UM MAGNÍFICO TOURER: A SAGA DO AC ACEDES-MAGNA DE 1929

No coração de Londres, no final dos anos 1920, as ruas vibravam com o pulsar de uma era de ouro automotiva. Foi nesse cenário que a AC Cars, um dos mais antigos fabricantes de automóveis do Reino Unido, revelou uma joia rara: o AC Acedes-Magna Tourer de 1929. Esta não era apenas uma máquina; era um símbolo de ambição, inovação e do espírito indomável de uma empresa que desafiava as adversidades.
A história do Acedes-Magna começa com os irmãos Weller, visionários que fundaram a AC Cars em 1901. Com o apoio financeiro de John Portwine, um açougueiro local, eles sonhavam em construir um carro de turismo de 20 cv, mas foram persuadidos a criar algo mais acessível. Assim nasceu o ‘Auto-Carrier’, um triciclo de entrega que conquistou o mercado e lançou as bases para a reputação da AC.
Após a Primeira Guerra Mundial, John Weller, um engenheiro brilhante, desenvolveu um motor de 6 cilindros com comando de válvulas no cabeçote (OHC), uma obra-prima que rivalizava com os melhores designs de W.O. Bentley. Esse motor, introduzido em 1919, tornou-se a alma dos carros AC pelas próximas quatro décadas.
Em 1927, Selwyn Edge, um empresário audacioso, adquiriu a AC Cars por 135.000 libras esterlinas e rebatizou-a como AC (Acedes) Ltd. Sob sua liderança, a empresa alcançou feitos notáveis, como o recorde de resistência de 10 dias em Montlhéry, liderado por Victor Bruce e sua esposa Mildred, ao volante de um AC Six. Mas foi em 1929 que a AC lançou o Acedes-Magna Tourer, um carro que combinava elegância, potência e um toque de rebeldia. Equipado com o lendário motor de 6 cilindros e 2.0 litros, produzindo cerca de 65 cv, o Magna era um tourer rápido e esportivo, projetado para competir com ícones como a Bentley 3-Litre. Sua carroceria moderna, com capô polido de alumínio e detalhes em vermelho escarlate, exalava sofisticação e esportividade.
Um exemplar notável do Acedes-Magna, chassis 15733, conta uma história de resiliência e paixão. Originalmente vendido pela famosa concessionária londrina F.B. Goodchild, Ltd., este carro foi adquirido por John Moir no Reino Unido, ostentando as cores de corrida da AC: alumínio polido com para-lamas marrons. Em 2002, o restaurador David Steinman, de Waitsfield, Vermont, transformou-o em uma obra-prima, repintando-o em vermelho escarlate, mantendo o capô de alumínio brilhante. O interior, com couro tan e painel de madeira envernizada com instrumentos niquelados, evocava o glamour da era. Este Magna brilhou em 2003 no Pebble Beach Concours d’Elegance, conquistando o prestigiado Lord Montague Award como o carro britânico mais significativo, além de um prêmio de classe. Anos depois, em 2019, após uma segunda restauração pela Automotive Restorations Inc., venceu o Speed and Style Award no Greenwich Concours d’Elegance.
Porém, a história do Acedes-Magna também reflete os desafios enfrentados pela AC Cars. Em 1929, a crise econômica global atingiu a empresa, forçando-a a entrar em liquidação voluntária. Seus ativos foram vendidos aos irmãos Hurlock, que inicialmente planejavam usar a fábrica como armazém. A produção de carros foi pausada, e o futuro da AC parecia incerto. No entanto, a paixão de William Hurlock por um único Magna produzido em 1930 reacendeu a chama, levando à retomada da produção em 1932 com novos chassis fornecidos pela Standard.
O AC Acedes-Magna Tourer de 1929 é mais do que um carro; é um testemunho do espírito pioneiro da AC Cars, que sobreviveu a guerras, crises e mudanças de propriedade para se tornar uma lenda. Com sua suspensão de molas semi-elípticas, freios a tambor mecânicos e uma carroceria que combinava funcionalidade com elegância, o Magna era perfeito tanto para tours de longa distância quanto para exibições em concursos de elegância. Ele capturava a essência de uma era em que dirigir era uma aventura, e cada curva da estrada prometia uma nova história.
Hoje, o Acedes-Magna Tourer permanece como um ícone raro e cobiçado, um lembrete de que, mesmo nas adversidades, a engenhosidade e a paixão podem criar algo eterno. Para os entusiastas de carros clássicos, possuir um Magna é como segurar um pedaço da história automotiva britânica - uma história de ousadia, inovação e um amor inabalável pela estrada aberta.