
Lama e asfalto. Árvores e edifícios. Poluição e ar puro. Aclives e declives. Assim são compostos os ‘habitats’ naturais da marca JEEP, inventora da categoria de automóveis Off Road (conhecidos como Fora de Estrada), sendo sinônimo de durabilidade, força e potência. Tanto em terrenos naturais como em urbanos, seus automóveis dão um verdadeiro show de maleabilidade, resistência e desempenho, atendendo as necessidades dos mais exigentes motoristas e aventureiros.
Sua saga começou no final da década de 1930, quando as hostilidades começaram a esquentar na Europa Ocidental. No verão de 1940, o exército americano tinha a necessidade de um veículo de uso geral que substituísse as tradicionais motos com ‘side cars’ usadas por mensageiros, que deveria ser leve, manobrável, robusto, confiável e extremamente ágil, com capacidade de superar terrenos difíceis e obstáculos, e espaço para transportar homens e armamentos.
O pedido feito para 135 fabricantes estipulava um prazo de entrega de um protótipo deste veículo em somente 49 dias e um total de 75 dias para a entrega de 70 veículos. As especificações originais do governo eram as seguintes: veículo com tração 4x4 em aço estampado de fácil fabricação; capacidade para três passageiros e uma metralhadora (modelo .30); peso máximo de 600 quilos (depois alterado para 625 quilos); carga útil de no mínimo 300 quilos; potência do motor de no mínimo 40 cv; velocidade máxima de no mínimo 80 km/h; entre outras características.
Foi então que apenas três empresas aceitaram o desafio. A Ford, a Bantam e a Willys-Overland, trabalharam intensamente até que cada uma tivesse produzido 1.500 modelos para testes de campo. Em última análise, foi o modelo da Willys-Overland, chamado de QUAD (batizado assim por causa do sistema 4x4 que usava), que ganhou a aprovação em primeira instância (especialmente pelo baixo preço de apenas US$ 738,74), com umas poucas melhorias adaptadas dos modelos apresentados pela Ford e Bantam.
Assim, depois de muita polêmica, o JEEP começou sua jornada oficialmente no dia 23 de julho de 1941, quando a Willys-Overland, situada na cidade de Toledo, estado americano de Ohio, e fundada no início de 1900, conseguiu um contrato com o exército americano através de um pedido inicial de 16.000 veículos para produzir o Willys MB durante a Segunda Guerra Mundial. O primeiro modelo possuía grade dianteira feita com barras de aço soldadas, que mais pareciam uma grelha. Por isso, esses modelos ficaram conhecidos como “Slatt Grill” e foram fabricados 25.808 veículos, restando aproximadamente 200 unidades nos dias atuais. Não demorou muito para o veículo conquistar as tropas no campo de batalha. O famoso correspondente Ernie Pyle disse: “Eu não acho que poderíamos continuar na guerra sem o JEEP. Ele faz tudo. É como um cão fiel, tão forte como uma mula, e ágil como um cabrito. Ele carrega duas vezes mais carga do que foi projetado e vai embora”.
O veículo era usado por todos os militares americanos e grandes números foram também enviados às Forças Aliadas do Canadá, Reino Unido, Austrália e Nova Zelândia. O JEEP era tão versátil que novos usos para o veículo e suas várias partes estavam sempre sendo encontrados. O veículo serviu em todos os teatros da Segunda Guerra Mundial, atuando como suporte de metralhadoras, veículo de reconhecimento, carro de resgate, veículo da frente de batalha, transportador de munição, distribuidor de arame farpado e até táxi. Os veículos carregavam os feridos em segurança e transportavam canhões anti-tanques 37 mm para as áreas de tiro.
O testemunho deste sucesso pode ser atestado pelo fato que durante o período da guerra, mais de 600.000 veículos foram produzidos. Ou pela declaração do general George C. Marshall, Chefe de Estado Maior do Exército Americano durante o conflito, que considerou o JEEP como “a maior contribuição da América à guerra moderna”. O robusto e simplório JEEP 4x4 se tornou o melhor amigo do soldado - perdendo apenas para o seu rifle. Um MB foi até condecorado com uma medalha e mandado de volta para casa.
