RENAULT 5 MAXI TURBO: O FAMOSO ‘BUNDA GORDA’

Esta é a história de um dos carros mais famosos do Grupo B de rallys. Não por seu histórico esportivo, já que não foi um dos mais bem-sucedidos na categoria, mas pela evolução da engenharia para criar um carro que era baseado no Renault 5 de rua, mas que foi potenciado até os 350 cv, foi mudado o lugar do seu motor e acrescentado um descomunal kit de carroceria. Hoje repassamos a história do Renault 5 Maxi Turbo.
Para conhecer a história do Maxi Turbo é preciso voltar a 1976, quando a marca francesa decide colocar em marcha o projeto que culminaria com a criação do Renault 5 Turbo, depois que o Alpine A110 de competição encerrou sua vida nas corridas. Com os anos, o R5 Turbo passaria por diferentes fases e conheceria diversas versões que teriam no 5 Maxi Turbo de 1984 sua expressão máxima.
Antes de conhecer todos os detalhes do R5 Maxi Turbo, é importante conhecer a árvore genealógica do modelo, já que a versão Maxi é o resultado de uma contínua evolução que passou por diferentes versões do 5 Turbo antes de acabar naquela que foi a versão mais potente e radical do modelo. E para isso temos que voltar até a segunda metade da década de 70, quando começou o programa de desenvolvimento do Renault 5 Turbo, o ‘Bunda Gorda’, como era conhecido popularmente.
Ele era baseado no Renault 5 original, mas havia recebido tantas mudanças, fruto de um completo programa de desenvolvimento, que se parecia mais a um fisiculturista com esteroides que com um pequeno e ágil R5. No entanto, conservava grande parte do seu DNA, combinado com uma mecânica muito mais potente que havia migrado do capô dianteiro para uma nova posição atrás dos bancos dianteiros, no centro do chassi.
O motor também havia melhorado, convertendo-se em uma unidade de 1.4 litros sobrealimentada através de um turbo Garrett T3 que, segundo a Renault, lhe permitia entregar até 160 cv de potência, com injeção Bosch K Jetronic, uma transmissão manual de cinco velocidades e tração traseira. Além disso, a balança fixava seu peso nos 970 kg, o que lhe permitia um enorme desempenho.
Sua apresentação aconteceu em janeiro de 1980 e mostrava uma parte dianteira do Renault 5 Alpine, a direção do Renault 5 Copa, a suspensão traseira do Alpine A310 Gr 4 e a transmissão do R30 TX. Por sua vez, o motor havia girado para sua nova localização central longitudinal e isto requeria novas soluções para a refrigeração. Os engenheiros da Renault então optaram por equipar o 5 Turbo com um novo kit de carroceria mais largo, especialmente na parte traseira (daí seu apelido de ‘Bunda Gorda’), onde foram integradas entradas de ar laterais para esfriar diretamente o motor. Esta configuração seria a base para o Renault 5 Maxi Turbo.
O Renault 5 Turbo não só havia sido criado como o modelo mais representativo da linha, como também uma primeira tentativa de potencializar a carteira de produtos da empresa, um objetivo que a Renault alcançou recorrendo ao turbo. A empresa queria participar no Grupo 4 do Campeonato Mundial de Rallys, o que requeria 400 unidades de rua para homologar a versão de competição.
A estreia oficial do Renault 5 Turbo Gr 4 foi no Rally de Montecarlo de 1981, corrida que o pequeno francês conquistou com Jean Ragnotti ao volante. A vitória seguinte demoraria até o Rally da Córsega de 1982, também com Ragnotti no comando, e, um ano mais tarde, nasceria a versão Turbo 2 do modelo, mais potente e rápida. O modelo pouco a pouco se radicalizava na medida em que se via superado pelas eficazes máquinas de tração total do Grupo B, como os bem-sucedidos Audi quattro.
Esta nova versão foi batizada como ‘Tour de Corse’ em homenagem à última vitória da primeira versão na Córsega um ano antes. Mas essa versão era muito mais focada nas rápidas pistas asfaltadas que nos trechos de neve ou terra, onde o Renault era claramente superado por seus oponentes de tração total, assim, o R5 Turbo 2 continuou sem conquistar títulos no Mundial de Rallys.
Em 1984, com 17 vitórias no Campeonato da França de Rallys, (5 das quais com Ragnotti ao volante), a Renault só havia conseguido vencer duas vezes no Campeonato Mundial de Rallys. O Grupo B estava em seu pleno apogeu, com carros que eram cada vez mais potentes e rápidos, e onde a marca francesa estava passando quase despercebida por sua ‘seca’ em relação a títulos e vitórias.
Naquele ano o Renault 5 Turbo foi levado ainda mais ao extremo e foi criada uma terceira versão como a aposta definitiva da Renault para conquistar o famoso Grupo B. Partindo da base do R5 Turbo 2 ‘Tour de Corse’, o motor elevou sua capacidade até os 1.5 litros graças aos novos cilindros, pistões forjados e virabrequim reforçado. Foi instalado um novo sistema de injeção mecânica Bosch com controle eletrônico e o turbo foi substituído por um Garrett T4/T3 com intercooler ar/água.
O resultado destas modificações permitiu elevar a potência do novo motor desenvolvido pela Renault Sport até os 350 cv a 6.500 rpm, com um torque que chegava até os 420 Nm. Estas impressionantes cifras estavam respaldadas por um peso ainda mais leve, de somente 905 kg (65 kg a menos que o R5 Turbo original), o que dava ao Renault 5 Maxi Turbo uma relação peso-potência de 2.58 kg/cv.
No entanto, a Renault continuava apostando por uma configuração de tração traseira, o que até a data havia demonstrado que não estava oferecendo os melhores resultados no Grupo B, dominados pelos carros de tração total (de fato, o último carro de tração traseira que venceu no Grupo B foi o Lancia 037 em 1983). O motor era gerido através de uma transmissão semiautomática de 5 velocidades de magnésio.
Na temporada de 1984 foram montadas 13 unidades, uma delas como protótipo, e um ano depois outros 7 exemplares, o que permitia ao Renault 5 Maxi Turbo cumprir com as exigências de construir 20 unidades para sua homologação.
Como caberia esperar, o R5 Maxi Turbo também não conquistou nenhum campeonato do mundo. A única vitória que registrou foi no Rally de Córsega de 1985, novamente com Jean Ragnotti e Jean-Marc Andrié no comando.