![MAYBACH](/assets/uploads/images/stories/slide/8591a96bf7c857760b2c94150d16cfe8.png)
Os automóveis da Maybach sempre foram extremamente exclusivos e restritos, para poucos, poucos mesmos. Eles tinham o conforto de um hotel de luxo, aceleravam como um esportivo e eram capazes de fazer o Mercedes-Benz S Classe parecer o primo pobre. Utilizavam tecnologia de última geração, sendo equipados com bancos reclináveis, telas de TV, DVD, champanhe, entrada para conectar notebook, telefone, acabamento de madeira no painel, eram verdadeiros hotéis cinco estrelas sobre rodas.
Tudo começou quando Wilhelm Maybach conheceu Gottlieb Daimler em 1865. Juntos trabalharam na fábrica de motores Deutz, e mais tarde, em um projeto conjunto de um motor de 0,5 cv para carruagens. Em 1889 apresentavam um automóvel com motor de dois cilindros em ‘V’. No ano seguinte, Gottlieb fundava com outros sócios a Daimler Motoren Gesellschaft ou DMG (Companhia de Motores Daimler). Maybach foi nomeado engenheiro chefe. O trabalho conjunto deles resultou no primeiro motor automotivo de quatro cilindros do mundo em 1898.
Em 1900, um mês depois da morte de Daimler por problemas cardíacos, Emil Jellinek - representante Daimler em Nice, na França - pediu a Maybach e ao filho de Gottlieb, Paul, para desenhar um carro de alto desempenho para ser vendido aos milionários da Riviera francesa. Como a empresa local Panhard detinha os direitos sobre o nome Daimler na França, Jellinek sugeriu que usassem no carro o nome de sua filha, Mercedes. Com motor de quatro cilindros em linha e 5.9 litros, o Mercedes 35 HP desenvolvia a potência de 35 cv a 950 rpm e atingia 75 km/h. É uma pena que Maybach não tenha desfrutado o prestígio que o nome Mercedes conquistaria, pois adoeceu em 1903 e, após longa recuperação, deixou a empresa quatro anos mais tarde.
Passou então a projetar motores aeronáuticos, de início em parceria com a Zeppelin. Pouco depois, em 1909, ele e seu filho Karl, se associaram ao Conde Zeppelin com o objetivo de produzir motores para os dirigíveis dele. Fundaram então a Luftfahrzeug Motorenbau GmbH (Companhia de Motores de Avião Ltda) em Bissingen, renomeada três anos depois para Motorenbau Friedrichshafen. Em 1918, pai e filho assumiam o controle acionário da empresa e mudavam seu nome para Maybach Motorenbau GmbH. Mas, com a proibição de se fabricar aviões na Alemanha pelo Tratado de Versalhes, após a Primeira Guerra Mundial, a empresa teve que buscar alternativas. Inicialmente se dedicou à produção de motores para locomotivas e embarcações, porém Karl acreditava no mercado automobilístico. Em 1919 ficava pronto o W1, o primeiro protótipo baseado em um chassi Mercedes.
Um acordo fracassado com a Trompenburg, que fabricava na Holanda os automóveis esportivos Spyker, deu o empurrão que faltava: a MAYBACH produziu 1.000 motores de seis cilindros em linha, 5.7 litros e 70 cv - o projeto W2 - para fornecer à empresa holandesa, que acabou não comprando nenhum. Os alemães, assim, resolveram usá-los em carros de sua própria fabricação para não ficar no prejuízo. Karl então apresentou no Salão de Berlim de 1921 o Maybach W3. O modo de trabalho aprendido com o pai estava visível na técnica primorosa adotada no carro, destinado aos mais exigentes e abastados clientes - a começar pelas dimensões generosas, cerca de 5 metros de comprimento e 3,66 metros de distância entre-eixos. Como em outros modelos de luxo da época, a carroceria de cada unidade era fabricada especialmente conforme a preferência do comprador.
Em 1929 - ano da morte de Wilhelm aos 83 anos - Karl revelava o Maybach 12 DS, primeiro automóvel alemão de série com motor de 12 cilindros em ‘V’. Maior propulsor em um carro alemão na época, o V12 de 7.0 litros rendia 150 cv a 2.800 rpm com a classe esperada em sua categoria, como destacava o material de apresentação do carro: “Você pode sentir a suavidade com que esta impressionante potência é liberada, sem aspereza ou vibração”. Em 1930 lançou o modelo de maior sucesso da marca: MAYBACH DS7 ZEPPELIN, automóvel equipado com 12 cilindros, que foi escolhido justamente para induzir a ideia de que a mesma sofisticação e qualidade técnica utilizada nos motores para dirigíveis feitos pela MAYBACH era aplicada sobre seus carros. Apenas a título de comparação, um Zeppelin custava na época 50.000 Reichsmarks, o que equivalia ao preço de 33 automóveis OPEL P4, sendo, portanto, compreensível que somente 200 carros tenham sido vendidos ao longo de sua produção.
De 1921 até a Segunda Guerra Mundial, a MAYBACH produziu cerca de 2.300 carros, dos quais cerca de 150 ainda existem atualmente. A última versão produzida foi o MAYBACH SW 42, com motor de 6 cilindros e 4.2 litros, da qual foram produzidos 45 carros entre 1937 e 1941. Durante o conflito passou a produzir motores para embarcações e blindados (tanques Panther e Tiger). Após o término do conflito, não havendo na Alemanha mercado para seus carros luxuosos, a MAYBACH passou a produzir motores para empresas francesas, abandonando definitivamente a produção de automóveis.