Com o fim do conflito, a empresa começou a desenvolver uma versão para aplicação civil, que pudesse ser utilizado por famílias e principalmente na area da agricultura, nos árduos trabalhos em fazendas. Foi então que em agosto de 1945 a primeira versão civil, batizada de CJ2A (abreviação de Civilian Jeep) foi lançada no mercado americano ao preço de US$ 1.090. Os anúncios de lançamento proclamavam: ‘Uma usina de força sobre rodas’. A versão civil possuía uma porta traseira, estepe montado lateralmente, faróis maiores, limpador de para-brisas automático, tampa do tanque de combustível externa, assentos mais confortáveis, melhores amortecedores e outros detalhes não disponíveis em seus antecessores militares. O CJ-2A foi comercializado pela Willys-Overland, como ‘O versátil cavalo de trabalho da fazenda’. Podia fazer o trabalho de dois cavalos de tiro pesados, operando a uma velocidade de quatro milhas por hora, dez horas por dia, sem superaquecimento do motor.
Em 1949, foi oficialmente lançado o modelo CJ3A, similar ao CJ2A, mas com uma transmissão e caixa de transferência mais robusta, além de um para-brisas inteiriço com ventilação inferior e limpadores duplos montados na parte inferior. Os proprietários da Willys-Overland já diziam, naquela época, “que o JEEP do futuro estará em constante evolução e continuará a evoluir à medida que sejam encontradas novas utilizações para ele”. Isso vem sendo comprovado, ao longo dos anos até hoje. Em abril de 1953, a Willys-Overland foi vendida para a Kaiser Motors por US$ 60 milhões. Dois anos mais tarde, a nova proprietária introduziu no mercado o modelo CJ5, que possui o design de JEEP mais conhecido por todos e seria produzido até a década de 1980. Melhorias constantes no motor, eixos, transmissões e conforto de assento, fizeram do CJ5 um veículo ideal para o público em geral.
Em 1970, depois de duas décadas de crescimento e expansão internacional, a JEEP foi comprada pela American Motors Corporation (AMC). A primeira decisão foi dividir e separar a produção civil e militar, o que provou ser uma decisão acertada, pois, os veículos 4x4 se tornaram mais populares no mercado civil. Foi em 1974, que a marca utilizou pela primeira vez o nome “Cherokee” para o lançamento de uma versão esportiva, de duas portas, do JEEP Wagoneer, que e vinha com bancos esportivos, volante esportivo e detalhes ousados destinados aos usuários mais jovens e mais aventureiros. Em 1978, a produção total estava em 600 veículos por dia, mais de três vezes o que tinha sido alcançado no começo da década.
A JEEP começou a escrever uma nova parte em sua história em 1984 com o lançamento do veículo utilitário esportivo CHEROKEE CHIEF. Pronto, estava criada uma lenda no setor automobilístico e um ícone da marca. Somente em 1987 a montadora foi adquirida pela Chrysler Corporation, então comandada pelo lendário executivo Lee A. Iacocca. Desde então a JEEP tornou-se mais conhecida e respeitada dentro do segmento de veículos utilitários esportivos, muito em virtude da introdução de modelos como GRAND CHEROKEE e do jipinho WRANGLER, que nada mais é que uma espécie de ‘bisneto’ do venerável JEEP de 1941. Enquanto cada vez mais fabricantes acrescentam novos modelos SUVs à sua linha de produtos, a JEEP ainda se destaca como a única marca americana que está produzindo veículos esportivos com tração nas quatro rodas por mais de sete décadas.
A grave crise econômica que assolou o mundo em 2008 foi devastadora para a marca. Sua proprietária Chrysler, à beira da falência acabou sendo adquirida pelo grupo italiano Fiat e as vendas de seu principal veículo, o JEEP GRAND CHEROKEE, no mercado americano, que em 1999 atingiu mais de 300.000 unidades, despencaram para pouco mais de 50.000 veículos em 2009. Sob o comando dos italianos foi montado um verdadeiro plano de salvação e crescimento para a marca JEEP. Com isso, a linha de veículos foi completamente remodelada com os modelos ganhando atualizações e novas versões. A marca passou a investir em mercados promissores como Brasil e China. A JEEP também inaugurou novas fábricas, como por exemplo, no Brasil. Além disso, a marca apostou em um novo lançamento, o JEEP RENEGADE, um veículo utilitário esportivo compacto. O resultado de todo esse investimento pode ser visto em 2014, quando a marca vendeu mais de 1 milhão de veículos, um recorde em sua história, e se transformou em salvação para a Fiat.