VOLKSWAGEN TOUAREG FINAL EDITION: O ADEUS ÉPICO AO ICÔNICO SUV ALEMÃO
Em um movimento que ecoa como o crepúsculo de uma era dourada para a indústria automotiva, a Volkswagen anunciou nesta semana o lançamento da Touareg Final Edition 2026, uma série especial que serve como epílogo definitivo para a terceira e última geração do seu SUV de luxo. Produzida até março de 2026, essa edição limitada não é apenas um adeus aos motores a combustão interna, mas uma homenagem aos mais de 1.2 milhão de unidades vendidas ao longo de 23 anos de uma história marcada por inovação, ousadia e uma pitada de loucura visionária. Com preços a partir de 75.025 euros na Europa, a Final Edition transforma o Touareg em uma relíquia sobre rodas, pronto para rodar pelas estradas - ou trilhas - pela última vez antes da transição inevitável para a era elétrica.
A Touareg Final Edition chega como um pacote disponível em todas as linhas de acabamento do modelo atual, desde a versão base até a esportiva R-Line e a híbrida R, sem alterar drasticamente a essência mecânica que consagrou o SUV. Sob o capô, o coração continua sendo o robusto V6 3.0 TDI de 281 cv e 600 Nm de torque, acoplado à tração integral 4Motion e à transmissão automática de 8 velocidades - uma combinação que equilibra performance off-road com o conforto de um jato particular em rodovias asfaltadas. As novidades são sutis, mas carregadas de simbolismo: badges ‘FINAL EDITION’ gravados a laser nas molduras das portas traseiras, bordados no couro da alavanca de câmbio e iluminados nas soleiras e no painel, além de rodas de liga leve pretas de 21 polegadas, trilhos de teto e molduras de janela em preto fosco, e uma nova tonalidade de azul escuro exclusiva para a carroceria. No interior, o couro Nappa perfurado, o sistema de infotainment Curved Display com telas curvas de 15 polegadas e a iluminação ambiente multicolorida elevam o luxo a um patamar que faz o Touareg se sentir como o embaixador premium da Volkswagen, capaz de rivalizar com os gigantes BMW X5 e Mercedes-Benz GLE sem piscar.
Mas por trás desses toques finais de elegância, a Final Edition carrega o peso de uma despedida coletiva. A produção do Touareg com motor a combustão encerra-se em 2026 na fábrica de Bratislava, na Eslováquia, abrindo caminho para o que a Volkswagen descreve como o ‘fim da geração atual’. Rumores insistentes apontam para um sucessor 100% elétrico, batizado de ID. Touareg, previsto para 2029 e construído sobre a nova plataforma SSP (Scalable Systems Platform), que une as bases MEB (de elétricos acessíveis) e PPE (de premium como o Porsche Macan elétrico). Essa transição não é mero capricho ecológico: reflete a reestruturação global da VW, que busca simplificar sua gama e priorizar veículos eletrificados em meio a metas de emissões cada vez mais rigorosas na Europa. Para colecionadores e entusiastas, no entanto, a Final Edition representa a última chance de possuir um pedaço da alma analógica do Touareg - aquele ronco grave do diesel ou o sussurro refinado do híbrido plug-in, algo que os bits e bytes de um EV, por mais avançados, ainda não replicam.
Para entender o impacto dessa despedida, é essencial voltar no tempo e revisitar a saga do Touareg, um modelo que não apenas definiu a Volkswagen moderna, mas também salvou uma rival histórica. Lançado em 2002, o Touareg surgiu como o primeiro SUV da marca alemã, batizado em homenagem aos nômades tuaregues do Saara - povo conhecido por sua resiliência no deserto, espelhando as credenciais off-road do veículo. Mas sua gênese foi ainda mais dramática: sob o comando visionário de Ferdinand Piëch, então CEO do Grupo Volkswagen e neto do lendário Ferdinand Porsche, o projeto nasceu de uma aliança improvável com a Porsche, à beira da falência nos anos 1990. O então CEO da Porsche, Wendelin Wiedeking, precisava desesperadamente de um SUV para diversificar a linha esportiva da marca, mas os custos de desenvolvimento eram proibitivos. Negociações com a Mercedes-Benz fracassaram, e foi Piëch quem viu a oportunidade: uma joint-venture que criaria a plataforma MLB (posteriormente evoluída para MLB Evo), compartilhada entre o Touareg, o Porsche Cayenne e o Audi Q7. O resultado? O Touareg não só resgatou financeiramente a Porsche - que vendeu mais de 900 mil Cayennes desde então -, como elevou a Volkswagen ao panteão premium, ao lado do sedan Phaeton, outro sonho ambicioso de Piëch que, infelizmente, naufragou comercialmente.
A primeira geração (2002-2010) foi um verdadeiro laboratório de excessos: equipada com opções de motores que iam de V6 a V8, passando pelo lendário V10 TDI turbodiesel (herdado do Phaeton) e até um W12 de 6.0 litros em edições limitadas, o Touareg vendia mais de 471 mil unidades e provava sua versatilidade com suspensão pneumática ajustável, diferenciais bloqueáveis e capacidade de reboque de até 3.5 toneladas. Era o SUV que escalava dunas no deserto ou cruzava os Alpes com a mesma elegância, acumulando prêmios como o ‘SUV do Ano’ em diversos mercados. A segunda geração (2010-2018), com 483 mil exemplares, refinou o conceito, introduzindo híbridos e tecnologias como o sistema de visão noturna, enquanto a terceira (2018-atual), com 265 mil unidades até agora, apostou em conectividade e eficiência, incluindo versões plug-in com mais de 50 km de autonomia elétrica.
No Brasil, aonde o Touareg chegou em 2004 como sinônimo de status, ele marcou presença por duas gerações até 2019, quando foi aposentado localmente devido a impostos de importação e a ascensão de rivais mais acessíveis. Globalmente, porém, ele pavimentou o caminho para uma constelação de SUVs premium no Grupo VW: o Bentley Bentayga, o Lamborghini Urus e até o Audi Q8 compartilham sua essência estrutural, tornando o Touareg o ‘irmão invisível’ de feras milionárias.
Com a Final Edition, a Volkswagen não apenas fecha um capítulo, mas acende uma faísca de nostalgia por uma época em que os SUVs eram sinônimo de engenharia bruta e ambição desmedida. Enquanto o mundo acelera para o elétrico, o Touareg nos lembra que, às vezes, o melhor adeus é rodar um pouco mais devagar, apreciando a jornada. Pedidos abertos até março de 2026 - quem sabe, o último Touareg que você dirige não se torne parte da história?