em inovações, como a adoção de motores monobloco e sistemas de embreagem mais modernos, que influenciaram o desenvolvimento da indústria automotiva.
O Type X19 foi exibido no Salão de Paris de 1912, onde sua calandre em forma de quebra-vento se tornou uma característica distintiva da marca. Além disso, a colaboração com encarroçadores renomados como Vanvooren e Labourdette destacou a importância da personalização na era pré-industrial do automóvel, quando os chassis eram vendidos separadamente e os clientes escolhiam carrocerias sob medida. O X19 também foi adaptado para uso utilitário, com versões de chassi para veículos comerciais, demonstrando sua versatilidade.
Um exemplo notável do legado do X19 é a reconstrução de uma carroceria Skiff-Torpedo pela Louwman Collection, na Holanda, com a consultoria do próprio Jean-Henri Labourdette, que, na década de 1970, ajudou a recriar a carroceria de madeira de mogno com quase 500 rebites de latão, fiel ao design original de 1912. Embora essa reconstrução tenha sido baseada em uma carroceria Labourdette, ela reforça o impacto estilístico do X19 como plataforma para designs inovadores.
O Panhard et Levassor Type X19 Vanvooren Tourer de 1912 é mais do que um automóvel; é um testemunho do savoir-faire francês e da transição da indústria automotiva para uma nova era de sofisticação e desempenho. Com sua engenharia avançada, design elegante e a exclusividade de uma carroceria Vanvooren, o X19 permanece como um ícone da Belle Époque automotiva, celebrando a união entre tecnologia e arte. Hoje, os poucos exemplares sobreviventes são cobiçados por colecionadores, representando uma era em que os automóveis eram símbolos de status, inovação e aventura.