O retorno da MAYBACH começou no final da década de 90, quando a Daimler se viu ameaçada pela BMW e pela VW que entravam no mercado de superluxo com a compra da Rolls-Royce e da Bentley respectivamente. Não sobrou nenhuma marca super luxuosa para a Daimler. A saída foi ressuscitar a MAYBACH (que entre as décadas de 20 e 30 era o automóvel preferido dos monarcas, aristocratas e artistas de cinema), comprada em 1960 pela então Daimler-Benz. A idéia era boa. Uma marca de alto luxo alemã de muito sucesso antes da Segunda Guerra Mundial, que tinha tudo para fazer muito sucesso no século 21, tempos em que os consumidores estavam seduzidos pela onda retro.
Então a Daimler apresentou um protótipo chamado Mercedes-Benz Maybach no Salão de Tokyo em 1997. Era uma versão ultra-sofisticada e luxuosa do modelo S Class, que ainda ostentava a estrela da Mercedes-Benz sobre o capô. “Mas os clientes não queriam outro Mercedes-Benz”, afirma o responsável pelo marketing do modelo, Karsten Hennig. E até nisso o exigente grupo foi atendido: para o novo carro, no lugar da estrela de três pontas, o sedan recebeu o duplo M, da Maybach Manufaktur.
Com a ótima impressão causada pelo protótipo, a Daimler resolveu colocá-lo em linha de produção para concorrer diretamente com os Rolls-Royces da BMW e os Bentleys da VW. O MAYBACH foi exibido pela primeira vez no Salão de Genebra, em março de 2002. Cheio de tecnologia e alto luxo, para quem estivesse disposto à pagar 360.000 euros, a marca resolveu fazer uma apresentação oficial inesquecível: o primeiro MAYBACH fabricado pela Daimler na Alemanha chegou ao porto New York dentro de um container de vidro, a bordo do transatlântico Queen Elizabeth 2. Içado a terra por um helicóptero, o automóvel foi escoltado pela polícia até Wall Street, onde foi apresentado a 350 jornalistas do mundo inteiro. A apresentação espalhafatosa era explicada pelos potenciais e virtuais compradores da marca: milionários com patrimônio acima de US$ 30 milhões. Produzidos com os mais refinados materiais manufaturados pelos mais bem preparados trabalhadores que se podiam encontrar, seus preços eram condizentes com a classe e sofisticação. O MAYBACH chegava ao mercado em duas versões: 57 e 62.
A diferença entre elas era basicamente no comprimento. A primeira media 5,730 mm e a segunda, 6.160 mm. Quem viajava no banco de trás do MAYBACH 62 contava com 1.570 mm de espaço para esticar as pernas, enquanto o ocupante do MAYBACH 57 tinha ‘apenas’ 1.130 mm (distância entre os bancos, dianteiro e traseiro, a partir dos encostos). O preço das duas versões também era diferente. A 57 era vendida por 360.000 euros, e a 62 por 420.000 euros. Seja qual fosse a escolha, o comprador teria um carro completo. O MAYBACH 62, entretanto, dispunha de itens exclusivos, como bancos traseiros reclináveis, de série. Eram dois bancos individuais de fazer inveja às poltronas da primeira classe dos aviões. Sete motores elétricos movimentavam o assento, o encosto e os apoios de cabeça, pernas e pés. Sete bolsas infláveis massageavam as costas dos ocupantes. E, opcionalmente, oito mini-ventiladores refrescavam os assentos, para evitar a transpiração.
Outro recurso opcional, apenas na versão 62, era o teto solar panorâmico com transparência eletricamente regulável. Com uma área de 75 x 75 centímetros na parte traseira da capota, o teto era formado por duas camadas de vidro, separadas por uma lâmina de cristal líquido com polímeros condutores. Essa lâmina era ligada a um gerador de tensão elétrica. Sob tensão, os polímeros se posicionavam de tal forma que permitiam a passagem quase total da luz para o interior do veículo. Quando o gerador estava desligado, os polímeros se desorganizavam, tornando o vidro opaco e desviando a luz em diferentes direções. A versão 62 também era a única que permitia a divisão da cabine, separando o motorista dos passageiros de trás. Com exceção desses itens, todos os demais eram encontrados nas duas versões, inclusive um conjunto de células, instalado na capota, que armazenava energia solar. Essa energia abastecia o sistema de refrigeração da cabine, sempre que o motor era desligado. Sua finalidade era manter a temperatura do ambiente, mesmo que o veículo estivesse estacionado.
O interior do MAYBACH era revestido de couro, madeira e detalhes cromados até o teto. No piso, nada de carpete. O MAYBACH era forrado de um veludo alto, capaz de fazer o pé naufragar. No encosto dos bancos dianteiros, duas telas de 9.5 polegadas (uma para cada passageiro de trás), comandadas por controle remoto e capazes de exibir nítidas imagens de TV e DVD, que em conjunto com o som Bose, sistema Dolby Surround, formavam um aconchegante ‘home theater’. São 21 alto-falantes alimentados por amplificadores que geram a potência de nada menos que 600 watts. Se com tudo isso o passageiro ainda quisesse tomar contato com o mundo real, poderia consultar três mostradores localizados no teto, no centro da cabine, com a velocidade do carro, a temperatura e as horas. Nas telas de tevê, era possível consultar também o sistema de navegação por satélite, entrar na internet e ler e enviar e-mails. A central de entretenimento ficava no console traseiro. Lá estavam localizados o DVD player, a disqueteira com seis CDs, dois telefones (um fixo no carro e outro celular) e um opcional básico: um compartimento refrigerado com compressor próprio. E claro, não faltavam dois copos para água e duas taças de champanhe, tudo de prata. Apesar da tecnologia, do luxo e da beleza de seus automóveis, desde seu lançamento a marca sofria com as vendas baixas. Por isso resolveu lançar, em 2009, o MAYBACH Zeppelin, uma versão especial que era baseada nos modelos 57 S ou no 62 S.