PORSCHE 944: UM CLÁSSICO RELATIVAMENTE MODERNO
Os entusiastas dos veículos clássicos sempre costumam olhar para aqueles modelos mais antigos e que, portanto, têm um maior valor histórico. No entanto, existem outros automóveis que apesar de sua antiguidade, seguem circulando pelas estradas e podemos vê-los de vez em quando. Costumam ser carros com mais de 20 anos, mas que não superam os 30. O Porsche 944 é um desses automóveis.
Eles se tornarão carros clássicos algum dia? Isso é uma fonte de controvérsia. Em princípio, têm todas as credenciais para poder fazê-lo e vamos descobrir os motivos pelos quais pensamos que o Porsche 944 pode vir a ser um ‘clássico moderno’.
Vamos começar repassando sua história. O CEO da Porsche, Peter W. Schutz, assumiu o cargo em 1981, e desde então teve que defender, constantemente, o 944 contra os entusiastas do 911, como por exemplo, em uma entrevista encontrada no ‘The Big Porsche Book’. “Não é um problema que a Porsche tenha o 911 com um motor montado na parte traseira, por um lado, e veículos com um motor refrigerado a água na parte deblatera, por outro?”. Resposta: “Não compreendo essa pergunta. É como acusar o dono de um restaurante de oferecer ave, peixe e carne ao mesmo tempo”.
E também: “Um entusiasta do 911 delira com seu veículo, e o entusiasta do 944 com o seu. Assim é como deve ser, porque seria uma bobagem construir dois carros diferentes, que no final provocassem as mesmas emoções”. Uma coisa estava clara para Schutz: o 944 estava injetando dinheiro no caixa da Porsche. E também deixou claro a seus empregados: “Se não conseguirmos que a série de 4 cilindros decole e seja um sucesso, as coisas ficarão muito, muito ruins aqui”.
A ideia do Porsche 944 surgiu por volta de 1977. Nessa época, o 928 com motor V8 estreava como possível sucessor do 911, e o 924 com motor de 4 cilindros, com 125 cv e genética VW/Audi, já estava há dois anos no mercado. A Porsche viu seu futuro na chamada tecnologia transaxle (motor na parte dianteira, transmissão na parte traseira). E o 944 deveria cobrir esse ponto intermediário entre o 924 e o 928.
O próprio Ferry Porsche não era o único que preferia o motor de 5 cilindros da Audi associado ao 924, mas este não chegou até 1976 e, portanto, foi muito tarde. A VW/Audi prometeu 100.000 motores de 4 cilindros EA 831 para o 924, mas no final foram construídos 150.000. Além disso, alguns clientes queriam mais potência, sem ter que optar diretamente pelo muito mais caro 928.
Na época, a Porsche fez experiências com o motor de 5 cilindros da Audi e inclusive o PRV Europe V6 da Peugeot-Renault-Volvo. Mas a situação financeira não era a mais promissora, sobretudo porque o desenvolvimento do 928 custou muito dinheiro. E também não quiseram um terceiro desenvolvimento de motor interno. Assim, o motor do 944 se baseou em uma bancada de cilindros do 928. Os dados principais eram: 2.5 litros de cilindrada e 163 cv de potência, mais tarde com catalizador e 160 cv. Em 1988, chegou um 2.7 litros com 165 cv, enquanto que a última versão esportiva do 944 foi o S2 com motor 3.0 e 211 cv.
Aqueles que queriam ainda mais potência, puderam optar pelas versões turbo com até 250 cv. Os fãs dos conversíveis também tiveram sua recompensa com o 944. Embora os designers fossem tornando o 944 cada vez mais elegante e distintivo ao longo dos anos, seu aspecto foi criticado quando fez sua estreia em 1981.
O 944 se parecia muito com o 924, especialmente ao 924 Carrera GT. Mas a Porsche também teve que vigiar os gastos, e as peças comuns e a produção conjunta com o 924 em Neckarsulm ajudaram nesse sentido. Foi em 1991 que os últimos 944 saíram da linha de produção de Zuffenhausen.
Não há quase nada a criticar sobre o desempenho do 944, que mede 4.20 metros de comprimento. Inclusive a versão básica acelerava de 0 a 100 km/h em 8.4 segundos e atingia uma velocidade máxima de 220 km/h. A versão turbo, por sua parte, exibia uma aceleração de 0 a 100 km/h em 5.9 segundos e 260 km/h. Mas foi precisamente o ‘944 básico’ o que seguiu a tradição do antigo Porsche 912: 4 cilindros, aspecto austero e significativamente mais barato que um 911.
O sucesso não demorou a chegar. No primeiro ano de produção, os concessionários já haviam recebido mais de 30.000 pedidos. E isso apesar dos preços bastante elevados. No momento do lançamento, o modelo básico do 944 custava 38.900 marcos alemanes (DM) com transmissão manual, 40.400 DM com transmissão automática, 61.900 DM no último ano de produção e 64.500 DM com transmissão automática.
Foram fabricados um total de 163.302 exemplares do Porsche 944, e em 1991 o 968 marcou o final do capítulo dos ‘transaxles’. Mas essa é outra história. Atualmente, os 944 bem conservados são cotados na Europa entre 13.500 e 36.000 euros. Mas é bom tomar cuidado, porque quando se trata de peças de reposição, custos de reparação e manutenção, o 944 é um Porsche ‘de verdade’.