PROJETO ‘COLORADO’: EM BUSCA DA FORMA IDEAL PARA O PORSCHE CAYENNE

Com a decisão de desenvolver um ‘veículo polivalente esportivo’, a Porsche apresentou um grande desafio ao seu Departamento de Design e ao seu Diretor na época, Harm Lagaay.
Era a primeira vez da história da marca de Zuffenhausen que, em vez de um esportivo de duas portas, era requerido um esboço técnico para um SUV. Tratava-se, de certo modo, o oposto do desenho de um esportivo: um carro grande, de teto alto, com quatro portas, espaço para cinco pessoas e toda sua bagagem. Além disso, o Cayenne necessitava uma distância do solo muito maior que a de um esportivo clássico, já que se esperava também que estivesse entre os melhores ao sair da estrada. Internamente, o projeto Cayenne era conhecido com a letra E de Enduro: o primeiro foi o E1 e o atual, o E3.
“É claro, não era nada fácil expressar a identidade da marca Porsche em um carro que não tinha absolutamente nada em comum com os modelos existentes fabricados por nossa empresa”, comentou Lagaay uma vez terminado o trabalho. Foi dedicado um ano inteiro apenas aos faróis, um dos elementos que expressavam a identidade da marca. Havia que incorporar as luzes baixas, as altas, os intermitentes e, ao mesmo tempo, conservar as linhas claras da carroceria do Cayenne.
Ainda hoje, qualquer aficionado pode reconhecer a cara do Porsche 911 da geração 996 na frente do primeiro Cayenne. Essa impressão se vê reforçada pelo que se denomina topografia da seção dianteira. O ponto mais alto dos para-lamas e os faróis estão acima do nível do capô. Trata-se de um traço distintivo para um Porsche, porque esse contorno constitui uma clara referência visual ao emblemático 911. No entanto, no Cayenne foi muito mais difícil conseguir esse aspecto devido ao seu grande motor V8 debaixo do capô.
O produto Porsche se converteu em uma marca
Outra característica do capô ao estilo do 911 é o notável estreitamento em sua borda frontal. Os designers também queriam adotá-lo para o Cayenne, mas os engenheiros sugeriram inicialmente um capô quadrado. Isso facilitaria o acesso ao filtro de ar e aos faróis. Os designers prevaleceram nesse ponto, mas também trabalharam com a equipe de engenharia em áreas não visíveis para que esses acessos não fossem um problema.
Como integrante do projeto de desenvolvimento denominado internamente ‘Colorado’, Michael Mauer também ficou satisfeito que a Porsche estivesse disposta a dar essa importância ao projeto. Em 2004 ele sucedeu Harm Lagaay como Diretor de Design: “Para mim, o Cayenne responde a uma questão fundamental. Além do conceito de veículo utilizado para complementar o 911 e o Boxster, o terceiro Porsche converteu esse produto em uma marca. E seu design dotou o carro, cujas proporções o distanciavam de um esportivo o máximo possível, de uma identidade Porsche”.
Os pronunciados ombros na parte traseira do Cayenne E1, em cujo design teve um papel fundamental Ferdinand Alexander Porsche, as superfícies lisas da carroceria e a ausência da clássica grade do radiador entre os faróis continuam sendo traços distintivos atualmente. Além disso, estas características típicas da Porsche também reduziram o efeito visual das entradas de ar dianteiras, comparativamente grandes, pois um motor montado na parte dianteira necessita de ar para a combustão e a refrigeração. E os clientes da Porsche já estavam acostumados às entradas de ar dianteiras dos carros esportivos. Além disso, neste caso também são necessárias para esfriar os freios.
As portas foram o maior desafio do projeto
Mauer descreve o perfil como o maior desafio de design. O Cayenne foi criado junto com o Volkswagen Touareg, de modo que o para-brisa e as quatro portas de ambos são idênticos. É fácil subestimar até que ponto as portas definem a lateral de um carro. Atrás da porta traseira temos talvez um metro e apenas um pouco mais na parte dianteira, de modo que não há espaço para fazer muito”, destaca Mauer, que trabalhou pela primeira vez no SUV da Porsche na remodelação do E1, em 2007.
“Com o E1 II demos a todo o carro mais nitidez visual e definição”, lembra. No entanto, o problema das portas continuava ali, junto com a dificuldade de projetar uma parte traseira descendente, que caísse em diagonal como em um carro esportivo. Na Porsche, isso se conhece como ‘flyline’. No entanto, se as portas não podem ser modificadas, sobra pouco espaço na parte posterior para criar essa linha que o cliente reconheça como algo característico. As opções que restavam para resolver isso eram um design mais inclinado dos vidros laterais rígidos das portas traseiras e adicionar um spoiler para prolongar a linha do teto.
Compromissos no interior
Em geral, mesmo da perspectiva atual, o primeiro Cayenne, com suas formas nítidas e sua ênfase nos elementos característicos da Porsche, é um membro coerente da linha. No entanto, o habitáculo do E1 é claramente influenciado pela Volkswagen. “O interior dificilmente pode negar seu parentesco com o Touareg”, reconhece Markus Auerbach, Diretor de Design Interior da Porsche. No entanto, não falta o design habitual da marca com os cinco relógios na instrumentação, embora o conta-giros não esteja situado no centro, mas à esquerda.
Para obter o layout da Porsche, teria sido necessário desenvolver um novo quadro de instrumentos, um investimento não previsto para a primeira geração do Cayenne. Apesar de tudo, a Porsche pôde incluir uma série de elementos característicos: seu próprio volante de três raios, as alças no console central, que destacavam o magnífico desempenho off-road do SUV, e a localização para a chave de ignição no mesmo lugar que em todos os Porsche: à esquerda do volante.