A Adamastor é uma fabricante portuguesa de supercarros fundada em 2010 no Porto por Ricardo Quintas e Nuno Faria, com o objetivo de unir a paixão por automóveis ao desenvolvimento tecnológico e à colaboração entre academia e indústria. Inspirada no gigante mitológico dos Lusíadas de Camões, que simboliza desafios superados, a marca reflete a ambição de criar veículos de alta performance com identidade portuguesa, destacando-se em um mercado dominado por gigantes como Ferrari, Lamborghini e Aston Martin.
Origens e Desenvolvimento
O projeto começou em 2012 como uma iniciativa para desenvolver um carro de competição, envolvendo parcerias com universidades portuguesas nas áreas de engenharia, design e marketing. Inicialmente, a Adamastor focava-se em criar um veículo para corridas, com grupos de estudantes gerindo projetos sob mentoria de empresários. Em 2019, a empresa reposicionou-se como fabricante de supercarros de baixo volume, mirando o mercado de luxo com veículos exclusivos e personalizáveis. A sede em Perafita, Matosinhos, ocupa 2.225 m², com potencial de expansão para 5.000 m², e conta com uma equipe de 14 profissionais, apoiada por parcerias com fornecedores nacionais e internacionais, incluindo a Ford Performance.
O Primeiro Modelo: P003RL
O primeiro protótipo, o Adamastor P003RL (Prototype 003 Road Legal), foi apresentado em 2019. Trata-se de um esportivo de dois lugares, com motor central traseiro e tração traseira, projetado para track days, mas homologado para estrada. Equipado com um motor V6 3.5 litros de origem Toyota/Lexus, entregava 273 cv e 350 Nm, ou, opcionalmente, um motor Ford EcoBoost 2.3 litros turbo de 335 cv e 475 Nm. Com um chassi tubular de aço conforme normas da FIA e peso de cerca de 850 kg, o P003RL acelerava de 0 a 100 km/h em menos de 4 segundos e atingia 255 km/h (velocidade limitada eletronicamente). O modelo destacava-se pela personalização, permitindo ao cliente configurar estética e hardware, com 80% dos componentes de origem nacional. O preço variava entre 80 mil e 100 mil euros, dependendo das especificações.
O Supercarro Furia
Em 14 de maio de 2024, a Adamastor revelou o Furia, o primeiro supercarro português, no Centro de Congressos da Alfândega do Porto. Resultado de um investimento de 17 milhões de euros, o Furia é um marco de exclusividade, com produção limitada a 60 unidades para a versão de estrada e uma variante de competição sem limite de produção. Equipado com um motor V6 biturbo 3.5 litros da Ford Performance (o mesmo do Ford GT), o Furia entrega mais de 650 cv e 570 Nm de torque, acelerando de 0 a 100 km/h em 3.5 segundos e atingindo uma velocidade máxima superior a 300 km/h. O chassi monocoque de fibra de carbono garante um peso de apenas 1.100 kg na versão de pista, com a versão de estrada ligeiramente mais pesada.
A aerodinâmica é o pilar central do Furia, projetado com simulações CFD (dinâmica de fluidos computacional) para superar o downforce de monolugares de Fórmula 2 e 3 de 2021, gerando até 1.000 kg de força descendente a 250 km/h na versão de estrada e 1.800 kg na de competição, graças ao efeito Venturi. O design, liderado pela funcionalidade aerodinâmica, resulta em linhas agressivas e minimalistas, sem grandes aerofólios, mas com eficiência comparável a carros de Fórmula 1 em termos de coeficiente de arrasto.
Filosofia e Mercado
A Adamastor adota uma abordagem artesanal, com produção em assembly bay, onde uma equipe especializada constrói cada veículo, promovendo exclusividade e conexão emocional com o cliente. A marca não investe em showrooms, vendendo diretamente na fábrica, onde o cliente personaliza seu supercarro. A manutenção também é única: a Adamastor desloca-se ao cliente para reparos ou manutenções, que podem ser feitos in loco ou na fábrica. O preço base do Furia é de 1.6 milhões de euros (sem impostos), chegando a cerca de 2 milhões com taxas, posicionando-o como concorrente de modelos como o Aston Martin Valkyrie, mas com uma proposta ‘keep it simple’ e custos operacionais mais baixos.
A Adamastor mira três tipos de clientes: colecionadores de carros exclusivos, entusiastas de alta performance e condutores que usam o carro em pista ocasionalmente. Inicialmente, a marca foca-se na Europa e nos Emirados Árabes Unidos, com planos de expansão para os EUA, América do Sul, Oceania e Ásia após homologações. A produção começa em 2025, com duas unidades de estrada e duas de competição previstas para entrega, visando uma capacidade de 25 carros por ano a partir de 2026.
Legado e Futuro
A Adamastor representa um marco na indústria automotiva portuguesa, um país sem tradição na produção de supercarros. Com mais de 90% do valor do projeto de origem nacional, a marca combina engenharia de ponta, parcerias estratégicas (como com a Ford) e um foco em personalização e desempenho. Ricardo Quintas, CEO, enfatiza a superação de desafios, refletida no nome inspirado no mito do Cabo das Tormentas. A empresa já trabalha em um segundo modelo, mantendo a visão de séries limitadas e inovação contínua.
A Adamastor não só coloca Portugal no mapa dos supercarros, mas também resgata a herança de projetos automotivos portugueses como o Felcom, Edfor e Alba, que, apesar de menos conhecidos, marcaram a história do país no automobilismo. Com o Furia, a marca prova que é possível competir com gigantes globais, oferecendo um produto que une paixão, tecnologia e exclusividade.